A mídia brasileira divulga o fato de que Luiz Inácio Lula da Silva tem se reunido periodicamente com uma equipe de assessores que, dizem alguns, prepara a sua candidatura à Presidência em 2018.
Sputnik: Como o senhor vê a atuação do ex-Presidente Lula nos bastidores, formando essa espécie de conselho político que por sua composição mais parece o embrião de um futuro Ministério?
Ricardo Ismael: De fato, é um conjunto de assessores que, nos anos recentes, já tem acompanhado o Lula: o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o prefeito de São Bernardo, Luís Marinho, o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, o ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e alguns outros. Esse grupo formado no final de 2014 tem se reunido com certa frequência no Instituto Lula para discutir temas políticos, econômicos e sociais do Brasil. Claramente, há uma movimentação do Lula – mesmo antes já havia – como se fosse candidato à Presidência em 2018. Ele tem procurado ocupar espaço, foi à reunião promovida pela CUT em São Paulo no 1.º de Maio, foi a principal figura no programa do PT na TV, tem atuado nos bastidores, principalmente na articulação com o PMDB, também tem aparecido de maneira muito recorrente tentando reduzir o prejuízo que tem se abatido sobre o Governo Dilma e sobre o PT. Ou seja, o Lula tem realmente dado sinais de que possa vir a ser candidato em 2018.
S: Lula estaria repetindo a estratégia do final do seu primeiro mandato, quando fez certo mistério sobre se seria ou não candidato à reeleição?
RI: Eu penso que Lula gostaria de ter sido candidato já em 2014, e só não o foi porque a própria Presidenta Dilma não deixou que avançasse a proposta do “Volta Lula”, movimento que achava já ser o momento de Lula voltar à Presidência. Agora, porém, há um desgaste muito grande do Governo Dilma e também do Partido dos Trabalhadores. Então, o Lula seria uma reserva ainda do ponto de vista simbólico daquele PT que surgiu lá em 1980, fruto das manifestações sindicais do final dos anos de 1970, um PT que tinha na sua origem um compromisso claro com a transformação do país. Lula seria, assim, capaz de resgatar a história do PT e as bandeiras históricas do partido.
S: O Lula teria perdido algumas bandeiras, em função das denúncias que envolvem alguns integrantes do PT?
RI: Há um desgaste que atinge também o ex-Presidente Lula, mas é um desgaste que afeta com maior intensidade a própria Presidenta Dilma, seja por conta de uma mudança muito grande entre o discurso de campanha e o que ela está fazendo agora, seja por conta da Petrobras, seja também pelo fato de a inflação estar alta e o desemprego começar a aumentar. Então, a presidenta perde capital político, sua popularidade é hoje muito baixa. Isso também atinge o Partido dos Trabalhadores. Há um desgaste que cresceu muito durante a campanha eleitoral de 2014 e se ampliou por conta da questão da Petrobras. O desgaste chega também a Lula, mas com uma intensidade menor, em função até de ele ter um capital político que se conserva nas camadas mais populares e consegue manter a sua imagem preservada. […] Lula ainda é a figura mais forte e mais capaz de gerar uma coesão dentro do PT. Ou seja, pensando numa candidatura para 2018, que seja competitiva, pelo menos no cenário de hoje, só resta mesmo o nome de Lula. […] É claro que em outras épocas, ou até o ano passado, ele teria um favoritismo, porém agora já o perdeu. Mas o fato é que penso ser ainda possível dizer que, se for candidato em 2018, Lula entrará com condições de vencer.