"É uma retórica e uma estratégia, acima de tudo, muito perversa: declarar uma guerra às drogas para que isso sirva de pretexto e justificativa para uma intervenção mais ampla, tanto política quanto econômica. É uma forma de apropriação territorial. Hoje, no século XXI, essa criação de narrativas falsas chega às raias da vulgaridade e do desrespeito", afirmou ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil.
"Essa atitude também alimenta a extrema-direita e os ultraliberais na Colômbia, como se o governo Trump tivesse acendido uma chama de sobrevida. A extrema-direita global, fenômeno surgido no final da década de 2010 começa agora, nos anos 2020, a mostrar desgaste [...]. E agora, tenta se reanimar, reagrupar e se rearticular com essas notícias de ingerência dos Estados Unidos", resume.
Qual é a relação da Venezuela com os Estados Unidos?
"Vemos hoje muitas guerras de narrativas, blefes e recuos. Os EUA parecem buscar um casus belli com a Venezuela mas não conseguiram, então Trump direciona agora seus ataques ao governo colombiano e a Petro. Maduro reagiu recentemente com um discurso firme, defendendo a soberania dos povos e dos Estados latino-americanos. E isso é necessário, sobretudo porque a ONU não tem se mostrado capaz de mediar esse tipo de tensão", destaca.
A influência de Rubio nas decisões sobre a América Latina
"Trata-se de legitimar um discurso de defesa nacional, sustentado pela ideia de que o tráfico de drogas representa uma ameaça à segurança dos EUA e de que líderes políticos teriam controle sobre esse tráfico, tirando dele sua própria sobrevivência — inclusive política. Essa é uma narrativa que não surge de forma isolada: ela está ancorada em um projeto de intervenção e que também tem como alvo os recursos naturais, como o petróleo, as terras raras e o lítio. Tudo isso está em jogo", afirma.
Brasil é seguro em caso de guerra?
"Há deputados e senadores de extrema-direita praticamente implorando por operações militares dos Estados Unidos contra o Brasil, uma postura lesa pátria, crime previsto na Constituição de 1988. Essa instabilidade gerada pelos Estados Unidos alimenta insurgentes e uma extrema-direita que não faz oposição política ao governo, mas ao próprio Estado brasileiro", finaliza.