— Sr. Korba, recentemente a Cruz Vermelha aumentou o seu orçamento para a Ucrânia e se mostrou disposta a dobrar o volume de assistência prestada àquele país. Poderia falar um pouco sobre isso?
— Hoje fica claro que estamos aumentando o orçamento. Nós mostramos a intenção não apenas de continuar, mas de ampliar a assistência e a proteção às pessoas que moram no leste da Ucrânia, bem como aos migrantes que foram acolhidos em países vizinhos, incluindo a Rússia e a Bielorrússia.
Simplificando, isso significa que nós agora queremos prestar ajuda humanitária mensal a mais de 120 mil pessoas, oferecendo alimentos e kits de higiene básica. Nós planejamos ainda fornecer equipamentos e medicamentos a cerca de 60 instituições médicas. Além disso, queremos proporcionar ajuda à reconstrução de casas e infra-estruturas destruídas.
Isso ficou possível graças à aprovação dos acordos de Minsk. É claro que a situação no local não é ideal, mas agora nós temos um acesso relativamente maior às regiões do leste da Ucrânia, e, por consequência, maiores possibilidades de avaliar de forma mais realista a necessidade de ajudar as vítimas. Portanto, nós tivemos que rever as nossas possibilidades e o nosso orçamento nessa questão.
— Os números citados pelo senhor são relativos somente à Ucrânia?
— Sim, somente à Ucrânia. Falo do leste do país – territórios de Donetsk e Lugansk.
— Até que ponto os acordos de Minsk facilitaram o acesso a esses territórios? Tempos atrás, muitas organizações humanitárias também citavam o problema do acesso ao leste ucraniano, depois de Kiev ter introduzido medidas especiais limitando a locomoção naquela região. Qual é a situação atual?
— Esse problema possui dois aspectos. O primeiro diz respeito à diminuição da violência e a um maior acesso em decorrência da assinatura do regime de cessar-fogo.
O outro problema consiste no fato de os postos de controle na linha de contato terem introduzido uma série de medidas administrativas para controlar a entrada ou a saída de produtos. Esse problema concreto não foi resolvido até hoje e continuamos nos deparando todos os dias com diversas questões administrativas. Se nós conseguirmos lidar com a papelada, conseguiremos enviar caminhões para Donbass sem grandes problemas. Gostaríamos de acreditar que esse processo será facilitado.
Hoje, no entanto, o volume desse tipo de trabalho administrativo é muito grande. Em média, a cada mês, temos cerca de 150 caminhões que cruzam a linha de contato, e todos eles se deparam com questões administrativas, listas, papéis, permissões.
No fim das contas todos passam, mas poderia ser mais simples. Naturalmente, pedimos para que os procedimentos nos postos de verificação sejam facilitados.
— Com a assinatura dos acordos de Minsk, entrou em vigor o regime de cessar-fogo. Uma série de representantes de organizações humanitárias da ONU, no entanto, reportaram inúmeras violações desse regime. Essas denúncias são confirmadas pelos funcionários da Cruz Vermelha na Ucrânia?
— Sim, infelizmente. Naturalmente torcemos para que essas violações diminuam. O regime de cessar-fogo está sendo mantido, mas, infelizmente, ele é muito frágil, e foi diversas vezes violado. Em algumas regiões mais, em outras menos. Por exemplo, no leste de Mariupol, ou nos entornos do aeroporto de Donetsk. Atualmente essas são as regiões mais problemáticas.
— O orçamento para a operação humanitária na Ucrânia pode receber novos reajustes?
— Atualmente, a crise ucraniana está entre as cinco maiores operações da Cruz Vermelha. Esse fato já é bastante significativo, principalmente se levarmos em conta que no ano passado nós não tínhamos praticamente nada nesse sentido. Nós não aguardamos por um novo aumento este ano, mas quem sabe. Esperamos que isso não seja necessário, porque que a operação atual já é muito grande, mas, caso precise, estamos prontos para nos adaptar às circunstâncias.
Gostaria de destacar que nós também cooperamos com as autoridades russas e com a sociedade russa da Cruz Vermelha, principalmente no sudoeste da Rússia, nas regiões de Rostov e Stavropol. Prestamos assistência a cerca de 30 mil pessoas e àqueles que mais necessitam de ajuda em consequência da migração forçada da Ucrânia.
Nós também ampliamos a nossa assistência na Crimeia, onde ajudamos cerca de 12 mil pessoas juntamente com a unidade local da Cruz Vermelha, além de 6 mil pessoas na Bielorrússia, em cooperação com a sociedade bielorrussa da Cruz Vermelha.
— Quando será feita a troca do chefe do escritório da CICV em Kiev?
— O novo chefe da delegação da CICV em Kiev já encontra-se no local recebendo informações do seu predecessor. É o processo normal de rotação. O nome dele é Alain Aeschlimann. Ele é ex-diretor regional para a Ásia, com sólida experiência de trabalho em diversos tipos de contextos.
— Existem planos para ampliar a missão da CICV na Ucrânia?
— Sim, isso faz parte do aumento orçamental que citei. Esse aumento prevê a assistência a um maior número de instituições médicas, orfanatos, asilos, etc. Queremos fazer mais para ajudar aos civis atingidos pelo conflito, e também queremos receber um maior acesso aos prisioneiros de ambos os lados.
— Então trata-se de um aumento do número de funcionários no local?
— Sim. Atualmente empregamos cerca de 25 pessoas em Donetsk e Lugansk. Planejamos muitas relocações internas de funcionários. A ideia central é de envolver o maior número possível de pessoas.
No total, a CICV na Ucrânia terá uma equipe de aproximadamente 400 funcionários, 70 dos quais serão estrangeiros, e o restante de especialistas locais.