Para o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento e Sustentabilidade (BNDES), o Novo Banco de Desenvolvimento é um instrumento adicional de fomento do comércio internacional que deverá trabalhar em parceria com os organismos econômicos e financeiros internacionais.
Além disso, Luciano Coutinho tocou no assunto da Grécia. Em junho, ele tinha declarado que se a crise grega afetasse o Brasil, só seria “no curto prazo”. O referendo do “não”, do domingo, não mudou esta opinião.
Leia abaixo a íntegra da entrevista.
Sputnik: Hoje em dia, a pergunta mais corrente é sobre o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e o Arranjo Contingente de Reservas. Qual é o papel destes órgãos? Qual será, ou qual é a correlação entre eles e os organismos econômicos e financeiros nacionais dos países membros, inclusive o BNDES?
Luciano Coutinho: A criação do novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS visa a complementar e agregar novas fontes de financiamento ao sistema existente – o sistema de bancos multilaterais já existentes e os bancos nacionais de desenvolvimento, como é o caso do Banco de Desenvolvimento Brasileiro (BNDES), ou do Vnesheconombank russo, ou do Banco de Desenvolvimento da China. O novo banco deve trabalhar em parceria com os bancos nacionais de desenvolvimento em projetos de infraestrutura de maior escala, e deve buscar agregar novas fontes, mobilizar novas fontes de recursos para acelerar e ampliar a escala dos investimentos, especialmente de infraestrutura.
S: Recentemente, o senhor comentou que o default da Grécia só irá afetar a economia do Brasil no curto prazo. Depois do referendo do domingo passado, quando o povo grego desaprovou a continuação da austeridade e quando, na segunda-feira, o ministro das Finanças demitiu, alguma coisa mudou?
LC: Ainda não sabemos. A Grécia está apresentando uma nova proposta, ainda há uma chance de que se encontre uma solução razoável, um pouco mais flexível, que possa contemplar a Grécia – que tem uma justa demanda de que os termos propostos sejam suavizados.
S: Em que sentido o BRICS pode ajudar o Brasil a atrair investimentos? Por exemplo, a juntar [integrar] a economia nacional no âmbito da cooperação do Brasil com o BRICS? O senhor poderia comentar outro aspecto da cooperação internacional que prefere a interação dos países do BRICS com outras organizações, como, por exemplo, o Mercosul e a União Europeia?
LC: Os países dentro do BRICS estão inseridos em áreas comerciais nas suas esferas: a China tem uma crescente área de influência na Ásia, o Brasil tem o Mercosul como área de comércio, a Índia tem um relacionamento na esfera de países próximos, e a África do Sul também tem uma esfera importante de influência no sul da África – de maneira que essas áreas estão, de alguma maneira, polarizadas pelas economias dos países BRICS. E os países BRICS, entre si, têm acelerado o comércio e acelerado os investimentos de empresas, internacionalizado empresas: bilateralmente, entre pares de países BRICS, de uma maneira mais rápida nos últimos anos, de forma que, lentamente, há um estreitamento de relações econômicas dentro do BRICS e dentro das áreas de influência dos países do BRICS. Eu espero que essas tendências continuem prevalecendo.