Após destacar que o movimento islamista Talibã é culpado por 90% das mortes de civis no Afeganistão, o general norte-americano John Campbell apelou ao próprio povo afegão a levantar-se contra os ataques.
"O Talibã, sabe, eu acho que a ONU disse que provocou 70% de baixas entre civis, mas os meus dados mostram que são bem 90% das baixas", disse Campbell, chefe da missão da OTAN no Afeganistão, em uma entrevista coletiva da sexta-feira (11).
Hoje, as suas palavras foram comentadas, em entrevista à Sputnik Dari, por Mohammad Kabir Ranjbar, presidente da Associação de Advogados Democratas do Afeganistão:
"Eu acredito que foi por desespero que o general Campbell apelou ao povo afegão a combater os talibãs, porque a OTAN falhou em cumprir a tarefa anteriormente anunciada de combater o terrorismo no Afeganistão".
O contingente militar da Aliança Atlântica foi reduzido, e bastante drasticamente, neste ano. Em uma conferência internacional realizada em maio na Turquia, Jens Stoltenberg, o secretário da OTAN, sublinhou o "compromisso" que o organismo mantém com o Afeganistão. Naquela reunião, foi discutido o assunto da eventual retirada completa das forças da OTAN do Afeganistão, o que não aconteceu. E nem acontecerá, segundo parece, porque a decisão tomada foi a de prolongar a presença da Aliança no país "por um prazo indefinido".
Porém, com menor teor militar, senão com maior "participação civil", frisou Stoltenberg, acrescentando que a "pegada" da OTAN será mais "ligeira" dali adiante.
"Conforme os dados que eu tenho, a OTAN ajudou e até pagou pelo "trabalho" de uma série de criminosos políticos afegãos, esperando que eles pudessem prestar ajuda eficiente a eles no combate ao terrorismo, fazendo uso dos seus contatos. Mas isso não se deu. O Ocidente falhou. Outra razão pela qual os seus representantes não conseguiram criar um governo eficiente é que não conseguiram resolver a questão da corrupção nos altos escalões do poder. Muito pelo contrário, este problema se tornou ainda mais agudo, originando uma série de novos problemas", disse o advogado.
Um exemplo desses problemas é o cultivo de papoula de ópio para produção de heroína e outras drogas derivadas. Uma pesquisa recente mostrou que, com a chegada das Forças Armadas dos Estados Unidos para o país, em 2001, a produção de drogas aumentou 50 vezes no Afeganistão.
O problema do tráfico de drogas oriundo do Afeganistão foi um dos temas tratados durante a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, que encerrou na sexta-feira, pelo chefe do Serviço Federal de Controle de Drogas da Rússia, Viktor Ivanov. Ele apontou o Afeganistão como um dos dois maiores centros de produção das drogas do mundo, o segundo sendo a Colômbia. Ivanov precisou que o rendimento do narcotráfico supera, atualmente, o orçamento nacional do Afeganistão em mais de 10 vezes.