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Rússia assume presidência do BRICS em momento decisivo

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Nesta quarta-feira, 1 de abril de 2015, a Rússia assume a presidência rotativa do BRICS. A relevância do fato e a importância dos países do grupo na política e na economia mundiais foram tema de debate entre personalidades das várias áreas de atuação do BRICS.

O termo original BRIC é um acrônimo criado em 2001 pelo economista Jim O’Neill para designar o grupo então formado por Brasil, Rússia, Índia e China. Posteriormente, em 2011, o bloco ganhou a adesão da África do Sul, incorporando a letra S à sua sigla e passando, desde então, a se denominar BRICS. 

Aleksander Medvedovsky, diretor para o Brasil do Conselho Empresarial Rússia-Brasil, comenta que os cinco países integrantes do grupo vêm acentuando a sua participação no cenário internacional:

“Durante os últimos 5 anos, de 2009 até 2014, os países BRICS desenvolveram posições conjuntas nas reuniões internacionais, inclusive nas Nações Unidas. O bloco se tornou um fator considerável nas relações internacionais, e isso, sem dúvida, tem resultado muito positivo. Um dos principais assuntos que estão no horizonte dos BRICS, o sistema financeiro mundial, conhecido como acordo de Breton Woods, foi construído em 1945. A partir deste acordo, os Estados Unidos se tornaram o banqueiro internacional, com o dólar baseado no ouro (o que hoje não é mais). A recente experiência da crise financeira mundial de 2008 mostrou que as consequências da ganância do mercado financeiro internacional, principalmente dos EUA, são muito pesadas para o mundo, em particular para os países em desenvolvimento. No livro ‘A Crise de 2008 e a Economia da Depressão’, o Prêmio Nobel Paul Krugman diz o seguinte: ‘A retrospectiva é também evidente de que demos muito crédito a Washington, ao FMI e ao Tesouro dos Estados Unidos.’ Isso soa muito mais alarmante depois da recente decisão do Congresso dos Estados Unidos de flexibilizar ainda mais as regras do mercado financeiro. Por essa razão, os países BRICS, simultaneamente, aumentaram sua participação no Banco Mundial e no FMI, mas, apesar disso, e das muitas promessas dos parceiros europeus e americanos, não aconteceu nenhuma mudança prometida de que seria aumentado o papel dos BRICS na governança financeira mundial. Essa foi uma das razões por que na reunião de Fortaleza, em 2014, os líderes dos países BRICS tomaram a decisão de criar seu próprio Banco de Desenvolvimento, com capital de 50 bilhões e em seguida de 100 bilhões de dólares, e um fundo de contingência de 50 bilhões de dólares. Além disso, estão sendo tomadas medidas para diminuir a dependência do comércio internacional ao uso da moeda norte-americana, principalmente entre os países BRICS e outros que adotaram esse processo em moedas correntes dos respectivos países. Essas medidas estão abrindo precedentes de grande importância econômica e política no caminho para o mundo multipolar que é uma das principais metas dos BRICS atualmente.” 

Já para Diego Pautasso, professor de Relações Internacionais da Unisinos e da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio Grande do Sul, a preocupação da Rússia, à frente dos BRICS, deverá ser mostrar que a era das hegemonias mundiais está superada: 

“A presidência da Rússia à frente deste agrupamento deve refletir uma iniciativa político-diplomática capaz de fazer frente a alguns desafios da hegemonia norte-americana no sistema internacional. Ou seja, a hegemonia dos Estados Unidos tem rompido com alguns compromissos internacionais, tem representado em muitas oportunidades fatores de instabilidade, e os países BRICS percebem janelas de oportunidade para atuarem no âmbito econômico, comercial e diplomático, para criarem novos arranjos voltados para o desenvolvimento e a segurança. Deve-se lembrar, por exemplo, que a Rússia está numa situação difícil, do ponto de vista da segurança, por conta de um conflito que, em grande medida, tem a participação norte-americana. Eu me refiro, evidentemente, à questão ucraniana. Já no aspecto econômico, a Rússia também precisa furar o bloqueio criado pelo embargo dos Estados Unidos e seus sócios europeus, de modo que os BRICS representam um ponto de apoio importantíssimo no mundo, principalmente em suas áreas de influência. E a Rússia é hoje o país que mais precisa de apoio, o que converge com os interesses do Presidente Vladimir Putin de recolocar o país no cenário internacional.”

O aspecto da segurança, por parte da Rússia, inclusive no mundo virtual, é também salientado pelo economista André Gustavo Pinelli, pesquisador do Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República do Brasil:

“A questão principal que a Rússia deverá enfrentar na presidência dos BRICS é a da segurança, tanto a clássica (principalmente a que diz respeito à Crimeia e à Ucrânia) quanto a da Internet. A Rússia é uma das líderes – senão a principal líder – de uma campanha por uma nova forma de governança na Internet, e ela tem feito importantes esforços nesta área.”

Na opinião do economista Gilberto Braga, Professor do Ibmec do Rio de Janeiro e da Fundação Dom Cabral, a presidência dos BRICS pela Rússia será uma oportunidade para o exercício de novos relacionamentos mundiais:

“A presidência da Rússia será uma oportunidade para o exercício de alguns aspectos que não vinham sendo enfatizados como deveriam ser. A questão comercial me parece a mais importante sob a presidência da Rússia, até porque os países do BRICS são vistos como países emergentes. Cada um dos cinco países deverá optar por uma agenda comum de iniciativas e, desta forma, realçar a importância do grupo no cenário internacional.”

Para Marcus Vinícius Freitas, professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo, a integração econômica deve representar as palavras de ordem para a Rússia como presidente do BRICS: 

“O que nós temos observado é que o mundo, desde 1944, tem seguido uma determinada forma de governança. O que nos parece insanidade é que o mundo, a partir do século 21, deveria ser governado pelas mesmas regras vigentes desde a Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido, os BRICS acentuam a sua importância internacional. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento e do Acordo Contingente de Reservas do BRICS representa uma iniciativa importante, não para concorrer com o Banco Mundial e com o Fundo Monetário Internacional, mas, justamente, para ressaltar esta importância. Então, o que se espera da Rússia, na presidência dos BRICS e com o apoio dos demais membros do grupo, é que ela consiga proporcionar maior diversidade nas relações internacionais.”

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