Segundo o governo russo, "dentre as prioridades da presidência da Rússia na Organização para a Cooperação de Xangai (SCO), em 2014 e 2015, estão o lançamento de projetos econômicos multilaterais, principalmente nas áreas de transporte, energia, ciência, tecnologia e uso pacífico do espaço exterior; bem como a criação de um mecanismo ideal para seu apoio financeiro". Em particular, no dia 15 de maio de 2015, durante a sétima reunião dos ministros de Transporte dos países-membros da SCO, em Ufa, foram discutidas as perspectivas da cooperação nessa área e a formação de um sistema comum de transportes no bloco, com o uso do potencial da ferrovia Transiberiana e da Linha ferroviária Baikal-Amur.
Sputnik: Que consequências traria a criação desse sistema comum de transportes para o Extremo Oriente e as regiões adjacentes à China e para os países da Ásia Central?
Viktor Grishin: Sem dúvida isso irá reviver a atividade econômica nas regiões russas do Extremo Oriente e da Sibéria. O maior interesse da Rússia no âmbito do desenvolvimento de um sistema comum de transportes da SCO é a cooperação para a realização do programa do cinturão econômico da Rota da Seda, iniciado pela China. É aconselhável que a expansão de empreendimentos concretos nesta área seja iniciada após a discussão do desenvolvimento do sistema comum de transportes da SCO na reunião da organização em Ufa, nos dias 8 e 9 de julho.
Junto a isso é necessário intensificar o trabalho de desenvolvimento de uma infraestrutura própria no Extremo Oriente, especialmente no que diz respeito à construção de pontes sobre os rios Amur e Ussuri. Nesse sentido, é preciso levar em conta o interesse da China na realização desses projetos, bem como a possibilidade e usar investimentos chineses para compensar a falta de recursos alocados para o desenvolvimento da infraestrutura do Extremo Oriente no orçamento da Rússia.
S: Quanto ao desejo já manifestado pela Rússia de realizar um progresso palpável na reforma do sistema monetário e financeiro internacional, que reformas na atividade do FMI seriam desejáveis para os BRICS e a Rússia, em particular?
VG: Aumento da influência dos países-membros do BRICS na tomada de decisões do FMI através do aumento da quantidade de votos no conselho do fundo. No entanto, a reforma do FMI como um todo, tida como uma das prioridades da presidência da Rússia no BRICS, responde em grande parte aos interesses da China, que busca aumentar o seu potencial de influência sobre as atividades do fundo. Ao mesmo tempo, apesar da escassez de recursos financeiros, a Rússia é capaz de apoiar a China nesse sentido.
As previsões, no entanto, também devem levar em conta que os resultados do referendo do próximo dia 5, na Grécia, relativo à confiança no FMI e na União Europeia, podem trazer um impacto significativo sobre o funcionamento do fundo.
S: Quais foram as consequências que o processo de criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD, Banco do BRICS) já trouxe para a economia da Rússia?
VG: A criação do Banco já repercutiu de forma positiva sobre a economia da Rússia. No entanto, o funcionamento pleno das instituições financeiras do BRICS é aguardado somente para 2020. Atualmente, seria mais adequado falar nas expectativas positivas da sua atividade no futuro.
Vale destacar que as oscilações que acompanharam o processo de tomada de decisões relativas ao Banco podem comprovar a falta de uma posição comum por parte do governo russo, tanto em relação a essa questão particular quanto à questão do desenvolvimento das relações com a China como um todo.
S: O governo afirma que o Arranjo Contingente de Reservas, espécie de Fundo do BRICS, com volume inicial de US$ 100 bilhões, servirá como "um instrumento de apoio em caso de pressão a curto prazo sobre a balança comercial, bem como uma ferramenta preventiva em caso de problemas com a balança de pagamentos”. Em caso de pressão sobre a balança comercial da Rússia, por quanto tempo esse Fundo poderá servir de proteção?
VG: O objetivo da criação de reservas financeiras pelos países do BRICS é de proteger as moedas nacionais da volatilidade dos mercados financeiros.
O seu volume será de US$100 bilhões. Ele será usado como uma garantia em casos de emergência, tais como o não pagamento de dívida pelo mutuário. Para determinar o seu possível limite de prazo são necessárias informações sobre as condições de concessão dos empréstimos, bem como o montante de dinheiro e os juros pelos quais eles foram emitidos. Diante da falta dessas informações, fica muito difícil determinar um prazo concreto durante o qual o Fundo poderia “proteger” um país em caso de um jogo coordenado contra a sua moeda nacional em mercados financeiros internacionais. Mas, de qualquer forma, trata-se da formação de um mecanismo eficiente de seguro para essas situações.