A parte estadunidense prepara para Abe uma receção digna de chefe de Estado, com um jantar em sua honra na Casa Branca, para sublinhar a sua aliança com o Japão, com a qual pretendem aumentar a sua influência na região da Ásia-Pacífico.
Isso preocupa tanto a Coreia do Norte, como a China. E também os Estados Unidos. Estes três Estados formam um "triângulo" com um sistema de interações complicado. O crescente poderio regional da China leva os EUA a cooperar com o Japão para enfraquecê-la. No entanto, o Japão se dá conta da importância da China, sua vizinha, e não quer estragar as relações com esse país por completo.
Um sinal disso é o encontro sino-japonês realizado durante a conferência de Bandung, acredita o ex-vice-secretário-geral do Gabinete japonês, Tsuyoshi Saito:
"Talvez este encontro sino-japonês não tenha ocorrido por acaso justamente na véspera da visita de Abe aos EUA. Não foi um encontro simples. É importante não só para o desenvolvimento das relações bilaterais sino-japonesas, coreano-japonesas ou russo-japonesas, mas também para a manutenção da paz em todo o leste da Ásia. O que também corresponde aos interesses dos Estados Unidos, que têm uma estratégia própria na Ásia".
Washington pretende alcançar um "equilíbrio" na Ásia do Pacífico. Mas o "equilíbrio" de Washington significa mais peso de Washington. No entanto, a China está conquistando cada vez mais espaço econômico na região, primeiro, com assinatura de acordos de parceria (por exemplo, com a Coreia do Sul, há uns meses), e depois, com a criação do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, na sigla em inglês). O AIIB já tem pedidos de adesão até de países considerados como aliados dos EUA.
Isso, sem contar com o Novo Banco de Desenvolvimento e o Arranjo Contingente de Reservas dos BRICS, recentemente ratificado pela Rússia. Deste modo, o peso econômico e financeiro da China irá crescendo, e os EUA terão que buscar novas vias — ou se adaptar à perda da sua versão de "equilíbrio" em prol de um equilíbrio regional com menos influência externa.
Resulta que a "missão" de Abe nos EUA é quase impossível, acredita Andrei Ivanov, do Instituto da Pesquisa Internacional da Universidade das Relações Internacionais de Moscou:
"[Os EUA e a China] são grandes parceiros comerciais e econômicos. Mas os EUA não conseguiram fazer com que a China seja seu parceiro e aliado político, porque Washington tem a obsessão messiânica de domínio mundial e por isso não quer parceiros, mas sim vassalos. Foi por isso que os EUA rejeitaram a Rússia. Washington também tem sempre olhado o Japão tão só como um instrumento de proteção dos interesses norte-americanos na Ásia. Os estadunidenses irão tentar manter esta função do Japão para o máximo prazo possível".
A visita de sete dias do chefe do governo japonês irá ser difícil para ele. A aliança com os EUA forçará o seu país a reduzir a parceria com a China e outros países da região. Com isso, nem vence o Japão, nem os EUA.