Fornecimento de armas nucleares paquistanesas à Arábia Saudita: Mito ou realidade?

© AFP 2023 / AAMIR QURESHI / AFPMíssil balístico paquistanês Hatf-V com capacidade para transportar ogivas nucleares
Míssil balístico paquistanês Hatf-V com capacidade para transportar ogivas nucleares - Sputnik Brasil
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Uma matéria do Sunday Times sobre negociações entre a Arábia Saudita e o Paquistão, relativas à possível compra de uma arma nuclear “pronta” por parte do reino saudita ao Paquistão, foi chamada de “especulação que não merece sequer um comentário”.

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Vasily Kashin, especialista do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias, num artigo preparado especialmente para a Sputnik opina que a existência de colaboração e certos acordos entre a Arábia Saudita e o Paquistão não é impossível em si, mas a suposição de que um país possa comprar uma arma nuclear como um produto de supermercado é duvidosa. 

A carga nuclear não é uma mercadoria comum que possa ser comprada e colocada num armazém. É um dispositivo técnico sofisticado que exige condições especiais de armazenamento e manutenção regular. Isto é justo mesmo no caso de cargas nucleares da Rússia e dos EUA, que alcançaram um alto nível de solidez. As cargas mais primitivas, que supostamente são que o Paquistão possui, exigem condições de armazenamento e manutenção ainda mais rigorosas. Assim, para servir a carga nuclear, é preciso ter a infraestrutura necessária e o pessoal, cuja preparação é longa e dispendiosa.

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Além disso, a carga nuclear tem um prazo de validade estritamente limitado. Por isso, cada país nuclear sempre aspira a ter o seu próprio círculo completo de produção de tais cargas. A limitação do prazo de validade de armazenamento de cargas nucleares e a incapacidade de produzi-las explica por que razão as antigas repúblicas da URSS como a Ucrânia, Bielorrússia e Cazaquistão desistiram de forma relativamente fácil das armas nucleares que permaneceram nestes países após queda da União Soviética. As fábricas do complexo militar nuclear ficaram na Rússia e, por esta razão, as armas nucleares das demais ex-repúblicas soviéticas em todo o caso transformar-se-iam em breve em resíduos radioativos perigosos.   

Assim, se a Arábia Saudita quiser dar um passo radical e tornar-se potência nuclear, terá de criar o seu próprio complexo nuclear. Mesmo se o Paquistão proporcionar tecnologias relevantes, a Arábia Saudita terá de ensinar os seus especialistas a realizar o seu próprio programa nuclear. A criação do seu próprio pessoal técnico nunca foi um aspecto forte da Arábia Saudita e a maior parte dos trabalhos tecnicamente sofisticados, inclusive os que estão ligados ao serviço do material blindado, são feitos por estrangeiros no reino. 

Outra questão que merece ser considerada é a do transporte das armas nucleares. A Arábia Saudita tem a sua Força de Mísseis Estratégicos equipada com velhos mísseis chineses de médio alcance DF-3. Surgiram informações de que os sauditas também compraram os mísseis mais modernos DF-21, mas elas não foram confirmadas. 

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A criação de uma ogiva nuclear para os mísseis balísticos é um outro projeto sofisticado. As ogivas paquistanesas supostamente não são adaptadas aos mísseis chineses. Os sauditas teriam que comprar os mísseis balísticos paquistaneses – somente neste caso eles poderiam contar com a instalação neles das ogivas feitas em conformidade com as tecnologias paquistanesas.   

No conjunto, esta história continua a ter aspectos estranhos e pouco claros. Será que se trata de mais uma tentativa da Arábia Saudita de atrair a atenção para as possíveis consequências negativas do acordo nuclear estratégico entre o Irã e os EUA? Ora esta tentativa não pode ser considerada como um sucesso.

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