Respondendo à pergunta sobre a possibilidade de o Brasil ter uma postura mais firme e talvez agir de forma mais contundente em relação às turbulências políticas na Venezuela, que resultaram em múltiplos confrontos entre as autoridades venezuelanas e a oposição, Dilma negou essa possibilidade porque o Brasil não interfere nos assuntos internos dos vizinhos e não quer agir com “um porrete na mão”:
“Nós não somos golpistas no Brasil, nós não somos a favor de interferências e intervenções dentro de países irmãos. Nós não fazemos isso. Nós somos um país eminentemente pacífico”, frisou.
Dilma assegurou que o Brasil nunca virará as costas para a Venezuela, apesar de tal desejo por parte de alguns países.
“Muita gente gostaria que nós tivéssemos uma posição de distanciamento em relação à Venezuela, muitos defenderam isso também para a Bolívia logo que o presidente Evo [Morales] assumiu”.
A presidente brasileira também explicou a sua visão da estratégia que o Brasil deve seguir nos assuntos latino-americanos.
“Nós não seremos jamais um poder regional com o porrete na mão. Para ser poder regional não precisa ser um interventor, você tem que ser capaz de entender as sociedades e lutar pelas transformações de uma forma que não seja a intervenção”.
A frase declarada por Dilma sobre a ausência de vontade de agir com o porrete nas mãos pode-se referir à famosa estratégia estadunidense do Big Stick (Grande Porrete, em português). Este termo foi usado pelo presidente dos EUA Theodore Roosevelt e consiste em uma interpretação mais ampla da doutrina Monroe. As intenções desta política eram proteger os interesses dos EUA na América Latina, inclusive com uso de força e intervenção nos assuntos dos países da região. Desta forma, Dilma supostamente quer contrapor a política do Brasil à dos EUA e evitar os erros cometidos por Washington, que, segundo alguns especialistas, acabaram por resultar em perda de influência dos EUA nos países da América Latina e no crescimento da presença dos países dos BRICS na região.
O historiador brasileiro João Cláudio Platnik Pitillo, falando com exclusividade à Sputnik Brasil, comentou a entrevista da presidente, e classificou o pronunciamento de Dilma Rousseff como “muito feliz e oportuno, porque as pressões vindas dos Estados Unidos são muito grandes, e vêm há muito tempo, principalmente direcionadas à Venezuela”.
O Professor Pitillo acrescentou: “Não é sempre que o Brasil se manifesta de forma tão clara com relação à sua política externa.”
Sobre a frase de Dilma à Deutsche Welle – “Nós não somos golpistas” –, o historiador comentou: “Este é outro recado que ela envia para o Governo norte-americano. Os Estados Unidos transformaram a Colômbia num seu protetorado. Há sete bases militares americanas na Colômbia, com o pretexto de combater o tráfico de drogas – que nós sabemos que não combateram, pois essas bases estão lá para combater a insurgência. Isso é um problema interno da Colômbia, que diz respeito à autodeterminação dos povos.”
O Professor João Cláudio Pitillo relembra: “Há 60 anos se realizou a Conferência de Bandung, na Indonésia, que reuniu os países não alinhados da época, e a palavra de ordem de então era ‘autodeterminação’. Hoje, esta palavra continua em voga para a América Latina, porque os ambientes de golpe de Estado patrocinados pelos Estados Unidos continuam no século XXI.”
“A Presidenta Dilma Rousseff marcou bem a sua posição, ao dizer que o Brasil não é golpista”, concluiu Pitillo.