A agência Sputnik pediu a Sevim Dagdelen, deputada do Bundestag pelo partido Die Linke (A Esquerda) e membro do Departamento de Relações Exteriores do Bundestag, que comentasse essa iniciativa do MRE alemão:
– Quais são os objetivos desse documento? Ele define como os deputados devem pensar?
– Esse procedimento não tem precedentes, quando o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha se coloca do lado da propaganda oficial do Estado, limitando a ação dos deputados com ordens explícitas que determinam uma linha de orientação.
Eu considero que isso é revoltante e inadmissível. O mais terrível é que muitos deputados consideram essas instruções ministeriais como absolutamente corretas e estão dispostos a transmiti-las às massas como sendo suas próprias palavras, não se dando ao trabalho de analisar essas determinações de uma forma crítica.
– Como entende a essência da introdução a esse documento?
Penso que o Ministério das Relações Exteriores tenciona se opor a esse anseio da sociedade – não vejo outra explicação porque, como eu já disse, a esmagadora maioria dos alemães analisa o conflito na Ucrânia de uma forma completamente diferente da política oficial que o governo pratica relativamente à Rússia, mas também à Ucrânia.
– Por que é que esse documento foi elaborado precisamente agora – pois há muito pouco tempo foi estabelecido o diálogo entre a Europa e a Rússia?
– É evidente para todos que esse documento não favorece o reforço da confiança e pode apenas agravar a situação. Isso se vê pela própria forma como são formuladas as teses: frequentemente se trata de falsificações descaradas da história. Tomemos como exemplo o título: “As afirmações dos russos e nossas respostas” – essa contraposição está radicalmente errada.
Resumindo, eu estou abalada com esse documento do governo federal e do Ministério das Relações Exteriores, no qual o papel dos nazistas nos acontecimentos da Ucrânia é apresentado como muito reduzido, e eu considero que dessa forma o governo se coloca em cheque, assumindo na prática que ele pode ser acusado de propaganda do nazismo.
Tudo isso não facilita, de forma nenhuma, o desenvolvimento e reforço da confiança, tal como mais uma vaga de sanções contra a Rússia, aprovada depois das segundas negociações de Minsk, não favoreceu o restabelecimento da paz.
– A senhora aderiu à iniciativa do deputado Wolfgang Gerke, do partido Die Linke, que propôs que se convidasse Putin a Berlim para as comemorações da libertação?
– Penso que essa iniciativa é bastante inteligente porque, ao convidar ao Bundestag um representante do país liberador para o 70º aniversário da Liberação, nós daríamos um passo extremamente importante expressando nossa profunda gratidão ao país que é sucessor do Estado que sofreu o maior número de vítimas e derramou mais sangue na luta contra o nazismo alemão.