Após uma primeira apuração das urnas, emissoras de televisão turcas revelaram que o AKP ficou em primeiro lugar com pouco mais de 40,80% dos votos, correspondentes a 256 do total de 550 deputados do Parlamento, e será pela primeira vez em muitos anos obrigado a formar um governo de coligação.
Os resultados finais do pleito, no entanto, segundo revelou em Ancara o chefe do Conselho Supremo Eleitoral do país, Sadi Guven, serão divulgados somente daqui a 11–12 dias. Em comunicado oficial, Guven declarou que quatro partidos conseguiram ultrapassar a barreira dos 10% de votos necessários para entrar na Grande Assembleia Nacional da Turquia.
Os resultados das eleições foram comentados em entrevistas exclusivas à agência Sputnik por representantes desses três partidos de oposição.
O presidente do grupo parlamentar do Partido Republicano do Povo (CHP), Akif Hamzacebi, destacou que a presente escolha do povo turco simboliza o início de um novo, estável e próspero período na história do país.
"Os eleitores defenderam o sistema parlamentar de governo, expressando seu protesto contra os planos do presidente Erdogan de transformar a Turquia numa república presidencial. O povo turco fez uma escolha a favor de liberdades e direitos legítimos. Os eleitores não querem viver em um país autoritário, que interfere na vida particular de seus cidadãos. Eles exigem que o líder do país cumpra o princípio de neutralidade" – disse Hamzacebi.
Por sua vez, o vice-presidente do grupo parlamentar do Partido de Ação Nacionalista (MHP), Yusuf Halacoglu, acredita que o enfraquecimento do partido no poder (AKP) e perda de apoio popular pelo mesmo foram provocados em grande parte pelo uso de métodos claramente desleais de campanha política.
"O governo fez uso de recursos estatais. Apesar de ter a obrigação de cumprir o princípio de neutralidade e imparcialidade, o Presidente Erdogan promoveu atos em apoio ao AKP. Essa política, no entanto, culminou em resultados completamente opostos – seu partido perdeu cerca de 3 milhões de votos. As atuais eleições parlamentarem podem ser consideradas como um referendo sobre a confiança ao atual presidente" – frisou Halacoglu.
Pervin Buldan, vice-presidente do grupo parlamentar do Partido Democrático do Povo (HDP), que pela primeira vez conseguiu quebrar a barreira mínima de 10% dos votos para ganhar representação no parlamento, comentou as eleições da seguinte forma:
"Chegou o tempo de uma nova Turquia. Após as eleições de ontem nada será como antes em nosso país. Recebemos os votos daquela parcela da população que acredita na irmandade dos povos e defende a paz na região e a regulação do problema curdo. As pessoas manifestaram a sua vontade e venceram a luta contra a opressão. Apesar de todas as violações, truques e fraudes, os eleitores foram capazes de ensinar uma lição séria ao AKP, e que deverá ser assimilada. Agradeço sinceramente a todas as pessoas que deram seus votos pelo nosso partido e espero que a nossa política seja baseada na fraternidade dos povos, nos princípios democráticos e no respeito das liberdades das pessoas".
Também em entrevista a Sputnik, o Presidente da Sociedade Para a Proteção dos Direitos Humanos na Turquia, Ozturk Turkdogan, destacou que quem de fato venceu as eleições parlamentares em seu país foi a democracia.
"Em primeiro lugar, quero destacar que os resultados das eleições parlamentares de ontem na Turquia demonstraram a vitória das forças democráticas e do desejo de paz. O sistema eleitoral, que de forma antidemocrática possui o mais alto limiar do mundo (10%), demonstrou a sua inconsistência graças a superação dessa barreira pelo Partido Democrático do Povo (HDP). Tal resultado representa uma prova viva do compromisso da população para com os princípios democráticos, apesar de todos os obstáculos anti-democráticos. Partidos políticos representando todas as camadas da população turca receberam um número suficiente de votos para ingressar no parlamento. É claro que por conta da barreira eleitoral alguns partidos menores não tiveram a mesma sorte. Apesar disso, cerca de 95% da população da Turquia obteve sua representação no parlamento. Desse ponto de vista, pode-se dizer que foi a democracia quem venceu as eleições de 7 de junho" – disse Turkdogan.