Nas palavras de Dilma Rousseff, “o problema do impeachment é que é sem base real, e não é algo, vamos dizer assim, institucionalizado. Eu acho que tem um caráter muito mais de luta política, ou seja, é muito mais esgrimido como uma arma política. Uma espécie de espada política, mistura de espada e de dama que querem impor ao Brasil”.
A presidenta prosseguiu, afirmando: “A mim não atemorizam com isso [o processo de impeachment]. Eu não tenho temor disso, eu respondo pelos meus atos. E eu tenho clareza dos meus atos.” Ainda de acordo com Dilma Rousseff, “a democracia não é marcada por situações de paz dos cemitérios, mas sim por manifestações de rua, por reivindicações e pela expressão de descontentamento”.
Para o mestre em Ciência Política Ricardo Ismael, professor da PUC – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, as declarações da Presidenta Dilma Rousseff guardam coerência com o que ela vem defendendo desde o início deste ano de 2015. Em entrevista à Sputnik Brasil, o cientista político observou:
“Na minha opinião, há dois motivos para a presidenta agir como vem agindo. Desde o início do ano, Dilma Rousseff vem procurando dar um ar de naturalidade às manifestações de rua, achando que isto é um fato natural e que faz parte da democracia. Por outro lado, a questão do impeachment tem surgido nas manifestações de 15 de março e, depois, de 12 de abril, e, de certa forma, levou a até 60% da população a considerar possível a instauração de um processo de impeachment contra a presidenta da República. Na verdade, a tese do impeachment ainda não foi ‘comprada’, digamos assim, pelos partidos de oposição, em especial o PSDB. De um mês e meio para cá, tem havido um arrefecimento desses possíveis pedidos de impeachment. Então, na entrevista ao jornal mexicano, a presidenta procura deixar claro que a sua popularidade está baixa e que a insatisfação com o seu governo perdura. No Brasil inteiro, há sinais claros de críticas ao governo mas ela tenta minimizar estes fatos ao afirmar que eles fazem parte da democracia. É claro que isso tende a se manter em 2015, principalmente por causa do ajuste fiscal. Por outro lado, a presidenta demonstra perceber que os partidos de oposição não têm base para apresentar um pedido de impeachment. Por tudo isso, ela viaja para o México num momento em que as manifestações de rua e os partidos de oposição, principalmente o PSDB, decidiram adotar uma posição cautelosa em relação a um possível pedido de impeachment.”
O Professor Ricardo Ismael também citou o fato de que as dificuldades econômicas constatadas no final do primeiro mandato levaram a Presidenta Dilma Rousseff a convidar o economista Joaquim Levy, oriundo do PSDB, a assumir o Ministério da Fazenda e, por extensão, o comando da economia. Politicamente, Ricardo Ismael considera que o governo dá sinais de enfraquecimento, e por isso a presidenta confiou a articulação política ao Vice-Presidente Michel Temer, que está conduzindo os entendimentos do Palácio do Planalto com os dois líderes do Congresso: Renan Calheiros, Presidente do Senado, e Eduardo Cunha, Presidente da Câmara dos Deputados.
Na avaliação do cientista político Ricardo Ismael, Dilma Rousseff tem consciência de estar enfrentando uma situação adversa: “Na verdade, o Brasil voltou a registrar, depois de muito tempo, manifestações de rua contrárias ao governo. No caso específico, manifestações contra a Presidenta Dilma Rousseff e contra o seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. A presidenta sabe que tem uma margem pequena de negociação com o Congresso. Ela não controla a agenda do Parlamento e sabe que está cada vez mais dependente do PMDB. Do ponto de vista político, a presidenta sabe que está vivendo um momento difícil e enfraquecido. Já do ponto de vista econômico, Dilma sabe que nem todas as propostas de Joaquim Levy serão aprovadas. Todo este conjunto de situações leva a Presidenta Dilma Rousseff a afirmar que todo este quadro reflete um momento de plena democracia no Brasil.”
Dilma Rousseff seguiu para o México nesta segunda-feira (25), e deverá permanecer naquele país até quarta-feira (27). O objetivo principal da sua viagem é ampliar as relações bilaterais. Uma das missões da presidenta será convencer seu colega, o Presidente Enrique Peña Nieto, e o governo mexicano a diminuir as barreiras tarifárias impostas aos produtos brasileiros.
Entre os acordos bilaterais que deverão ser assinados entre Brasil e México, um deles é chamado nos meios diplomáticos de Cooperação e Facilitação de Investimentos, que estabelece regras para fechamento de negócios e seus respectivos marcos regulatórios, além de apresentar mecanismos de prevenção e solução de controvérsias. O Brasil tem acordos do gênero firmados com dois países da África, Moçambique e Angola.
Dilma também deverá assinar um acordo sobre serviços aéreos e um memorando de entendimento para cooperação turística. Os presidentes dos dois países também poderão constituir uma comissão binacional, chefiada pelos respectivos chanceleres e composta por membros dos Ministérios brasileiro e mexicano.
O México é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos. Os investimentos mexicanos no Brasil chegam a 23 bilhões de dólares por ano. Já os investimentos do Brasil no México são da ordem de 2 bilhões de dólares por ano.
Há dois grandes projetos em andamento. O primeiro é o polo petroquímico Etileno XXI, operado pela empresa brasileira Braskem e pela mexicana Idesa, no Estado de Veracruz, no valor aproximado de 5 bilhões de dólares. O segundo é um complexo siderúrgico da Gerdau, avaliado em 600 milhões de dólares. Enrique Peña Nieto e Dilma Rousseff deverão anunciar ainda a realização de negócios conjuntos entre as duas maiores petroleiras do México e do Brasil, Pemex e Petrobras.