Presidente da Sérvia: "Nossos três amigos – UE, Ucrânia e Rússia – estão em conflito"

© Sputnik / Ilia Pitalev / Acessar o banco de imagensTomislav Nikolic
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O presidente da Sérvia, Tomislav Nikolic, relatou, em uma entrevista exclusiva à agência Sputnik, sobre a atitude de seu país em relação ao eventos na Ucrânia, às sanções antirrussas e às perspectivas da presidência sérvia na OSCE.

Sputnik: A Sérvia não se juntou às sanções antirrussas. Quanto tempo, tomando em consideração as pressões da União Europeia sobre Belgrado, o seu país será capaz de ficar fora da guerra de sanções?

Tomislav Nikolic: Sabe, não temos outro caminho. Não podemos, como se diz em um velho provérbio sérvio, "vender a fé por um jantar". Não podemos dar-nos ao luxo de destruir as relações com a Rússia, cumprindo ordens alheias. Porque eu não posso aceitar uma situação em que alguém, ao tornar-se membro de alguma organização, perca a identidade própria. E eu não posso compreender alguns dos países da UE que se opuseram ao South Stream só porque foi decidido assim em Bruxelas, por aqueles que não precisam dele.

Sputnik: Por aqueles que já têm o Nord Stream (Corrente do Norte).

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Tomislav Nikolic: Sim, têm e, além disso, insistiam em mais um gasoduto, por via das dúvidas. Por que razão guardam silêncio a França, Itália, Áustria, Hungria, Croácia, Eslovênia, Bulgária? Que vão receber em compensação? E que receberia a Sérvia como compensação pelo dinheiro perdido na sequência de sanções, se as impusesse à Rússia?

Já sem falar da compensação pela honra perdida, algo que nunca repararíamos. Não podemos dizer para nós mesmos, olhando no espelho, fitando nos olhos de nossos filhos ou pais, que, alegadamente, é possível receber uma indemnização por trair um amigo ou trair aquele que, se não te pudesse defender, pelo menos não te agrediu nem uma só vez em toda a vida.

Em suma, nos oporíamos ao nosso próprio povo, se nos juntássemos às sanções. Diriam, talvez, que o povo pode mudar de sua visão de mundo?.. Bem, eu me lembro de três gerações da família Nikolic e nunca jamais ouvi dizerem ter outra postura. Os meus filhos e netos tampouco me ouviram dizer-lhes outra coisa. No povo sérvio, é assim, se passa de geração em geração.

Eis um ponto interessante: eu recebi um presente de Putin, é uma obra de arte que retrata a batalha perto da nossa cidade de Naísso. Sucedeu em julho de 1876, os sérvios lutaram contra os turcos, e o comandante em chefe do exército sérvio era o general russo Chernyaev. Os nossos laços já são inquebrantáveis.

Sputnik: A Sérvia assumiu a presidência da OSCE. Agora todos – a Rússia, a Ucrânia, a Europa toda – enfrentam problemas. Dependerá, em geral, a solução de um problema tão grave do país que exerce a presidência?

Tomislav Nikolic: O que está acontecendo na Ucrânia é uma tragédia. É um país que deverá obter a oportunidade de viver e trabalhar, escolher por vontade própria seu governo. Sem se afundar em uma situação tão complexa que se assemelha muito à desintegração da Iugoslávia.

Agora acontece que os nossos três amigos – a UE, a Ucrânia e a Rússia – estão em conflito. E nós não vamos escolher quem deles é mais amigo ou menos amigo nosso, nem escolher, Deus me livre, quem é o menor ou maior inimigo.

Sputnik: Seria a Sérvia capaz de conciliá-los, já que todos eles são seus amigos?

Tomislav Nikolic: Nós poderíamos, se nos permitirem fazê-lo, pois somos um país pequeno. Mas por acaso será permitido que um pequeno país, cujo povo sofreu tudo o que só se pode imaginar e, portanto, adquiriu experiência, se ocupe disso? Em qualquer dos casos, se não nos permitirem e até mesmo se o problema não for resolvido, acredito que não haverá insatisfeitos com a nossa presidência na OSCE.

Sputnik: De acordo com a Der Spiegel, a situação é pior agora do que na época da crise cubana. Como o senhor presidente avalia o conflito entre a Rússia e os Estados Unidos?

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Tomislav Nikolic: Não é nada senão uma mera declaração. A Der Spiegel deveria analisar a situação, pesquisar as razões. Há dois anos, especialmente na Alemanha, você não teria ouvido uma palavra ruim sobre os russos, pois acreditava-se que, no final das contas, as relações econômicas propiciariam o estabelecimento de paz e cooperação em todo o planeta. Quem provocou tantas guerras, guerras civis, ondas de terrorismo ao redor de todo o mundo? Quem foi o portador da justiça confeccionada conforme padrões próprios, quem a portou sem reparar no direito internacional nem resoluções da ONU? Quem não hesitou em bombardear a Sérvia, embora não houvesse um único documento capaz de algum modo justificar essa barbárie? De onde provém o terrorismo no mundo árabe, na África? Quem os armou, quem lhes vendeu armas?

Sputnik: Muitas pessoas acreditam que o que acontece atualmente não é uma "guerra fria", mas real…

Tomislav Nikolic: Infelizmente, muitos países se encontram em estado de guerra, incluindo aquele no qual há um terceiro lado, ou seja, as forças internacionais que ajudam um dos lados. É óbvio que ninguém tem o direito de apoiar o terrorismo, onde quer que este erga a cabeça. Qualquer país, independentemente das nossas relações com ele, deve ser apoiado no combate ao terrorismo. Porque já não se pode mais justificar qualquer operação como o foi no caso do Iraque, apenas se referindo a supostas armas capazes de destruir o mundo.

Sputnik: As armas que não havia lá.

Tomislav Nikolic: Assim foi na Líbia e na Síria. As armas que não havia e que nunca haverá.

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