No entanto, para um autor da revista Foreign Policy, a bomba norte-americana em Hiroshima foi um dos primeiros passos para libertar o Japão da ameaça da ocupação soviética. No seu artigo de 5 de agosto, intitulado “Será que Hiroshima salvou o Japão da ocupação soviética?”, ele descreve um suposto plano das Forças Armadas da URSS, alegadamente apoiado por Josef Stalin, de capturar Hokkaido, segunda maior ilha do Japão.
Segundo este autor, o fato de os EUA terem mostrado a sua força com os bombardeios pacíficos, fez Stalin recuar. Como resultado, escreve, “a história do Japão fez uma virada diferente da que teve a história da Coreia. Os japoneses não tiveram que sofrer as delícias da ocupação soviética”.
Esta última, a ocupação, não é descrita. De modo que a Foreign Policy, uma revista de renome e qualidade reconhecida, publica um artigo cujo autor insiste que foi melhor para o Japão ficar com centenas de milhares de mortes imediatas, milhares de mortes ao longo dos anos, por causa da exposição à radiação, e zonas de exclusão por contaminação radiativa, — do que ficar exposto à possibilidade de ocupação.
Centenas de milhares de mortos vs. perigo de ocupação.
Aliás, quem tem uma base militar no território japonês são os EUA, na ilha de Okinawa. Apareceu ali logo depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Falar em ocupação estrangeira depois disso?
Recentemente, ganharam força no Japão manifestações a favor da retirada do contingente militar estadunidense dessa base.
O protesto contra esta base, que os moradores da ilha e província de Okinawa consideram obsoleta, ressuscita o discurso sobre o exército japonês. O Japão não tem Forças Armadas, que são proibidas pela Constituição, como punição pelo militarismo exercido pelo país na época da Segunda Guerra Mundial. Já em função da tensão atual no mar do Sul da China, onde o Japão tem seu interesse – os EUA encorajam-no a emendar a lei principal, instituindo um Exército.
Os EUA, que têm bases militares no Japão e em outros lugares da região, empurram Tóquio à ampliação do poder das suas forças de autodefesa para atuarem como aliados.
Little Boy
Arquivos fotográficos mostram a alegria dos comandantes do exército estadunidense ao receber a notícia do lançamento da bomba Little Boy (Pirralho, na tradução livre), do avião Enola Gay. Os pilotos do bombardeiro foram condecorados com medalhas. E Harry Truman, presidente dos EUA na altura, brindou por esta vitória.
E mais do que isso, os EUA ainda não apresentaram as suas desculpas ao Japão. O assunto continua gerando tensão nas relações bilaterais entre os dois países.
Sem razão
Contatada pela Sputnik, Helga Zepp LaRouche, do Instituto Schiller em Washington, assegurou que não houve nenhuma justificação para tal bombardeio:
"Historicamente foi determinado há muito tempo que não tinha razões para o bombardeamento porque naquele momento já começaram as negociações de paz entre o imperador [do Japão, Hirohito] e o Vaticano. Por isso o argumento em favor de que isso foi feito para salvar as vidas de solados americanos é uma fraude. O bombardeio nuclear foi efetuado para criar a aura de horror, foi um gesto de inauguração da era pós-guerra em prol de continuação de reino de colonialismo e capitalismo…"