A Comissão realizou uma audiência pública sobre as pesquisas de vacinas contra a doença com os dois laboratórios que desenvolvem o trabalho no país.
Atualmente estão sendo pesquisadas no mundo seis vacinas contra a doença. A mais avançada delas está no Brasil, desenvolvida pelo laboratório Sanofi-Pasteur e que já passou pelas três fases necessárias de pesquisa e também já está protocolada na Anvisa desde março.
Segundo a diretora do laboratório para a América Latina, Lucia Bricks, já há estoques para a vacina ser usada no segundo semestre, e a capacidade de produção é de 100 milhões de doses por ano. A vacina imuniza contra os quatro tipos de vírus da dengue e foi testada em 40 mil pessoas de 15 países, com resultado de redução de 60% da dengue sintomática e diminuição em 95% da doença grave.
Outra vacina contra a dengue está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo. De acordo com o diretor substituto do Instituto, Marcelo de Franco, já estão demonstradas a segurança e a extrema potencialidade da vacina contra a dengue, e, se as pesquisas entrarem na fase três antes do registro da vacina do laboratório Sanofi, o processo de finalização será mais rápido.
A pesquisa do Butantan, porém, pode se inviabilizar devido aos custos. “Pelas normativas da Anvisa para medicamentos, se eles conseguirem o registro antes da gente ter a autorização para a fase três, nós teremos que fazer um teste de comparação com a deles. Nós teremos que aumentar o número de voluntários em quase quatro vezes, o que praticamente inviabilizaria em termos de custos, porque quadruplica o custo que se precisaria para fazer o estudo.”
No trabalho desenvolvido originalmente pelo Instituto Butantan o plano é de testar a vacina com até 17 mil voluntários em todo o Brasil, e ainda fazer estudos paralelos no exterior, onde o Instituto tem dois laboratórios parceiros.
A vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan é em dose única, e a da Sanofi-Pasteur prevê três doses com intervalo de seis meses.
A diretora do Sanofi-Pasteur, Lucia Bricks, disse que o sonho era ter uma vacina que desse imunidade total e em dose única, mas a realidade é que por enquanto a maior parte das vacinas no Brasil é em mais de uma dose, e elas também não protegem totalmente. “A maioria das vacinas não chega a proteger 100% da população, a proteção é variável. Neste momento, a única vacina que demonstrou um programa muito robusto, que cumpriu todas as três etapas de estudos clínicos necessários ao registro, é a da Sanofi-Pasteur."
Apesar da possibilidade de o Brasil sair na frente no desenvolvimento de uma vacina de combate à dengue, o diretor da Anvisa Renato Alencar Porto chama a atenção de que a situação ainda é complexa e que não se pode prever ainda um prazo para quando o Brasil vai efetivamente poder oferecer o medicamento para a população. "Nós não falamos em prazo. Isso é muito difícil. A complexidade é muito grande. Registrar uma vacina sendo a primeira e com todo esse diferencial, com diversos tipos de vírus, com a quantidade de dados muito grande, não falamos em prazo. Nosso compromisso é fazer a avaliação desse dossiê da maneira mais rápida possível, garantindo que essa vacina seja registrada, se assim for, com eficácia, qualidade e segurança comprovadas."
Também presente na audiência pública da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara, o coordenador-geral do Programa Nacional de Controle da Dengue do Ministério da Saúde, Giovanini Evelim Coelho, explicou que o Ministério vai definir áreas e grupos etários que vão ser prioritários para a vacinação quando ela estiver disponível.
Giovanini Coelho garantiu que o Ministério da Saúde está apoiando a realização de estudos para preparar o SUS – Sistema Único de Saúde para receber as vacinas. "Basicamente, esses estudos visam a definir áreas e grupos etários que serão prioritários para a vacinação quando essa vacina estiver disponível. Ou seja, nós nos antecipamos exatamente por entender que a vacina da dengue, num primeiro momento, terá pouca oferta, e é necessária a priorização nesse processo de vacinação."
Segundo o coordenador, além das pesquisas para o desenvolvimento da vacina, paralelamente o Ministério da Saúde possui um programa permanente contra a dengue com repasse de verbas para que Estados e municípios realizam atividades de prevenção e controle da doença. Neste ano, além dos recursos de rotina, foram repassados ainda por conta da situação de epidemia no país R$ 150 milhões para as secretarias estaduais e municipais de saúde.