O pedido de impeachment, conforme determina a lei que define os crimes de responsabilidade, só pode ser apresentado em relação ao exercício do mandato em vigor. Desta forma, entende o Professor Reale Jr., o pedido seria imediatamente arquivado pelo procurador-geral da República antes mesmo do seu possível encaminhamento ao Supremo Tribunal Federal.
Já a ação penal pode ser baseada em feitos passados, registrados no primeiro mandato de Dilma Rousseff. O objeto desta ação penal são as chamadas “pedaladas fiscais.”
O especialista Creomar de Souza, da Pontifícia Universidade Católica de Brasília, analisa as ações da oposição: “O que nós temos hoje é que a oposição, tendo em vista a debilidade do Governo em termos de agenda política, começou a construir alternativas. E nesse sentido teve dois discursos, sobretudo dentro do principal partido oposicionista, que é o PSDB. Um discurso de primeira ocasião, que era gerado principalmente pelo Senador Aécio Neves, em que se defendia de forma muito firme o impeachment, e outro discurso, de membros igualmente importantes do partido – o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o Senador José Serra –, defendendo que não era aquele o caminho.”
Uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União constatou que em 2014 o Governo atrasou repasses para bancos públicos, como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, para o pagamento de benefícios sociais como a Bolsa Escola e a Bolsa Família. Para o Professor Miguel Reale Jr., os bancos pagaram em dia, e cobraram juros, o que configuraria empréstimo de banco público ao Tesouro, prática proibida pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
O Professor Creomar de Souza observa que “é muito importante neste momento que todos os atores políticos tenham posturas responsáveis”. Nesse sentido, ele acredita que “o PSDB acabou acolhendo aquilo para o qual o ex-Presidente Fernando Henrique chamou a atenção repetidas vezes, no momento em que o Senador Aécio Neves fazia a conclamação pelo impeachment”. Fernando Henrique Cardoso, diz Creomar de Souza, “apelava para um discurso responsável do ponto de vista institucional, e esse discurso hoje vai ganhando validade a partir do jurista Miguel Reale Júnior”.
Ao concluir sua entrevista exclusiva à Sputnik, Creomar de Souza recomenda: “O que nós devemos entender – e isso faz parte do processo de amadurecimento e de cidadania democrática – é que não é porque um governo toma decisões que não nos agradam que ele deve ser retirado. Efetivamente, há um compromisso eleitoral firmado no qual a Presidenta Dilma Rousseff foi eleita. Isso é um fato, e o processo eleitoral brasileiro é um dos mais transparentes do planeta.”