Ao comentar o conflito ucraniano como pano de fundo para as atuais relações entre Rússia e OTAN, o especialista em Rússia e Leste Europeu, professor de Relações Internacionais da ESPM-Sul e Audiplo, Fabiano Mielniczuk, enumerou as possíveis consequências da crise ucraniana para o mundo.
O especialista argumenta que uma maior aproximação entre Rússia e China é uma das consequências já materializadas do conflito ucraniano. Ele observa que os russos assinaram um acordo de fornecimento de energia para a China no valor de 400 bilhões de dólares no final de 2014, destacando que, de acordo com muitos analistas, “o que o Ocidente está fazendo é empurrar a Rússia para os braços da China”. O professor de Relações Internacionais afirma que “os russos fazem isso a contragosto, pois, após o acordo fronteiriço de 2004, a projeção é que em 2025 tenha mais chineses do que russos na Sibéria, porque os chineses já estão obviamente migrando”.
Por fim, o especialista apontou as possíveis consequências que o conflito ucraniano pode representar para a geopolítica da América Latina:
“No momento em que os americanos colocam um dedo na Ucrânia e afetam os interesses dos ucranianos, a primeira coisa que o presidente Putin faz é ir para Cuba em julho do ano passado e firmar a reabertura de uma base militar da ex-União Soviética em Cuba, a base de Lurdes… Para botar armamento? Não. É para coletar informação (…) e passar para a Venezuela e para a Bolívia”, diz ele.
Mielniczuck observa também que, em seguida, em agosto de 2014, Putin vai pra Cuba de novo e perdoa a dívida externa de 32 bilhões de Cuba, herdada do período soviético. Daí, o acadêmico argumenta que o jogo político norte-americano se volta para a Venezuela, destacando o fato de que, na semana passada, foram realizados exercícios militares no país sul-americano com a participação do ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu. “Todo o material que estava sendo usado era russo (…) a Venezuela possui tanques russos, helicópteros russos, caças russos, fuzis Kalashnikov”. “E isso vai respingar no Brasil, pois nós temos uma política externa totalmente inexistente agora (…) e não é bom o Brasil deixar de ser pró-ativo em termos de política externa nesse momento no mundo”, conclui o especialista.