Paulo Nogueira Batista Jr. é diretor‐executivo pelo Brasil e por mais dez países no FMI, o Fundo Monetário Internacional. Além de economista, é professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas desde 1989.
Paulo Nogueira ressalva que os novos órgãos não excluirão a cooperação com as instituições já existentes, mas, sim, agirão em complementaridade.
A seguir, a entrevista:
Rádio Sputnik: Com a constituição desse Acordo Contingente de Reservas, esse fundo monetário próprio dos BRICS, os cinco países se considerariam menos comprometidos com o Fundo Monetário Internacional ou teriam mais um mecanismo de reservas com a criação dessa instituição?
PNBJr: Eu não diria que a criação do Arranjo Contingente de Reservas reduz o compromisso dos cinco países com o FMI. Continua a haver um compromisso, os países estão representados aqui, na diretoria executiva, são muito ativos. Não é uma questão de reduzir o compromisso com a esfera multilateral do Fundo Monetário e outras instituições. É apenas criar um mecanismo independente, autoadministrado, que vai até cooperar, se necessário, com as instituições de Washington. Por exemplo, o novo Banco de Desenvolvimento pode atuar em conjunto com o Banco Mundial, pode cofinanciar operações. E, no caso do Arranjo Contingente de Reservas, está previsto no próprio tratado que o constitui uma ligação com o Fundo. Os países, para terem acesso a determinados volumes, acima de determinados limites de apoio de liquidez, têm que ter um acordo com o fundo monetário em vigor (o FMI). Então, não se pode dizer que o Arranjo Contingente é algo que se opõe ao Fundo Monetário Internacional.
RS: Então esse não seria um órgão autônomo, desvinculado do FMI?
PNBJr: Tanto o Banco quanto o fundo monetário dos BRICS são órgãos autônomos, que se autoadministram, independentes. Porém, eles podem cooperar, podem atuar em conjunto com as instituições de Washington. Eu diria que é uma relação de complementaridade, mas também é uma relação que pode ser vista como competitiva.