“Quem poderia pensar que seria possível que, 25 anos depois do fim da Guerra Fria, a ordem pacífica europeia seria posta em causa pela anexação da Crimeia? Ou que a expansão do vírus ebola poderia desestabilizar vários países africanos e atrasar o seu desenvolvimento? Ou que no Oriente Médio uma organização terrorista islamista [Estado Islâmico] tentaria estabelecer um assim chamado Califado no território de dois países?”
A palavra "anexação" usada por Merkel em relação à Crimeia provocou críticas por parte das autoridades russas.
A chanceler alemã Angela Merkel utilizou terminologia incorreta quando se referiu à Crimeia que, segundo ela, foi “anexada pela Rússia” em vez de dizer que se reunificou com a Rússia, disse nesta quarta-feira (2) o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov.
“Se não me engano, a senhora Merkel cometeu um erro na sua declaração em termos de terminologia. Utilizou a palavra ‘anexação’, mas não ‘reunificação’. Acreditamos que isso é uma definição incorreta”, manifestou.
A reunificação voluntária da Crimeia com a Rússia é legítima segundo as leis atuais, inclusive segundo as leis ucranianas, sublinhou Peskov.
“Acontece que a Crimeia não era uma ameaça à ordem mundial ou europeia mas muito provavelmente terá sido um momento em que a Europa “iluminada” e democrática abençoou a mudança de poder pela força num país europeu, mais precisamente na Ucrânia. Isto provavelmente tornou-se o ponto de viragem na atual ordem europeia e mundial"
Em março de 2014, 96 por cento dos participantes de referendo na Crimeia votaram em favor de reunificação com a Rússia depois de a península declarar independência da Ucrânia.
A chanceler alemã sublinhou que todos estes exemplos de ameaças estarão na agenda da cúpula que será realizada no dia 7 e 8 de junho.
Merkel também manifestou que “o G7 não pode enfrentar todos os desafios globais”. Entretanto, essa declaração contradiz a decisão dos líderes do G7 de não convidar a Rússia a participar da cúpula. A decisão foi criticada por vários políticos e empresários alemães.
É curioso sublinhar que as três maiores ameaças mencionadas por Merkel coincidem completamente com a lista de desafios apresentada pelo presidente americano na sessão da Assembleia Geral da ONU em 24 de setembro.
“Enquanto estamos aqui, o surto de ebola ataca os sistemas de saúde na África Ocidental e ameaça expandir-se rapidamente para fora da região. A agressão da Rússia na Europa fez lembrar os dias em que grandes nações ameaçavam as pequenas, perseguindo suas próprias ambições territoriais. A violência dos terroristas na Síria e no Iraque faz-nos olhar para o coração do mal”.
Não convém colocar a própria culpa nos ombros dos outros, disse na altura o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov comentando o discurso de Obama:
“A julgar pelo discurso do senhor Obama, à Rússia coube a honra de ocupar o segundo lugar entre as ameaças à paz e à segurança globais [no discurso de Merkel a Rússia também ocupou o segundo lugar]. Na primeira posição está o vírus ebola e, no segundo lugar, conforme salientou Barack Obama – a “agressão russa na Europa”. Assim, no terceiro lugar se viram o Estado Islâmico, a Al-Qaeda e os demais terroristas que operam hoje no Oriente Médio, antes de mais, nos países atingidos pela intervenção dos EUA em violação das normas do direito internacional. O discurso de Barack Obama apresenta o enfoque norte-americano dos acontecimentos ocorridos no mundo. É uma visão do país que, em sua doutrina de segurança nacional, reservou a si um direito exclusivo de, independentemente de resoluções do CS da ONU ou de outros atos jurídicos internacionais, empregar a força à sua livre vontade. Acho que o ‘discurso de pacificação’ não deu certo”.
Entretanto, apesar da preocupação sobre o avanço de terrorismo no Oriente Médio exprimidos pelo presidente estadunidense e agora pela chanceler alemã Angela Merkel, os últimos acontecimentos na cidade de Ramadi no Iraque mostram a inação dos países ocidentais na luta contra o Estado Islâmico.