O economista Renato Baumann, diretor de Estudos de Relações Econômicas e Políticas Internacionais do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, analisa a aproximação entre Brasil e México como natural, de reconhecimento de que há um potencial a ser explorado, e que deve ser explorado no mais breve espaço de tempo possível. “O México tem algumas vantagens competitivas no mercado dos EUA pela proximidade geográfica, pela concentração geográfica das indústrias, próxima da fronteira americana”, diz Baumann. “Mas é óbvio que o comércio existente hoje deixa muito a desejar, e é um potencial evidente a ser explorado.”
Segundo Renato Baumann, um acordo de livre comércio implicaria na eliminação da totalidade ou da maior parte das tarifas ou das barreiras comerciais entre duas ou mais economias, e a aproximação entre Brasil e México não está nessa esfera, está longe disso. “O que está se tentando aqui é ampliar o número de produtos que podem ser beneficiados, mas isso nem de perto chega à totalidade da pauta comercial, nem do Brasil, nem do México. Nesse sentido, Antônio Simões tem razão.”
Atualmente, o acordo vigente entre os dois países alcança apenas 800 produtos, dos quais apenas 45% têm tarifa zero. O percentual, para o economista do IPEA, é limitado, se consideramos que a pauta comercial brasileira é de 15 mil itens. “Se passarmos de 800 para 1.600 produtos, ou seja, se dobrar esse número, já será um ganho substantivo, mas ainda assim está longe de ser um acordo de livre comércio entre Brasil e México.”
A expectativa da Presidenta Dilma Rousseff é de que se dobre o comércio entre os dois países em poucos anos. Em 2014, a balança comercial Brasil-México foi de US$ 9 bilhões, o que para Renato Baumann é uma cifra muito modesta. “Da mesma forma que o Brasil com os BRICS, os números que têm aparecido na imprensa na relação com o México mostram que o Brasil é um absorvedor líquido muito mais expressivo de investimento direto do que um investidor lá fora. Nos BRICS é a mesma coisa: dos 5 países que o compõem, somos o que mais recebe e menos investe nos demais. A mesma coisa se observa com o México. Se isso é aceitável ou não de parte a parte, vamos ver, mas é um fato.”
Renato Baumann espera que hoje a nova prioridade da política externa brasileira seja o comércio exterior, pois em parte seria uma saída para a crise político-econômica que o Brasil está enfrentando. “Já não era sem tempo. É preciso muito mais ativismo do que a gente tem observado nos últimos anos. é preciso fazer mudanças significativas na postura brasileira. No início dos anos 1980 e 1990, boa parte do dinamismo foi proporcionado, pelo menos no momento inicial, com vendas ao setor externo – é o que todo o mundo faz. Esta ainda é uma economia relativamente fechada, mas é ilusório pensar que nós vamos ser uma Hong Kong ou uma Holanda, onde se tem o comércio acima de 100% do PIB. Isso não vai acontecer. É uma economia grande, mas em situações de baixo crescimento. Uma reativação da demanda via demanda externa é sempre bem-vinda, e pode ser uma saída para o país.”