Do total, 1,5 mil unidades começaram a ser distribuídas imediatamente, com prioridade para São Paulo, estado que concentra a maior parte dos casos confirmados. As demais 1.000 ampolas permanecerão no estoque estratégico do governo federal, para uso emergencial.
De acordo com a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Mariângela Simão, o envio começou nesta quinta e segue até sexta-feira (10). Além de São Paulo, outros 11 estados com notificações suspeitas — entre eles Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul — também receberão o antídoto.
Segundo a secretária, o uso do fomepizol é considerado inédito no Brasil e o medicamento é classificado como raro no mundo. "A gente não tem experiência com esse produto, isso é um produto raro no mundo. Essa compra em tempo recorde foi algo nunca visto", disse.
Simão explicou que o tratamento com fomepizol demanda, em média, quatro ampolas por paciente, enquanto o uso de etanol — já disponível em todas as unidades federativas — exige cerca de 30 ampolas.
Simão destacou ainda que o Ministério ampliou o critério clínico para suspeitas de intoxicação. Antes, a conduta considerava ingestões nas últimas seis horas; agora, o protocolo inclui casos ocorridos até 72 horas após o consumo da bebida. "A conduta médica é uma decisão clínica, mas o Ministério da Saúde está trabalhando com as sociedades médicas para garantir a melhor orientação possível", explicou, citando entidades como a Sociedade Brasileira de Toxicologia e a de Medicina Intensiva.
O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Leandro Safatle, afirmou que a chegada do antídoto faz parte de uma estratégia mais ampla de reforço à vigilância sanitária. "A gente organizou toda a vigilância sanitária do país, estabelecendo protocolos e procedimentos de como atender e proceder diante desse tipo de situação", disse.
Ele ressaltou que mais de 5 mil agentes sanitários, policiais e fiscais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) passaram por capacitação para identificar garrafas e bebidas adulteradas.
Safatle afirmou ainda que a investigação sobre a origem das bebidas contaminadas segue em curso. "A gente está trabalhando muito num processo de identificação do que está acontecendo e avaliando o real impacto na sociedade brasileira", explicou.
Ele orientou que consumidores denunciem qualquer embalagem suspeita ou bebida sem procedência clara aos órgãos de vigilância sanitária locais.
Sobre a produção nacional do fomepizol, Mariângela informou que o tema será avaliado. "Nós vamos estar estudando de agora em diante, porque ele é considerado um medicamento órfão em muitos países e tem pouquíssimos produtores no mundo", afirmou.
O atual lote foi adquirido por meio de um acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e fabricado por uma empresa japonesa.
Safatle destacou que a importação foi feita em prazo recorde, em apenas seis dias, com envolvimento da Anvisa, da Opas e do Ministério da Saúde. "A Anvisa fez um edital para procurar produtores no mundo e conseguiu localizar uma empresa japonesa que trouxe o produto para o mercado brasileiro. Foi um trabalho bastante sério."
O Ministério da Saúde também confirmou que já iniciou o processo para comprar mais 5 mil unidades do antídoto, com validade de dois anos. "A gente quer que esse tipo de antídoto esteja disponível no SUS de agora em diante", reforçou Simão.
Enquanto isso, a produção nacional de etanol medicinal segue sendo ampliada. Safatle informou que uma fábrica brasileira, a Cristália, já se comprometeu a doar 5 mil frascos do produto ao governo. "A Anvisa soltou um edital na sexta-feira para liberar a produção em escala industrial de etanol e já temos fábricas no Brasil produzindo e doando frascos para abastecer o Sul", disse.
O Ministério reforçou que todo caso suspeito de intoxicação por metanol deve ser notificado imediatamente às secretarias estaduais de saúde. A partir da notificação, o antídoto — fomepizol ou etanol — é liberado de forma rápida para os centros de referência regionais.