Sputnik: A Sérvia não se juntou às sanções antirrussas. Quanto tempo, tomando em consideração as pressões da União Europeia sobre Belgrado, o seu país será capaz de ficar fora da guerra de sanções?
Tomislav Nikolic: Sabe, não temos outro caminho. Não podemos, como se diz em um velho provérbio sérvio, "vender a fé por um jantar". Não podemos dar-nos ao luxo de destruir as relações com a Rússia, cumprindo ordens alheias. Porque eu não posso aceitar uma situação em que alguém, ao tornar-se membro de alguma organização, perca a identidade própria. E eu não posso compreender alguns dos países da UE que se opuseram ao South Stream só porque foi decidido assim em Bruxelas, por aqueles que não precisam dele.
Sputnik: Por aqueles que já têm o Nord Stream (Corrente do Norte).
Já sem falar da compensação pela honra perdida, algo que nunca repararíamos. Não podemos dizer para nós mesmos, olhando no espelho, fitando nos olhos de nossos filhos ou pais, que, alegadamente, é possível receber uma indemnização por trair um amigo ou trair aquele que, se não te pudesse defender, pelo menos não te agrediu nem uma só vez em toda a vida.
Em suma, nos oporíamos ao nosso próprio povo, se nos juntássemos às sanções. Diriam, talvez, que o povo pode mudar de sua visão de mundo?.. Bem, eu me lembro de três gerações da família Nikolic e nunca jamais ouvi dizerem ter outra postura. Os meus filhos e netos tampouco me ouviram dizer-lhes outra coisa. No povo sérvio, é assim, se passa de geração em geração.
Eis um ponto interessante: eu recebi um presente de Putin, é uma obra de arte que retrata a batalha perto da nossa cidade de Naísso. Sucedeu em julho de 1876, os sérvios lutaram contra os turcos, e o comandante em chefe do exército sérvio era o general russo Chernyaev. Os nossos laços já são inquebrantáveis.
Sputnik: A Sérvia assumiu a presidência da OSCE. Agora todos – a Rússia, a Ucrânia, a Europa toda – enfrentam problemas. Dependerá, em geral, a solução de um problema tão grave do país que exerce a presidência?
Tomislav Nikolic: O que está acontecendo na Ucrânia é uma tragédia. É um país que deverá obter a oportunidade de viver e trabalhar, escolher por vontade própria seu governo. Sem se afundar em uma situação tão complexa que se assemelha muito à desintegração da Iugoslávia.
Agora acontece que os nossos três amigos – a UE, a Ucrânia e a Rússia – estão em conflito. E nós não vamos escolher quem deles é mais amigo ou menos amigo nosso, nem escolher, Deus me livre, quem é o menor ou maior inimigo.
Sputnik: Seria a Sérvia capaz de conciliá-los, já que todos eles são seus amigos?
Tomislav Nikolic: Nós poderíamos, se nos permitirem fazê-lo, pois somos um país pequeno. Mas por acaso será permitido que um pequeno país, cujo povo sofreu tudo o que só se pode imaginar e, portanto, adquiriu experiência, se ocupe disso? Em qualquer dos casos, se não nos permitirem e até mesmo se o problema não for resolvido, acredito que não haverá insatisfeitos com a nossa presidência na OSCE.
Sputnik: De acordo com a Der Spiegel, a situação é pior agora do que na época da crise cubana. Como o senhor presidente avalia o conflito entre a Rússia e os Estados Unidos?
Sputnik: Muitas pessoas acreditam que o que acontece atualmente não é uma "guerra fria", mas real…
Tomislav Nikolic: Infelizmente, muitos países se encontram em estado de guerra, incluindo aquele no qual há um terceiro lado, ou seja, as forças internacionais que ajudam um dos lados. É óbvio que ninguém tem o direito de apoiar o terrorismo, onde quer que este erga a cabeça. Qualquer país, independentemente das nossas relações com ele, deve ser apoiado no combate ao terrorismo. Porque já não se pode mais justificar qualquer operação como o foi no caso do Iraque, apenas se referindo a supostas armas capazes de destruir o mundo.
Sputnik: As armas que não havia lá.
Tomislav Nikolic: Assim foi na Líbia e na Síria. As armas que não havia e que nunca haverá.