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Opinião: Priorizar comércio exterior pode ser a saída para a crise econômica do Brasil

© Roberto Stuckert Filho/ PRDilma Rousseff se encontra com o presidente Enrique Peña Nieto, no Palácio Nacional, sede do governo mexicano
Dilma Rousseff se encontra com o presidente Enrique Peña Nieto, no Palácio Nacional, sede do governo mexicano - Sputnik Brasil
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Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o economista Renato Baumann acredita que priorizar o comércio exterior pode ser a saída para a crise econômica no Brasil. Diretor de Estudos de Relações Econômicas e Políticas Internacionais do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ele avalia a visita da Presidenta Dilma Rousseff ao México.

Dilma Rousseff, presidente do Brasil. - Sputnik Brasil
Visita de Dilma amplia parceria Brasil-México
Em visita de Estado ao México que terminou nesta quarta-feira (27), a Presidenta Dilma Rouseff firmou muitos e importantes acordos econômicos. Entre os documentos assinados, um dos destaques é o Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos, que fixa as regras de cada nação para fechar negócios dentro de seus respectivos marcos regulatórios e define os mecanismos para redução de riscos e prevenção de controvérsias. Para a Presidenta Dilma, o acordo é um avanço substancial  para incrementar os investimentos entre as duas maiores economias da América Latina. Dilma e o presidente mexicano Enrique Peña Nieto assinaram ainda acordos para os setores de serviços aéreos, pesca e aquicultura, turismo, agricultura tropical, desenvolvimento sustentável e cooperação científica e tecnológica.

O economista Renato Baumann, diretor de Estudos de Relações Econômicas e Políticas Internacionais do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, analisa a aproximação entre Brasil e México como natural, de reconhecimento de que há um potencial a ser explorado, e que deve ser explorado no mais breve espaço de tempo possível. “O México tem algumas vantagens competitivas no mercado dos EUA pela proximidade geográfica, pela concentração geográfica das indústrias, próxima da fronteira americana”, diz Baumann. “Mas é óbvio que o comércio existente hoje deixa muito a desejar, e é um potencial evidente a ser explorado.”

Dilma Rousseff se encontra com o presidente Enrique Peña Nieto, no Palácio Nacional, sede do governo mexicano - Sputnik Brasil
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Dilma Rousseff busca diminuir barreiras tarifárias do México aos produtos brasileiros
O economista concorda com a declaração do subsecretário-geral para a América do Sul, Central e Caribe do Itamaraty, o diplomata Antônio Simões, de que o que se busca na relação Brasil-México, na medida do possível, é uma liberalização integral do comércio, ao invés de usar a expressão “livre comércio” entre os países.

Segundo Renato Baumann, um acordo de livre comércio implicaria na eliminação da totalidade ou da maior parte das tarifas ou das barreiras comerciais entre duas ou mais economias, e a aproximação entre Brasil e México não está nessa esfera, está longe disso. “O que está se tentando aqui é ampliar o número de produtos que podem ser beneficiados, mas isso nem de perto chega à totalidade da pauta comercial, nem do Brasil, nem do México. Nesse sentido, Antônio Simões tem razão.”

Atualmente, o acordo vigente entre os dois países alcança apenas 800 produtos, dos quais apenas 45% têm tarifa zero. O percentual, para o economista do IPEA, é limitado, se consideramos que a pauta comercial brasileira é de 15 mil itens. “Se passarmos de 800 para 1.600 produtos, ou seja, se dobrar esse número, já será um ganho substantivo, mas ainda assim está longe de ser um acordo de livre comércio entre Brasil e México.”

A expectativa da Presidenta Dilma Rousseff é de que se dobre o comércio entre os dois países em poucos anos. Em 2014, a balança comercial Brasil-México foi de US$ 9 bilhões, o que para Renato Baumann é uma cifra muito modesta. “Da mesma forma que o Brasil com os BRICS, os números que têm aparecido na imprensa na relação com o México mostram que o Brasil é um absorvedor líquido muito mais expressivo de investimento direto do que um investidor lá fora. Nos BRICS é a mesma coisa: dos 5 países que o compõem, somos o que mais recebe e menos investe nos demais. A mesma coisa se observa com o México. Se isso é aceitável ou não de parte a parte, vamos ver, mas é um fato.”

Encontro entre Dilma Rousseff e Enrique Peña Nieto, durante a sétima edição da Cúpula das Américas, na Cidade do Panamá, em abril passado - Sputnik Brasil
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Dilma Rousseff no México: visita reúne as duas maiores economias da América Latina
O economista acredita que os resultados da expansão das relações entre Brasil e México só vão ser sentidos em médio prazo, pois as negociações vão além da parte estritamente comercial. “Se as negociações incluírem compras governamentais, setor de serviços, não vai bastar apenas que diplomatas de parte a parte negociem tarifas, pois aí se envolvem mudanças em legislações nacionais, e essas coisas tomam tempo.”

Renato Baumann espera que hoje a nova prioridade da política externa brasileira seja o comércio exterior, pois em parte seria uma saída para a crise político-econômica que o Brasil está enfrentando. “Já não era sem tempo. É preciso muito mais ativismo do que a gente tem observado nos últimos anos. é preciso fazer mudanças significativas na postura brasileira. No início dos anos 1980 e 1990, boa parte do dinamismo foi proporcionado, pelo menos no momento inicial, com vendas ao setor externo – é o que todo o mundo faz. Esta ainda é uma economia relativamente fechada, mas é ilusório pensar que nós vamos ser uma Hong Kong ou uma Holanda, onde se tem o comércio acima de 100% do PIB. Isso não vai acontecer. É uma economia grande, mas em situações de baixo crescimento. Uma reativação da demanda via demanda externa é sempre bem-vinda, e pode ser uma saída para o país.”

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