Os semicondutores são a base de inúmeras tecnologias atuais; se não, todas elas. Carros novos — elétricos ou à combustão —, painéis solares, equipamentos médicos e até eletrodomésticos: atualmente, quase tudo possui algum elemento semicondutor na concepção.
Você, por exemplo, está lendo esta matéria em um dispositivo móvel ou pela tela de um computador. Por trás deste espelho preto existem semicondutores transformando impulsos elétricos em uma projeção com letras e imagens.
Como de costume, quando o assunto é tecnologia, as empresas asiáticas se destacam, com maiores holofotes para a
Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), que tem como principais clientes gigantes da tecnologia, como
Apple, Nvidia e Intel.
O Brasil, por sua vez, tem forte atuação nas etapas de
design e encapsulamento — processo que reúne múltiplos semicondutores em um único conjunto eletrônico — de semicondutores. Entretanto, a parte com tecnologia mais avançada da operação, a
impressão de chips,
é feita somente fora do país.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o presidente do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), Augusto Gadelha, afirma que, para progredir na área, o Brasil precisa investir em educação e pesquisa a fim de progredir no setor. Segundo o mandatário do Ceitec, é preciso criar um ambiente propício para a expansão na tecnologia.
Gadelha acredita que há uma barreira histórica na área de semicondutores que o Brasil precisa superar: deixar para trás o estigma de país exportador de matéria-prima e se tornar um grande agregador de valor a produtos.
Um dos exemplos da sofisticação tecnológica necessária para a produção desses componentes é o refino do silício.
Segundo o presidente do Ceitec, para ser utilizado nos semicondutores, o silício é processado em grandes fornos até atingir o grau eletrônico. No Brasil, no entanto, esse processo fica limitado até o nível metalúrgico, menos puro. Gadelha ainda destaca que o processo de produção desse tipo de material exige esterilização, por exemplo, maior do que de um de centro cirúrgico.
"Para a produção de semicondutores, se utilizam salas limpas, extremamente limpas, que não têm uma quantidade mínima de poeira. Elas são mais limpas do que uma sala de cirurgia que você possa ter em um grande hospital."
O assunto soberania ganhou a mídia brasileira após o presidente dos
Estados Unidos,
Donald Trump, anunciar o tarifaço de 50% contra as exportações do país, alegando suposta perseguição judiciária contra
Jair Bolsonaro. O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva alegou que os Poderes do Brasil não sucumbiriam às pressões externas e passou a proclamar um
discurso contra a interferência estrangeira.
Caminhando em direção ao campo da tecnologia, a briga pelo desenvolvimento de semicondutores de alta qualidade também
envolve governos. Gigantes asiáticos do setor,
como China, Coreia do Sul e Japão, concedem grandes
subsídios a empresas do setor. Trump, por sua vez, quer exigir que companhias de tecnologia estrangeira
construam fábricas nos EUA para atuar no país com
menores taxas.
Em uma batalha com diferentes frentes, Gadelha reforça a importância de o Brasil controlar todo o processo de fabricação de semicondutores, o que não significa se isolar, em um setor conhecido pelo multinacionalismo dos processos.
"O Brasil pode não ser totalmente autossuficiente, mas tem que ter a capacidade, o know-how, de como fazer todo esse processo, porque aí sim ele tem certo grau de autonomia importante para nos dar esse sentimento de independência. […] Um país da dimensão e da importância do Brasil tem que almejar, mais cedo ou mais tarde, ter o controle de todos esses processos."
Para Gadelha, a
união com a Argentina e o Chile poderia ajudar o Brasil a desenvolver
uma cadeia de semicondutores sul-americana. Contudo, as divergências políticas se mostram um contratempo para o futuro.