"É uma situação no mínimo curiosa esta que o jornal francês ‘Libération’ e os sites Mediapart e WikiLeaks revelaram, dando conta de que os principais atores do cenário político francês, inclusive os três últimos presidentes, Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e François Hollande, foram grampeados pelos Estados Unidos, da mesma forma como a Presidenta Dilma Rousseff e a Chanceler Angela Merkel, da Alemanha, haviam sido grampeadas com escutas da NSA, a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos. É curioso porque a reação dos franceses é bastante forte (no sentido de que o Presidente François Hollande classificou as escutas como inaceitáveis), é uma reação que, ao mesmo tempo, não demonstra muita vontade política dos franceses de afrontarem os Estados Unidos. O Presidente Hollande convocou uma reunião de emergência com os oficiais do Conselho de Segurança da França, e após essa reunião houve uma ligação e uma conversa entre os Presidentes Hollande e Barack Obama."
"Foi uma conversa muito engraçada", comenta Mielniczuk. “A imprensa – tanto a norte-americana quanto a francesa – divulgou palavras do Presidente Obama garantindo aos aliados franceses que desde o fim de 2013 os Estados Unidos não estão envolvidos em nenhuma atividade de escuta sobre as autoridades francesas. Mas aquilo que o WikiLeaks revelou, junto com o ‘Libération’ [o fato de terem ocorrido escutas telefônicas de 2006 a 2012], não foi negado pelos Estados Unidos.”
O professor de relações internacionais e ex-coordenador do BRICS Policy Center, da Universidade Católica do Rio de Janeiro, continua: "Os governos dos países aliados devem demandar explicações dos Estados Unidos, e este país deve se comprometer a não agir mais dessa forma. Na França há uma tradição bastante enraizada, de querer uma certa autonomia da Europa frente à presença norte-americana. Isso remonta à Presidência de Charles de Gaulle, nos anos 60, e a toda a relação da França ao sair da estrutura militar da OTAN por conta da presença norte-americana, que era bastante incômoda aos franceses. Mas me parece que, apesar disso, François Hollande não vai conseguir avançar nenhuma medida prática, objetiva, para querer uma retaliação em relação aos americanos ou, pelo menos, um pedido de desculpas, que é o caso que temos aqui no Brasil. O Brasil exigiu um pedido formal de desculpas dos Estados Unidos pela espionagem sobre os brasileiros, sobre empresas como a Petrobras e sobre a própria Presidenta Dilma Rousseff, Mas, infelizmente, até hoje este pedido não foi apresentado."