Mielniczuk argumenta que o objetivo da visita é buscar novas alianças para tentar resolver os problemas da economia daquele país.
A Argentina enfrenta uma batalha jurídica em torno do pagamento de dívidas com credores desde 2014, quando o juiz norte-americano Thomas Griesa decidiu que o Governo argentino teria que pagar integralmente o valor dos débitos, orçados em US$1 bilhão, a credores da dívida que recebiam em parcelas.
O professor acredita que a visita da Presidente Kirchner e a busca de alianças com a Rússia têm, sim, a intenção de irritar os EUA e o Reino Unido, até porque o encontro tem também uma conotação militar. “Está sendo negociada, da parte do Governo argentino, a compra de caças Su-24 produzidos pela Rússia, e isso ameaça bastante a posição do controle das Ilhas Malvinas, ou Ilhas Falkland, como as chamam os britânicos.”
Mielniczuk explica que, se a Argentina conseguir realizar o negócio com os russos, os argentinos vão forçar os ingleses a mudar a política de segurança nas Ilhas Malvinas, pois os argentinos passariam a ter maior capacidade de ataque e a possibilidade de ocupar novamente o arquipélago sem que os britânicos reagissem a tempo, como aconteceu no começo dos anos 80, na Guerra das Malvinas.
De acordo com o especialista em Relações Internacionais, a política externa russa desde o final dos anos 90 e ao longo de todo o ano 2000 foi de buscar fomentar a multipolaridade no mundo.
Para ele, os russos sempre aguardaram a oportunidade de fazer negócios com grandes parceiros regionais localizados em outros hemisférios, “inclusive aqui no nosso hemisfério, que seria visto como uma espécie de quintal dos Estados Unidos, numa mentalidade bem de Guerra Fria”.
Apesar da rivalidade entre Argentina e EUA, Fabiano Mielniczuk não acredita que os Estados Unidos possa querer revidar, caso haja mesmo um acordo militar entre os Governos argentino e russo. ”O jogo diplomático está sendo jogado de forma clara, embora sutil. A postura norte-americana para tentar contrapor o avanço russo e chinês no hemisfério ocidental tem sido de estabelecer boas relações com países que eram ícones do antiamericanismo. A reaproximação dos EUA com Cuba se enquadra nesse contexto. A política dos EUA tem sido mais uma política de poder brando e não de um poder de projeção mais intenso.”
Para o Professor Fabiano Mielniczuk, a Argentina segue em direção oposta, e ele questiona até que ponto esse tipo de posicionamento na esfera internacional não vá prejudicar ramos regionais como o Mercosul, os quais precisam fundamentalmente de um acordo entre Brasil e Argentina.
Além de negociações na área militar, a parceria da Argentina com o Governo russo prevê a possível construção de uma usina hidrelétrica e outra nuclear no país.