O presidente russo, Vladimir Putin, telefonou para seu homólogo brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva
na manhã deste sábado (9) para relatar ao chefe de Estado brasileiro como foi sua reunião com o enviado especial dos Estados Unidos, Steven Witkoff.
Segundo
divulgado pelo Itamaraty, conversa entre Lula e Putin também abordou a cooperação entre os países
no âmbito do BRICS, em um momento que o presidente estadunidense, Donald Trump,
mira o grupo. O telefonema também ocorre antes do encontro marcado entre Trump e Putin no Alasca, previsto para a
próxima sexta-feira (15).
Em entrevista à Sputnik Brasil, Valdir Bezerra, mestre em relações internacionais pela Universidade Estatal de São Petersburgo, escritor e analista político, frisa que a ligação é importante para demonstrar a união entre parceiros do BRICS em um momento de forte pressão investida por Washington contra o grupo.
O analista aponta que Putin considera importante deixar parceiros do BRICS a par das negociações, e lembra que justamente Lula e o presidente da China, Xi Jinping, estão engajados na busca por uma solução pacífica desde 2022.
Outro papel importante desempenhado pelo BRICS, diz Bezerra, foi deixar claro para o Ocidente que "o Sul Global não comprou o discurso ocidental a respeito da Ucrânia", o que acabou fortalecendo Moscou nas negociações e serviu como um fator de pressão e influência para que os Estados Unidos, agora, "estejam tentando chegar a um acordo com a Rússia".
Diante desse papel geopolítico que o grupo vem exercendo, e também por conta do movimento de desolarização do comércio internacional, Washington vem exercendo pressão contra países-membros do BRICS, como ao aplicar
grandes tarifas comerciais à China, Brasil e Índia, ressalta Bezerra.
O especialista lembrou também da visita do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, à Casa Branca em maio deste ano. Na ocasião, o Donald Trump tentou
desgastar a imagem do sul-africano ao questioná-lo, em frente a mídia, sobre supostas perseguições a fazendeiros brancos no país.
Diante disso, ele aponta ser um momento fundamental para que o grupo tenha "união" e "solidez" ao demonstrar que não deixará de lutar por suas pautas, como a necessidade da desdolarização e da criação de um mundo multipolar.
O analista enfatiza que o momento é favorável a Moscou nas negociações de paz do conflito ucraniano, uma vez que o líder norte-americano tem interesse em se criar uma imagem de "pacificador". Inclusive, durante sua campanha Trump firmava com frequência que encerraria o conflito ucraniano em 24 horas após eleito.
"Isso não aconteceu, existem ainda algumas questões a serem acertadas entre os principais lados envolvidos. E é isso justamente que o Trump vai tentar fazer, encontrar denominadores mínimos comuns com a Rússia para avançar nesse que é um dos seus principais desejos."
Nesse contexto, há um movimentos de encontro entre as propostas de Trump e os termos da Rússia, como a suspensão imediata das sanções contra Moscou e a não adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), algo que ele afirma já estar claro também para o ucraniano Vladimir Zelensky.