Representantes do Ministério das Relações Exteriores concederam entrevista coletiva para fazer um briefing sobre os focos da viagem, que tem como objetivo principal ampliar as relações comerciais e políticas entre os dois países.
Segundo o subsecretário-geral político do Ministério das Relações Exteriores, Embaixador Carlos Antônio da Rocha Paranhos, a visita de Dilma marca uma importante retomada do diálogo entre os dois países, tanto do ponto de vista político quanto comercial. "Eu acho que é importante contextualizar essa visita como um importante momento de retomada de contatos com a vertente política no mais alto nível, o próprio Presidente Obama e representantes de diferentes áreas do governo norte-americano, com a área empresarial tanto em Nova York quanto na Califórnia, e com a área de ciência em tecnologia e inovação. Durante a visita, além dos temas essencialmente bilaterais, também serão tratados temas da agenda internacional, como reforma das Nações Unidas, ampliação do Conselho de Segurança, crises regionais e situação internacional em geral."
Esta vai ser a primeira visita oficial da presidente aos EUA, após Dilma ter cancelado viagem àquele país em 2014, depois de denúncias de espionagem virem à tona pelo ex-prestador de serviços da Agência de Segurança Nacional americana, Edward Snowden, revelando que os EUA monitoravam as atividades de outros países e de seus líderes, incluindo a Presidenta Dilma e a chanceler alemã, Angela Merkel.
De acordo com o Embaixador Paranhos, pelos últimos encontros entre Dilma e Obama, o assunto de espionagem entre os países já foi resolvido e superado há muito tempo. "Essa visita da presidenta foi cuidadosamente planejada, e precedida de uma série de contatos de alto nível, não só conversas diretas com o Presidente Barack Obama, frente a frente no Panamá, mas também por telefone e com o Vice-Presidente Joe Biden. Eu acho importante não tentar requentar esse assunto, que a essa altura já está para lá de resolvida entre os dois países."
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, os Estados Unidos ocupam hoje a posição de segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China, e o intercâmbio comercial tem crescido continuamente. Os EUA representam 13,7% do total de comércio exterior do Brasil.
O Embaixador Carlos Antônio da Rocha Paranhos chama atenção ainda que a Presidenta Dilma vê na visita aos Estados Unidos uma grande oportunidade de mostrar a importância da retomada de investimentos norte-americanos no Brasil, no momento em que o Governo acaba de lançar o Plano de Investimentos em Logística, que prevê até 2018 concessões em áreas como aeroportos, portos, rodovias e ferrovias, com estimativa de que o pacote envolva R$ 198,4 bilhões em investimentos. "Haverá oportunidade para que a presidente apresente a diferentes interlocutores, inclusive nas áreas financeira e empresarial, o Plano de Ajuste Fiscal que o Brasil está atravessando. E, sobretudo, que transmita a mensagem da importância no contexto de retomada de relações, da captação de investimentos norte-americanos, da retomada do diálogo e da ação no plano econômico-financeiro, num momento em que estamos implantando um novo e importante programa de investimentos na área de infraestrutura."
O diretor de Promoção Comercial do Itamaraty, Rodrigo de Azevedo, deu explicações sobre o intercâmbio comercial do Brasil com os EUA, que em 2014 superou US$ 62 bilhões. Deste total, US$ 27 bilhões foram exportações brasileiras e US$ 35 bilhões foram exportações dos Estados Unidos, o que representa um déficit na balança comercial do Brasil com os EUA de US$ 8 bilhões. Mesmo assim, Rodrigo de Azevedo ressaltou que tem havido uma recuperação do fluxo comercial, e que o mercado americano é muito importante para a indústria brasileira. "As nossas exportações para os EUA correspondem a um mercado que absorve uma boa parte das nossas exportações de manufaturados, um mercado extremamente importante para exportações de bens industriais brasileiros. Eu posso citar alguns setores, como o de máquinas, o de equipamentos, o setor siderúrgico, de ferro e aço, de aviões da Embraer. O fato de nós termos acumulado ao longo dos anos algum déficit comercial com os EUA pode ser explicado por diversas razões, mas o que a gente percebe é que tem havido uma recuperação, e, como eu disse, trata-se de um mercado importantíssimo."
Rodrigo de Azevedo aproveitou para destacar ainda o importante encontro que a Presidenta Dilma vai ter na Califórnia, nas áreas aeroespacial, de TI, de Biotecnologia e de Biomedicina. "A presidente vai ter um encontro contando com o apoio da empresa Boeing e com outras empresas americanas do setor aeroespacial. A Embraer também foi convidada, e sabemos que novas empresas americanas estão interessadas em fazer negócios com a Embraer, sobretudo na área de pesquisa e desenvolvimento para o setor aeroespacial. No setor de TI, a Presidenta Dilma vai fazer uma visita ao Google. Eles querem também anunciar novos empreendimentos do Google no Brasil. Outras empresas também vão poder a presidente sobre suas intenções, seja de ampliar, seja de desenvolver parcerias tecnológicas e de inovação com o Brasil. Há também uma visita ao Instituto de Pesquisa da Universidade de Stanford, na Califórnia, mais voltada para as questões de Biotecnologia e Biomedicina, e a nossa intenção é aproximar aquele instituto de instituições brasileiras privadas ou públicos que trabalham também nesse setor."
Outros acordos e negociações entre o Brasil e os Estados Unidos também estarão em discussão durante a visita da Presidenta Dilma àquele país.
O subsecretário-geral político do Ministério das Relações Exteriores, Embaixador Carlos Antônio da Rocha Paranhos, destaca as questões de energias renováveis e as mudanças climáticas, numa preparação para o que vai ser discutido na COP 21 – Conferência das Partes das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, que acontecerá em novembro na França. "Um dos tópicos mais importantes a serem tratados é justamente essa questão de mudança climática e da preparação dos dois países para a grande reunião da Conferência das Partes, que vai acontecer em Paris no final do ano. Espera-se que os dois governos adotem uma declaração sobre compromissos em matéria de mudança de clima, agora por ocasião da visita presidencial. Sobre as energias renováveis, é óbvio que isso faz parte da agenda de discussão bilateral em termos de retomada sobre esses temas. Sabemos que tanto o Brasil quanto os EUA têm grande interesse nisso, e é preciso afinar os entendimentos em relação a diferentes tipos de energias renováveis."
O Embaixador Paranhos também destacou que outra questão que deve ser finalizada é a da exportação da carne brasileira para os Estados Unidos. "Sobre o agronegócio, o grande interesse neste campo é a formalização de entendimentos sobre a abertura recíproca dos mercados para a carne. É uma questão que vem sendo tratada há muito tempo. Sabemos que os EUA estão finalizando e deverão anunciar o término do processo de análise da situação da carne brasileira para permitir o acesso ao mercado norte-americano de carne do Brasil. São discussões técnicas que têm ocorrido entre técnicos do Ministério da Agricultura do Brasil e norte-americanos, para assegurar que haja perfeito entendimento em matéria de normas que permitam o acesso de carnes americanas ao Brasil e de carnes brasileiras aos Estados Unidos."
Sobre a questão de liberação de vistos entre os dois países, o subsecretário-geral político do Ministério das Relações Exteriores disse que há uma expectativa de que durante a visita de Dilma aos EUA os países anunciem a entrada do Brasil ao programa Global Entry, que permite a entrada em território norte-americano sem passar pelas filas de imigração, no caso de pessoas que são viajantes frequentes. "As negociações estão bem avançadas, e há uma disposição política entre os dois países de anunciar isso durante a visita. Há duas coisas que são distintas: uma é o programa Global Entry, que estabelece uma espécie assim de trâmite rápido para a entrada em território norte-americano – é um programa para viajantes frequentes, que está sendo negociado. A outra questão é a da isenção de visto. Isso é uma questão de mais longo prazo, e é importante separar bem a questão para não criar a expectativa de que haveria um anúncio de isenção de visto, que não vai ser o caso."
Dentro deste assunto, o Embaixador Paranhos ressaltou: "Haverá também um importante acordo entre os dois países na área de Previdência Social, e que permitirá tanto a brasileiros vivendo nos EUA quanto a norte-americanos vivendo no Brasil beneficiar-se das contribuições às respectivas previdências sociais e da harmonização das suas contribuições, de maneira que não haja prejuízo por interrupção de contribuições ou por migração de contribuições de um sistema para outro."
A Presidenta Dilma Rousseff ficará nos Estados Unidos até o dia 1.º de julho.