Abismos culturais e institucionais impossibilitam, no curto e médio prazo, a entrada do país no bloco, segundo ele. Martins destacou que a dificuldade não se limita à presidente, Maia Sandu, mas reflete um padrão mais amplo da região, também presente em países como a Ucrânia.
"A cultura política da Moldávia é um choque de realidade com a forma como a política é feita na União Europeia, como bloco", disse ele. “Muitos países podem não querer a expansão do bloco, porque a expansão do bloco [...] eles [cidadãos da UE] podem não estar muito dispostos a pagar mais impostos, ou ter mais parte da sua renda revertida para um país muito pobre que acabou de entrar na União Europeia. E também tem outros desafios institucionais, porque o Parlamento Europeu tem um número fixo de deputados".
Ele argumentou que a UE sempre teve uma grande divisão interna entre os membros, entre aumentar a quantidade de membros e aprofundar a integração entre os membros que já estão lá.
Além disso, a entrada da Moldávia no bloco tende a aprofundar a dependência econômica do país, segundo o mestre em ciências militares. Segundo ele, o país, com 2,4 milhões de habitantes, além de pequeno, fechou o ano de 2024 com um Produto Interno Bruto (PIB) estimado em apenas US$ 18,2 bilhões (cerca de R$ 100 bilhões).
"Entrando na União Europeia, ela já vai ser economicamente dependente da união do Ocidente. Na verdade, ela vai ser dependente de qualquer país, porque é um país muito pequeno. É um país muito pobre, com uma população muito pequena, não tem muitos recursos naturais. Agora, se esse projeto da União Europeia for concretizado, ela também, muito provavelmente, vai depender economicamente dos aportes da União Europeia”.
Antes do conflito ucraniano, a Moldávia já dependia 100% da energia vinda da Rússia. Com a possível adesão ao bloco europeu, a expectativa é de nova dependência — agora dos aportes do Ocidente.
Em 2024, as eleições presidenciais moldávias coincidiram com um referendo sobre a adesão do país à UE, que apoiou a presidente Maia Sandu, que tinha como uma das bandeiras associar-se à comunidade ocidental.
O analista pontuou que a atual presidente tem perdido capital político no decorrer do mandato e as notícias polêmicas sobre dificultar candidaturas da oposição para as eleições parlamentares deste ano podem piorar a situação, pois os diferentes partidos prejudicados podem se unir.
"Muitas vezes o eleitor pode fazer um voto que a gente chama de voto tático, voto estratégico, que é: 'Vou votar em quem eu acho que tem mais chance de ganhar, mesmo que eu não concorde 100% com ele'".