Panorama internacional

Confisco de ativos russos manchará imagem da Europa frente a investidores, diz analista à Sputnik

Em entrevista à Sputnik, cientista político alerta que a medida pode minar a credibilidade da Europa como local seguro para armazenar fundos no Ocidente, e do euro como moeda de reserva.
Sputnik
A União Europeia (UE) se prepara para decidir sobre o uso de ativos russos congelados para conceder um empréstimo à Ucrânia, no lugar de usar recursos europeus para financiar Kiev.
A chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, afirmou recentemente que ainda não há consenso entre os países da UE sobre o tema. Porém uma reunião será feita nos próximos dias para definir a questão, conforme aponta Richard Sakwa, professor emérito de política da Universidade de Kent, no Reino Unido, em entrevista à Sputnik, à margem da 22ª reunião anual do Clube Valdai de Discussões Internacionais.
A maior parte dos ativos russos congelados do Banco Central da Rússia, aproximadamente 180 bilhões de euros (cerca de R$ 1,1 trilhão) está armazenada no Euroclear, provedor global de serviços financeiros com sede em Bruxelas, na Bélgica.
Segundo Sakwa, o plano europeu é fazer o que chamam de "empréstimos de reparação" à Ucrânia, classificados pelo especialista como uma "tentativa legal" de realizar "uma ação ilegal".

"Se esses ativos forem usados ​​da maneira sugerida, o que a Rússia fará? Essa é uma questão muito importante. Várias empresas, incluindo a British Petroleum [BP], algumas empresas italianas e também empresas francesas, continuam fazendo negócios na Rússia", lembra.

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A BP, por exemplo, ainda não conseguiu enviar de volta para o Ocidente cerca de US$ 25 bilhões (aproximadamente R$ 133 bilhões), hoje parados em contas bancárias russas.
"Se a Rússia confiscar esse dinheiro, eu diria que seria um grande erro. Eu sei que a Rússia precisa do dinheiro, mas meu conselho seria não fazer isso, porque essas empresas — estou pensando nas empresas italianas e francesas —, afinal, resistiram à política de sanções. Então, de certa forma, elas têm implicitamente tentado manter um nível de normalidade."
Segundo Sakwa, Moscou deveria apoiar essa relação de normalidade em vez de "adotar as políticas anormais das potências ocidentais que buscam sequestrar seus fundos". Ele acrescenta que a chance de confisco de ativos russos é real.

"Isso será decidido nos próximos dias. Não hoje. Há uma reunião na Dinamarca hoje, mas isso será decidido nos próximos dias."

Sakwa afirmou que há inúmeras discussões na Europa sobre as potenciais consequências negativas do uso de ativos russos e a resposta russa à medida. Porém ele acredita que os alertas de Moscou podem cair em ouvidos moucos na UE.
"Por muito tempo ninguém ouviu a Rússia, então por que começariam agora?", questiona.
Sakwa enfatiza que há possibilidade de o confisco de ativos russos minar a credibilidade da Europa e do Reino Unido — que não é parte da UE, mas tem em torno de 13 milhões de euros (cerca de R$ 69 milhões) em ativos russos congelados — frente a investidores estrangeiros, muitos deles do Sul Global.

"Esse é um grande risco, o que explica por que isso não foi feito antes. […] Foi por isso que eles [europeus] criaram esse esquema muito complicado. Mas certamente vai reduzir a credibilidade da Europa como um local seguro para manter fundos no Ocidente. Logo, vai minar a credibilidade do euro como moeda de reserva."

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