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Opinião: O futuro dos BRICS não soa nada mal

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Neste primeiro dia de abril, em que a Rússia assume a presidência do BRICS, vale a pena fazer uma retrospectiva.

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Quando, em 2001, o economista-chefe do banco Goldman Sachs, Jim O'Neill, inventou o termo BRIC, ele nem imaginava que estava soltando o diabo da garrafa. Em lugar de um simples termo do vocabulário da economia, surgiu aquilo que cairia do céu para algumas cabeças pensantes. Podemos comparar a invenção com aquela maçã de Isaac Newton, que caiu tantas vezes da árvore sem que alguém percebesse o fenômeno, até que o próprio Newton se deitou para descansar embaixo da macieira.

Passados 5 anos de discussões, foi realizado no âmbito da Assembleia-Geral da ONU o primeiro encontro dos ministros das Relações Exteriores de Brasil, Rússia, Índia e China. E, justiça seja feita, essa reunião aconteceu por iniciativa de Vladimir Putin.

O somatório dos dados dos quatro países BRIC nos revelou o seu gigantismo. Com uma população que representa 40% do total mundial, com uma área de 39,7 milhões de quilômetros quadrados – o que corresponde a 26% do território do nosso planeta, com um PIB estimado em 15,8 trilhões de dólares (14% do PIB mundial), com um potencial econômico sem precedentes, recursos naturais, imensa quantidade de energia renovável, o bloco tem em cada um de seus formadores um líder regional destacado, com forças armadas consideráveis, e três deles com armas atômicas – Índia, China e Rússia. 

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Ao mesmo tempo, todos os quatro enfrentaram problemas parecidos, com um PIB per capita pequeno – pouco mais de 10 mil dólares no Brasil e na Rússia e 1.400 dólares na Índia –, nível de desemprego de 3,6% na Índia até 24,9% na África do Sul, e taxa de inflação de 2,6% na China até 10,9% na Índia.

Os países são diferentes, com culturas diferentes, mas com as mesmas posições em relação à atual ordem mundial e na prática das relações internacionais.

Durante os últimos 5 anos, de 2009 até 2014, os países BRICS desenvolveram posições conjuntas nas reuniões internacionais, inclusive nas Nações Unidas. O bloco se tornou um fator considerável nas relações internacionais, e isso, sem dúvida, tem resultado muito positivo. 

Um dos principais assuntos que estão no horizonte dos BRICS – o sistema financeiro mundial conhecido como acordo de Breton Woods foi construído em 1945. A partir deste acordo, os Estados Unidos se tornaram o banqueiro internacional, com o dólar baseado no ouro (o que hoje não é mais). 

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A recente experiência da crise financeira mundial de 2008 mostrou que as consequências da ganância do mercado financeiro internacional, principalmente dos EUA, são muito pesadas para o mundo, em particular para os países em desenvolvimento. 

No livro “A Crise de 2008 e a Economia da Depressão”, o Prêmio Nobel Paul Krugman diz o seguinte: "A retrospectiva é também evidente de que demos muito crédito a Washington, ao FMI e ao Tesouro dos Estados Unidos."

Isso soa muito mais alarmante depois da recente decisão do Congresso dos Estados Unidos de flexibilizar ainda mais as regras do mercado financeiro.

Por essa razão, os países BRICS, simultaneamente, aumentaram sua participação no Banco Mundial e no FMI, mas, apesar disso, e das muitas promessas dos parceiros europeus e americanos, não aconteceu nenhuma mudança prometida de que seria aumentado o papel dos BRICS na governança financeira mundial. Essa foi uma das razões por que na reunião de Fortaleza, em 2014, os líderes dos países BRICS tomaram a decisão de criar seu próprio Banco de Desenvolvimento, com capital de 50 bilhões e em seguida de 100 bilhões de dólares, e um fundo de contingência de 50 bilhões de dólares. 

Além disso, estão sendo tomadas medidas para diminuir a dependência do comércio internacional da moeda norte-americana, principalmente entre os países BRICS e outros que adotaram esse processo em moedas correntes dos respectivos países.

Essas medidas estão abrindo precedentes de grande importância econômica e política no caminho para o mundo multipolar que é uma das principais metas dos BRICS atualmente. 

Ao reconhecer que a atual política externa dos Estados Unidos fracassou, o ex-Secretário de Estado Zbigniev Brzezinsky, um dos principais ideólogos da teoria da inevitável liderança dos EUA, diz o seguinte em seu livro “The Second Chance”:

"Nada pior para os Estados Unidos, e, em última instância, para todo o mundo, do que a percepção da política externa americana como de Império, cheia de egoísmo e falta de interesse pelos outros, arrogante em seus valores culturais e no mundo dividido pelas religiões. Nesses casos, a crise da hegemonia americana pode ser mortal.”

Os líderes dos países BRICS várias vezes declararam que a sigla não representa perigo para ninguém. O objetivo é melhorar ainda mais as relações com os organismos internacionais, na tentativa de tornar o mundo mais justo, mais fraterno e multipolar.

A próxima reunião de cúpula dos BRICS, em julho, na Rússia, trará muitas novidades. Uma delas é a melhoria e o aprofundamento das relações dos próprios BRICS em mais de 20 temas, desde a segurança alimentar, as alterações climáticas e a ciência e tecnologia até a cultura e os esportes.

Vários países, inclusive europeus, percebem cada vez mais a importância do crescimento de contatos em todas as áreas com os BRICS. E existe uma lista de países que querem se associar à sigla.

As últimas previsões para 2050 avaliam o PIB conjunto dos atuais membros do bloco em 128 trilhões de dólares, enquanto os países G7 não chegarão nem a 50% disso.

O futuro dos BRICS não soa nada mal.

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