Muitos afegãos podem não ser a favor da notícia. O presidente Ghani fez o pedido na terça-feira (24), sem considerar o fato de que a campanha militar, que parece eterna, colocou um enorme peso sobre o povo afegão.
A decisão da Casa Branca não aborda a promessa do presidente Obama de retirar as tropas até o final de seu mandato, em 2017. O comunicado da Casa Branca, estabelece apenas que "o calendário específico de retirada das tropas norte-americanas em 2016 será definido mais tarde, durante este ano, para permitir aos EUA consolidar as tropas na missão baseada em Cabul até o final de 2016."
Na terça-feira (24) os presidentes Obama e Ghani realizaram uma conferência de imprensa conjunta no âmbito da visita oficial de Ghani aos EUA.
"Essa flexibilidade reflete a revitalização de nossa relação com o Afeganistão. A América continuará sendo seu parceiro para promover os direitos de todos os afegãos, incluindo mulheres e crianças", disse Obama.
"A tragédia nos aproximou, e agora os interesses nos unem", acrescentou Ghani.
Após mais de uma década de guerra, 20 mil civis afegãos perderam a vida. A campanha militar dos Estados Unidos era destinada a erradicar o movimento Taliban mas a verdade é que o movimento ainda existe.
As estatísticas oficiais divulgadas pelo comando dos EUA-OTAN revelaram que 1.500 civis foram mortos durante os ataques realizados em apenas dez meses entre 2010 e 2011. Muitas vítimas mortais eram crianças, mas a maioria eram homens adultos confundidos com militantes. De notar que é fácil confundi-los, uma vez que as armas são um meio comum de autodefesa no Afeganistão. Os homens, entrando em suas casas, muitas vezes ficam assustados com o súbito aparecimento de assaltantes armados e levam armas para proteger a sua família. Só que isso lhes pode ser fatal: são mortos pelos norte-americanos.
A visita do presidente Ghani é primeira aos Estados Unidos desde que tomou posse em meados do ano passado e teve como pano de fundo a guerra que, no passado, foi qualificada por Obama como “necessária”.
Especialistas comentam a situação
O deputado do Partido da Solidariedade do Afeganistão, Hafiz Rashid, opina que os EUA não tem planos de deixar o Afeganistão. Ele comentou a situação:
“Eu tenho dito repetidamente que as tropas norte-americanas nunca deixarão o Afeganistão. Os Estados Unidos têm grandes planos estratégicos para a Rússia, a China e o Irã. Eles agora estão formando uma base no Afeganistão para no futuro usá-la a fim de resolver questões nestes países.
Em 2014 os EUA anunciaram a sua retirada do Afeganistão. Acho que este passo foi de caráter populista – para convencer civis norte-americanos de que a guerra no Afeganistão chegou ao fim. Mas tudo acabou de forma diferente. Para todos os afegãos é óbvio que os Estados Unidos construíram uma base militar no Afeganistão com uma perspectiva global e para uma longa estadia no país.”
Hossein Ruyvaran, cientista político do Irã, especialista em assuntos do Oriente Médio e dos Estados árabes, opina que, com a extensão da estadia das tropas dos EUA no Afeganistão, os problemas do país só vão se tornar piores:
“A presença de forças militares estadunidenses no Afeganistão nunca resolverá completamente os problemas do país. Vimos que a força militar não só não conseguiu erradicar o extremismo religioso e o terrorismo, mas, pelo contrário, só contribuiu para o desenvolvimento e disseminação desses processos na Ásia Central. Por isso, eu estou de opinião que a medida – a presença de 9.800 soldados no Afeganistão – é absolutamente ilegal e errada. O Irã considera que as tropas dos EUA não ajudarão de forma significativa aos nossos vizinhos do Afeganistão.”