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Ministro Aldo Rebelo: Cooperação Brasil-Rússia em ciência e tecnologia é audaciosa

Entrevista com Aldo Rebelo
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Em entrevista exclusiva em seu gabinete em Brasília, o Ministro Aldo Rebelo, da Ciência, Tecnologia e Inovação, fala à Sputnik Brasil sobre a “ambiciosa cooperação” entre Brasil e Rússia em sua área, incluindo os setores espacial e nuclear.

A seguir a entrevista com o Ministro Aldo Rebelo.

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Sputnik: Sabemos que o senhor esteve na Rússia duas vezes em pouco tempo. Duas viagens relacionadas ao futuro de uma cooperação russo-brasileira em sua área. O senhor poderia contar um pouco dessas viagens, suas impressões, do que conheceu lá?

Aldo Rebelo: Registro, em primeiro lugar, que é a minha terceira viagem à Rússia, duas à Rússia e uma à Rússia soviética. Quando fui presidente da UNE – União Nacional dos Estudantes, visitei Moscou e tive um encontro com a Komsomol em 1980-1981. Agora fui com a missão da Presidenta Dilma para preparar a viagem dela, que aconteceu em seguida, na reunião dos BRICS em Ufá. Considero que a viagem, para além das grandes conquistas firmadas na reunião do BRICS, como a consolidação da criação do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS e do Fundo de Contingenciamento do BRICS, a presidente também adiantou uma série de entendimentos de cooperação com a Rússia, principalmente nas áreas de Ciências, Tecnologia e Inovação. A viagem não só consolida como amplia os horizontes de cooperação e de amizade entre o Brasil e a Rússia.

S: O senhor poderia destacar alguma área específica? Sabemos que o senhor teve oportunidade de conhecer a cidade tecnológica que está sendo projetada perto de Moscou, em Skolkovo, aquele projeto do futuro? Ou talvez a área espacial? Eu pergunto isso porque na LAAD, em abril, no Rio, tentei conversar com alguém da Agência Espacial Brasileira, e na época eles não tinham certeza de nenhum projeto, exceto o GLONASS, que já está sendo implementado nas universidades aqui em Brasília, mais uma no Sul e outra no Norte do país. Além disso, a Rússia tem alguns projetos que quer trazer para o Brasil, por exemplo, um foguete lançador. Sabemos que não avançou aquele projeto espacial com a Ucrânia, e então a Rússia queria entrar na vaga aberta. Eu tentei conversar com o pessoal da Agência Espacial mas eles não quiseram falar no futuro, porque por enquanto não há nada. O senhor pode informar se há algum projeto futuro de cooperação nessas e em outras áreas?

AR: A cooperação na área de Ciência, Tecnologia e Inovação entre o Brasil e a Rússia é ousada, ambiciosa. O parque tecnológico de Skolkovo é um dos mais ousados, mais completos de todo o mundo. A Presidenta Dilma conheceu esse parque ainda no seu início. Eu o visitei na viagem preparatória que eu fiz à Rússia para a visita da presidente. O parque hoje é uma realidade, é quase um sonho, e os seus dirigentes desejam essa cooperação com o Brasil porque o parque acolhe, além de startups, além de incubadoras, também centros de pesquisas, em áreas que vão da espacial à cibernética, à biotecnologia, tudo dentro do conceito que une a pesquisa com o processo e com o projeto industrial ou de serviços. A principal cooperação é a participação de brasileiros, pesquisadores, estudantes e empreendedores na experiência do parque de Skolkovo, e o Brasil abrir espaço para que integrantes, empresas e pesquisadores do parque também conheçam a experiência brasileira. O Presidente Putin e a Presidenta Dilma citaram essa cooperação como uma das referências do encontro. Além disso, eles mencionaram também as estações de observação do GLONASS. Há duas na Universidade de Brasília, estamos abrindo outra na Universidade de Santa Maria, outra no Instituto Tecnológico de Pernambuco, em Recife, e deixamos aberta a possibilidade da implantação de outras estações em outras regiões do Brasil, inclusive na Região Norte, na Amazônia, o que deixou as autoridades russas naturalmente muito satisfeitas. Vamos instalar também um laboratório de observação de lixo e detritos espaciais em Itajubá, onde está o Laboratório de Astrofísica do Brasil.

S: É também um projeto conjunto com a Rússia?

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AR: Sim, projeto conjunto com a Rússia. Nós vamos equipar o laboratório e ele será ocupado por pesquisadores russos e brasileiros. Vamos também fazer com a Rússia a observação do espaço profundo, que é de interesse de todos os países que têm programa espacial. Vamos ampliar e intensificar a cooperação na área de veículos lançadores de satélites. Nós já temos uma assistência, um acompanhamento da Rússia em nosso programa, já formamos técnicos e pesquisadores na Rússia e vamos intensificar, aprofundar e ampliar essa cooperação para que o Brasil construa, com o apoio científico e técnico da Rússia, o seu veículo lançador de satélites. E, naturalmente, nós temos a intenção de cooperar na área de lançamento – estou falando de lançamento comercial e não apenas da construção do veículo lançador –, com todos os países, inclusive com a Rússia. Temos esse acordo que está sendo redefinido com a Ucrânia, temos a intenção de retomar o acordo de salvaguarda com os EUA, de fazer acordo semelhante com a União Europeia, e naturalmente com a Rússia, com quem o Brasil não tem litígio, não tem disputa, não tem antagonismo. O espaço para a cooperação é muito grande e muito desejado da nossa parte. A Rússia é um país estimado, querido no Brasil, admirado não apenas pela sua literatura, pela sua história, pelos seus feitos na ciência, na pesquisa. A Rússia ofereceu ao mundo gênios da matemática, da física, da química, da música. É claro que para o Brasil é sempre desejável a aproximação e a cooperação com a Rússia. E nós sentimos também que o Brasil é um país querido e admirado na Rússia.

S: No mês passado a grande empresa russa de energia atômica, a Rosatom…

AR:… Abriu um escritório no Rio de Janeiro. É outra área de cooperação também entre o Brasil e a Rússia em todo o ciclo civil de domínio do átomo, inclusive com assistência para a construção do reator multipropósito do Brasil.

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S: Isso já existe como plano em nível de cooperação bilateral?

AR: A abertura do escritório é como se fosse o marco zero desta cooperação, e é do interesse do Brasil.

S: A Rússia até posiciona este escritório não só para atender o Brasil mas como uma representação da empresa para toda a região da América Latina. Eles têm uma missão bastante grande em conquistar, no bom sentido, esse mercado. Sabemos que isso foi mencionado também no encontro bilateral entre os Presidentes Dilma e Putin.

AR: Quero registrar aqui a presença de correspondentes da imprensa russa no Brasil, o que desafia o Brasil a ter também representantes de sua imprensa na Rússia – o que, lamentavelmente, não acontece. Quero também desejar que a Rússia realize uma grande Copa do Mundo, à altura da paixão do povo russo pelo futebol, à altura da própria história do futebol russo, que deu grandes talentos ao futebol mundial, entre eles aquele que é reconhecido como o maior jogador da história em uma posição muito difícil, que é a posição de goleiro: Lev Yashin. Ele se tornou personalidade do mundo e do imaginário do futebol a partir do grande talento e de seu desempenho à frente da Seleção da União Soviética ou de seu clube, o Dinamo de Moscou. Hoje o nome Yashin batiza um prêmio da FIFA só para goleiros, e quando se fala em goleiro no mundo o nome que vem à mente de todos, pelo talento, pelo espírito esportivo, é o do Aranha Negra, Lev Yashin, atleta querido e respeitado na Rússia e no mundo. Só por ele a Rússia já mereceria fazer uma Copa inesquecível. Espero que o Brasil, passando pelas eliminatórias, esteja presente e faça uma final com os anfitriões.

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