O protesto de 17 de maio tem o lema "Cidadãos pela Macedônia, Vamos!" e é organizado pelo oposicionista Zoran Zaev, líder do partido União Social-Democrática da Macedônia (SDSM, na sigla em macedônio).
Zaev, prefeito do município de Strumica, é famoso por denunciar irregularidades do governo do seu país. Ele tem sido acusado várias vezes de receber apoio financeiro do exterior, inclusive da fundação de George Soros. É isso que disse o jornalista russo Konstantin Kachalin, especialista nos Bálcãs, em entrevista à Sputnik Srbija.
Segundo Kachalin, a crise atual na Macedônia é representada principalmente pelo confronto político entre Zaev e o primeiro-ministro atual, Nikola Gruevski. Gruevski é, entre outras coisas, partidário da implementação do gasoduto Turkish Stream (Corrente Turca), que está sendo projetado pela Rússia e Turquia.
"Skopje [capital da Macedônia] está parcialmente com os EUA. Mas [os EUA] não querem Gruevski porque ele consentiu em cooperar com a Rússia. Há contatos estabelecidos com Moscou, e eles podem, sim, começar a construir a Corrente Turca. Por isso, para impedir a construção do gasoduto, é preciso desestabilizar a situação na Macedônia. E depois há o efeito dominó por toda a região. Há albaneses lá, por isso tudo pode ser feito", comenta Kachalin.
Os albaneses são uma arma local poderosa que o Ocidente, segundo vários observadores, já empregou outras vezes. Em abril e maio, houve vários sequestros na fronteira entre a Albânia e a Macedônia, quando homens armados vestindo o uniforme do Exército de Libertação do Kosovo (KLA, na sigla em inglês) ameaçavam policiais e militares de morte, frisando que "queriam o país inteiro".
Comentando o início da construção do novo prédio da embaixada norte-americana no Kosovo, o jornalista disse que isso testemunha o fortalecimento da presença dos EUA na região. "A Macedônia é um dos elementos para desencadear novas crises e para exercer o controle sobre os Bálcãs".
Em março, a empresa russa Stroitransgaz começou a construção de um trecho de 61 km de um gasoduto na Macedônia, com uma capacidade de 105,5 mil metros cúbicos por dia. Naquela altura, um especialista russo da Fundação de Segurança Energética Nacional, Aleksei Grivach, disse à Sputnik Srbija que o trecho poderia ser continuado até chegar à Sérvia e Hungria. "Há muito trabalho diplomático e comercial por fazer".
O comentarista não descartou a possibilidade de o trecho servir para a Corrente Turca.
No entanto, o senador dos EUA Christopher Murphy recomendou abertamente aos países balcânicos a usarem gás de xisto estadunidense para reduzir a "dependência" do gás russo.
Preocupação
A situação na cidade de Kumanovo na semana passada provocou certa preocupação dos moradores e do governo central. Não obstante o êxito formal da operação antiterrorista levada a cabo pela polícia, que durou mais de 30 horas e terminou em várias mortes de ambos os lados (ainda sem informações oficiais sobre vítimas entre civis), os ministros dos Transportes e Comunicações (Mile Janakieski) e do Interior (Gordana Jankuloska), junto com o chefe da inteligência (Sasho Mijalkov) demitiram-se na terça-feira (12).
A demissão foi provocada pela falta de prevenção antecipada da ofensiva terrorista. No entanto, os serviços de inteligência da Sérvia informam que tinham advertido os seus colegas macedônios sobre a possibilidade de ataques e sequestros, fato a que Skopje não prestou atenção.
Este ambiente de tensão gera preocupação também na véspera dos protestos desta semana. Certos observadores, como Konstantin Kachalin, comparam a situação na Macedônia com a situação na Ucrânia antes do Euromaidan, temendo o fortalecimento da ideia da "Grande Albânia", com o apoio do Ocidente.
A manifestação, que terá lugar na frente do prédio do governo da Macedônia, em Skopje, prevê exigências como a liberdade de expressão e da mídia, mais apoio a "grupos marginalizados" e ao pluralismo, mas ainda sem reivindicações concretas.