Segundo o parlamentar, o grande problema do Ocidente é que muitos políticos, principalmente de países como a Alemanha, estão apoiando hoje o direito internacional assimétrico, ou seja, aquele que atende apenas aos seus interesses. E isso explica a sua posição em relação à Crimeia.
"Eu e meus colegas sempre falamos abertamente que as violações do direito internacional permanecem as mesmas. A gente não pode deixar que as violações que aconteceram com a permissão do Ocidente deixem de ser consideradas violações, enquanto as violações que contrariam os interesses do Ocidente são apresentadas como crimes. Ou o direito internacional funciona para todos ou ele não pode ter força para ninguém", opinou Neu.
Muitos no Ocidente, e principalmente na Alemanha, estão apoiando o direito internacional assimétrico. Eles consideram que os europeus do Ocidente e os norte-americanos podem interpretar o direito internacional do seu jeito, enquanto os outros países devem concordar com isso. Eu não compartilho dessa opinião. Na minha opinião, e do nosso partido, o direito internacional precisa vigorar para todos do mesmo jeito.
No final do mês passado, um grupo de deputados franceses liderado por Thierry Mariani decidiu realizar uma turnê pela região russa da Crimeia com o objetivo de fortalecer o diálogo entre Moscou e Paris, apesar da oposição do presidente francês, François Hollande. A iniciativa acabou contagiando outros parlamentares da França, da Itália e de outros países da Europa, que também demonstraram o interesse de fazer uma visita oficial à península, gerando mais polêmicas.
Reintegrada à Rússia em março do ano passado, após um referendo popular (96,8% votaram pela adesão), a Crimeia segue sendo vista por boa parte dos ocidentais como um território ainda pertencente à Ucrânia, mesmo que a região, historicamente russa, seja amplamente habitada por russos e tenha sido transferida para a Ucrânia apenas de maneira simbólica, em 1954, pelo governo da então União Soviética. Entretanto, para outros, como Alexander Neu, a reintegração da península é legítima, se considerarmos alguns precedentes.
Segundo ele, não há diferença entre o caso da Crimeia e o dos países da antiga Iugoslávia, por exemplo, que tiveram sua independência apoiada pelo Ocidente, numa clara demonstração de que, muitas vezes, o direito de autodeterminação acaba sendo o mais importante.
Se a gente analisar a Carta da ONU, sem levar em consideração os acontecimentos dos anos 1990, a anexação da Crimeia pode ser considerada uma violação. Mas, se a gente lembrar a saída de Eslovênia, Croácia e Bósnia da Iugoslávia, o reconhecimento desses países e do Kosovo, a gente tem que constatar o seguinte: o direito de autodeterminação tem prioridade em relação à preservação da integridade territorial do Estado. A mesma coisa acontece em relação ao Sudão e ao Sudão do Sul. Em todos esses casos, o Ocidente inviabilizou as cláusulas da Carta da ONU sobre a integridade territorial. Sendo assim, foram abertos os precedentes. E a Rússia usou esses precedentes a seu favor… Assim, a situação da Crimeia não pode ser considerada uma violação.