No último sábado, logo após a realização da Parada Militar, o ministro da Defesa do Brasil, Jaques Wagner, que esteve em Moscou representando a presidenta Dilma Rousseff, concedeu entrevista à Sputnik e às Organizações Globo. O diretor da Sputnik Brasil, Aleksander Medvedovsky, acompanhado do jornalista Konstantin Kuznetsov, encontrou o ministro em um hotel no centro de Moscou, onde foi realizada a entrevista.
A ideia geral dos russos é de que o Brasil é um país aliado. Como o senhor definiria essa relação Brasil-Rússia?
O senhor acha possível um dia ter exercícios militares entre os exércitos de Rússia e Brasil?
JW: Acho. O Brasil não tem nenhum tipo de limitação do ponto de vista de relacionamento. A nossa diplomacia é independente. Em geral nós fazemos operações conjuntas com o “guarda-chuva”, com o “cobertor” institucional da ONU. O Brasil não tem tradição de fazer exercícios conjuntos bilaterais se não forem com essa cobertura da ONU, mas eu não vejo nenhum impedimento que a gente venha a fazer algum exercício conjunto com a Rússia.
Recentemente a imprensa russa publicou informação dizendo que governo russo está pronto para oferecer a experiência de segurança dos Jogos Olímpicos de Inverno para o Brasil para melhorar ainda mais a segurança dos Jogos Olímpicos. O senhor acha que o Brasil vai precisar desta experiência ou está suficientemente preparado em termos de segurança para as Olimpíadas?
JW: Eu acho que os últimos episódios de terrorismo que têm acontecido mostram que nenhum país pode se dizer completamente preparado. O episódio que aconteceu na França recentemente mostra que os terroristas estão usando de expedientes e de atitudes absolutamente inimagináveis um tempo atrás, como atacar a redação de um jornal. Então eu acho que ninguém pode dispensar colaboração. Agora, nós fizemos a Copa do Mundo. Evidentemente que a participação da Copa do Mundo é um número muito menor de países, muito menor de turistas e atletas chegando. Mas nós já vivemos uma Copa do Mundo no ano passado com sucesso, a Copa das Confederações também. Mas, na verdade, para a segurança das Olimpíadas, há uma combinação entre o ministério da Justiça, a Polícia Federal, a Força Nacional de Segurança, e o ministério da Defesa, as três forças que garantem a segurança no mar, no espaço aéreo, e a proteção dos equipamentos especiais. A parte interna das Olimpíadas é cuidar da segurança privada, cuja responsabilidade é do próprio Comitê Olímpico Internacional. Agora, eu pessoalmente acho que se existem experiências que podem ser aproveitadas, elas têm que ser aproveitadas. Até porque, eu insisto, o quadro que nós temos ultimamente com a questão do Estado Islâmico e a questão do terrorismo que aparece quando menos se espera, nós temos que trocar muitas informações, e temos que trocar inclusive bancos de dados para poder ter o melhor da prevenção. A gente nunca está isento de uma questão como essa.
JW: Eu nem sei nem se o Estado Islâmico tem uma diplomacia. Ele se autodenomina um Estado, mas não sei que tipo de relação é possível ter, principalmente com pessoas que fazem questão de horrorizar o mundo matando e divulgando depois a filmagem. Então eu pessoalmente acho que quando você tem um Estado constituído, sempre o melhor caminho é buscar a diplomacia, mas eu desconheço qual é a diplomacia do Estado Islâmico.
Quais as perspectivas de cooperação na área técnico-militar entre Brasil e Rússia?
JW: Já temos uma cooperação, como eu lhe disse, nós fizemos a compra de helicópteros russos, estamos agora no final da preparação do pedido de proposta dos Pantsir, que seria também uma troca nesse sentido. E temos intercâmbio com outros países. Com a França nós estamos construindo um submarino. Com a Suécia nós vamos fazer agora a construção dos caças Gripen. E temos equipamento russo funcionando e reconhecemos inclusive a capacidade que vocês têm na área militar.
A imprensa brasileira publicou há pouco tempo uma notícia interessante, que a Odebrecht vai começar a produzir componentes para equipamento russo. Essa é uma forma muito nova de relacionamento entre dois países na área técnico-militar.
Voltando à questão da Segunda Guerra e essa semana de celebrações, o senhor é filho de imigrantes judeus poloneses. Essa viagem com certeza é especial para o senhor.
JW: Realmente, porque nós perdemos parentes durante a Segunda Guerra Mundial e todos os judeus, todos os russos, que perderam 25 milhões de pessoas. Os judeus perderam 6 milhões de pessoas. Eu acho que esse episódio, que pra mim é muito recente, na historiografia humana 70 anos não é tanto tempo, tem muitos heróis, muitos veteranos aqui desfilando com suas medalhas, e eu creio que o próprio “comemorar” os 70 anos é sempre um “lembrar” pra que essas coisas não voltem a ocorrer. Por isso eu estou insistindo que cada conflito que aparece, quanto mais a gente puder usar de diplomacia para resolvê-lo, é melhor do que deixar mais uma guerra nascer.