Uma equipe de astrônomos identificou um filamento colossal de galáxias que gira como um tornado cósmico em câmera lenta, estendendo-se por pelo menos 49 milhões de anos‑luz. Trata‑se do maior filamento rotativo já observado, uma estrutura que revela como a teia cósmica influencia a formação e o movimento das galáxias.
Segundo a física Lyla Jung, da Universidade de Oxford, o que torna o achado extraordinário é a combinação entre o alinhamento das galáxias e o movimento rotacional do próprio filamento. Ela compara o fenômeno a um brinquedo de xícaras giratórias: cada galáxia roda individualmente, mas toda a plataforma também gira, oferecendo pistas sobre como galáxias adquirem sua rotação.
A teia cósmica, formada por filamentos de matéria escura, funciona como a espinha dorsal do Universo, moldando a distribuição e o deslocamento das galáxias. Esses filamentos atuam como rodovias cósmicas, guiando o fluxo de matéria e revelando a estrutura de larga escala que sustenta o cosmos desde o Big Bang.
O filamento foi inicialmente detectado com o radiotelescópio sul-africano MEERKat, no âmbito do levantamento MIGHTEE. A cerca de 440 milhões de anos‑luz da Terra, os pesquisadores encontraram 14 galáxias alinhadas de forma incomum, distribuídas ao longo de uma estrutura extremamente fina e alongada, o que motivou uma investigação mais profunda.
Com dados adicionais do Sloan Digital Sky Survey e do instrumento DESI, a equipe identificou outras 283 galáxias na mesma região e alinhadas da mesma forma. A organização tão precisa sugeria a presença de um filamento de matéria escura, cuja detecção direta é notoriamente difícil.
A análise do desvio para o vermelho revelou que um lado do filamento se aproxima e o outro se afasta, indicando rotação. A velocidade estimada — cerca de 110 km/s — coincide com previsões da Teoria do Torque de Maré, segundo a qual irregularidades gravitacionais no Universo primordial conferiram momento angular aos filamentos em formação.
O filamento contém gás hidrogênio neutro e difuso, e as galáxias associadas são ricas em hidrogênio, sugerindo que essas estruturas podem fornecer combustível para a formação estelar. O alinhamento das galáxias reforça a hipótese de que os filamentos transferem momento angular para elas, ajudando a explicar a origem da rotação galáctica.