Financiador destacado do
Partido Democrata, presente na restrita lista de figuras que doaram mais de
US$ 1 bilhão (R$ 5,4 bilhões) para a campanha derrotada da ex-vice-presidente Kamala Harris à Casa Branca, o bilionário George Soros voltou a ser acusado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de
apoiar protestos violentos no país juntamente com o filho Alex Soros — no ano passado, Alex chegou a comemorar publicamente a autorização de Biden
para a Ucrânia atacar o território russo com mísseis ATACMS.
Para Trump, a dupla deveria ser penalizada pela Lei de Organizações Corruptas e Influenciadas por Criminosos, conhecida como RICO, usada para punir facções criminosas.
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Não vamos permitir que esses lunáticos destruam a América ainda mais, sem nunca dar a ela a chance de RESPIRAR e ser LIVRE. Soros e seu grupo de psicopatas causaram grandes danos ao nosso país! Isso inclui seus amigos malucos da Costa Oeste", declarou nas redes sociais na última quarta-feira (27), em um posicionamento
diametralmente oposto ao de Biden, que chegou a conceder ao bilionário em seus últimos dias de mandato a
Medalha da Liberdade, uma das principais honrarias civis do país.
Soros também é financiador de organizações não governamentais (ONGs) como a Open Society, reconhecida pela Rússia como "indesejável" desde 2015 por representar uma ameaça à segurança.
O professor titular de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Williams Gonçalves explica à Sputnik Brasil que essas fundações são conhecidas por intervir em assuntos internos de países mundo afora sob o argumento de defender a democracia.
Conforme o internacionalista, ONGs como essa passaram a ter um importante papel na política internacional a partir dos anos 1990, inclusive com algumas tendo direito de assento na
Organização das Nações Unidas (ONU).
Enquanto Soros representa o setor norte-americano que defende o globalismo intervencionista, Trump
retornou ao poder na Casa Branca com um discurso totalmente contrário, em que culpa esse movimento pela "decadência dos Estados Unidos", pontua o especialista. Conforme Gonçalves, as entidades ligadas a Soros se colocam como
defensoras "dos princípios liberais".
"Isso pode ter um grande impacto em cada sociedade, porque, em abstrato, a defesa da democracia pode ser entendida como muito bem-vinda, mas, a depender do contexto, pode significar subversão […]. E, no caso de Trump, ele responsabiliza a globalização promovida pelos seus antecessores como responsável por arruinar o país. Então isso é visto por ele como um inimigo, e nocivo aos interesses norte-americanos, que corroeu o poder do país no mundo."
Além disso, Gonçalves afirma que o governo Trump
rompe com o que classificou de "consenso bipartidário", que unia democratas e republicanos no objetivo estratégico de manter os
Estados Unidos como potência hegemônica.
"Eles divergiam taticamente sobre a melhor maneira de perseguir essa estratégia, mas não discordavam que era a melhor. E o governo Biden seguiu essa orientação, em que colocava como extremamente importante o projeto hegemônico na Europa com o avanço da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], para isolar a Rússia."
E a Ucrânia — o apoio incondicional a Vladimir Zelensky foi defendido diversas vezes por Alex Soros — era, segundo o professor da UERJ, parte desse consenso para tentar isolar Moscou. Mas, com o retorno de Trump, tudo mudou.
"Os Estados Unidos concediam crédito à Ucrânia e a Ucrânia comprava armamento dos Estados Unidos; ativava a indústria armamentista e ficava devendo dinheiro. Então é esse negócio da guerra que o Zelensky trabalhou para manter denodadamente. E o Trump rompe com esse planejamento estratégico", frisa.
Em outra frente, o especialista considera que o atual embate norte-americano com a China é "puramente econômico", e não militar, como ocorreu no governo Biden, que por pouco não provocou uma guerra para defender Taiwan de Pequim.