Em entrevista à Rádio Sputnik nesta segunda-feira, o jornalista destacou que a viagem de Kirchner a Moscou vai abrir um novo leque de opções comerciais e políticas, que, obviamente, preocupam muito os Estados Unidos e seus parceiros europeus, sobretudo neste momento em que Washington tenta demonstrar mais interesse em cooperar com os países latino-americanos.
Kirchner, que já esteve na Rússia em 2008, visitando o então presidente Dmitry Medvedev, passará dois dias na capital russa (quarta e quinta-feira), discutindo uma série de acordos, assinados no ano passado, nas áreas de energia, comércio, comunicações e cooperação militar.
Nos últimos anos, como lembra Mario Russo, a Argentina tem sofrido com vários problemas econômicos, que culminaram, em 2014, com uma intensa queda-de-braço com credores internacionais. Por conta disso, o país vem enfrentando muitas dificuldades de acesso a linhas de crédito internacional, pois não conta com o respaldo do Banco Mundial, do FMI e de outras organizações. Nesse contexto, apesar da balança comercial relativamente pequena (cerca de US$ 2 bilhões), a Rússia tem se apresentado como uma alternativa interessante para os argentinos, oferecendo parcerias vantajosas em diversos setores estratégicos, incluindo os de energia nuclear e petróleo e gás.
Entretanto, segundo o colunista da Rádio Sputnik, há também um componente político nessa aproximação, já que "ninguém faz negócios apenas por negócios". Para ele, o fortalecimento das relações entre os dois países extrapola os interesses econômicos.
"A Argentina, no cenário internacional, tem sido uma apoiadora das posições russas em questões importantes, seja no caso do Irã ou nos episódios na Crimeia e na Ucrânia", explicou. "Se, no passado, Argentina e Rússia, por questões ideológicas, na época soviética, não eram muito próximas, com a mudança do quadro geopolítico nas últimas décadas, há quase que um alinhamento".
Essa aproximação, de acordo com o jornalista, além de incomodar Washington (com a possibilidade inclusive de realização de negócios em rublo e peso; e não em dólar), tem sido motivo de preocupação também em Londres, já que o Reino Unido parece cada vez mais certo de que a Argentina, com a ajuda russa, investirá em uma nova manobra para incorporar as Malvinas.
"A Grã-Bretanha continua achando que o arquipélago está sob risco de reincorporação", disse o colunista, destacando o recente escândalo de espionagem britânica na Argentina e o anúncio de que Londres pretende gastar £ 280 milhões (R$ 1,3 bilhão) nos próximos dez anos para reforçar a defesa das Malvinas, também conhecidas como Falkland Islands.
Por esse motivo, segundo Mario Russo, o Reino Unido estaria até reivindicando o direito de vetar a possível venda de caças suecos do modelo Gripen ao país sul-americano, uma vez que muitos componentes utilizados na aeronave são de fabricação inglesa.