A ideia vem da experiência de Petraeus no Iraque quando, no quadro de uma ampla estratégia para combater os insurgentes islamistas, os EUA persuadiram as milícias sunitas a parar de lutar junto com a al-Qaeda e começar a cooperar com as tropas estadunidenses.
A tática deu bom resultado, mas só temporariamente. A al-Qaeda ressuscitou no Iraque como o Estado Islâmico e acabou por se tornar o inimigo jurado da sua organização-parente. Agora Petraeus quer voltar ao seu antigo jogo, defendendo a estratégia de recrutamento de membros da Frente al-Nusra, especialmente os que não partilham o essencial da filosofia islamista da al-Qaeda.
Porém, o jogo de Petraeus, se for levado à prática, pode ser imensamente controverso. A luta dos EUA contra o terrorismo começou após o ataque de 9/11 realizado pela al-Qaeda. A ideia que os EUA podiam, 14 anos depois, cooperar com os elementos da filial síria da al-Qaeda é uma ironia que não pode ser encarada pela maioria dos responsáveis americanos contatados pelo The Daily Beast. Eles consideram a iniciativa de Petraeus politicamente tóxica, quase impossível de executar e estrategicamente arriscada.
Segundo os que conhecem a opinião de David Petraeus, ele propõe separar os militantes menos radicais da Frente al-Nusra que lutam contra o Estado Islâmico na Síria mas que se juntaram com a Frente al-Nusra por causa do objetivo comum que é a derrubada do presidente sírio Bashar Assad.
Porém, não está claro como os EUA pretendem separar os militantes moderados do resto dos membros e dos líderes da organização. Petraeus tem de esclarecer as suas posições em relação a isso.
“É um reconhecimento de que o objetivo dos EUA de liquidar o Estado Islâmico sofreu um fracasso. Se não fosse, não estávamos a negociar com estes grupos terroristas”, disse Christopher Harmer, especialista em assuntos navais no Instituto dos Estudos da Guerra em Washington, disse ao The Daily Beast.
“De ponto de vista estratégico, é desesperado”, acrescentou.
A estratégia de Petraeus depende dum leque de hipóteses, primeiramente de a inteligência e os oficiais militares americanos saberem distinguir quem é verdadeiramente moderado dentro da Frente al-Nusra e não partilha o objetivo de substituir o governo de Assad por um governo islamista.
“A aliança de conveniência, que era impossível dois anos atrás, é desejável hoje em dia e em certa medida é inevitável porque não pretendemos realizar uma operação militar no terreno”, manifestou o especialista militar.
Voltando ao caráter perigoso de tais iniciativas como utilizar os jihadistas da al-Qaeda, a Sputnik lembra que, anteriormente, o jornalista Nafeez Ahmed fez uma investigação na qual ele alega um documento da Agência de Inteligência de Defesa (DIA, na sigla em inglês) dos EUA. O referido documento prova que o Pentágono sabia que a estratégia americana de apoio aos grupos extremistas na Síria para derrubar fosse de que maneira fosse o regime do presidente Bashar Assad resultaria no surgimento do Estado Islâmico, mas os EUA não mudaram a estratégia. Por isso, ninguém sabe em que poderá resultar o hipotético apoio à Frente al-Nusra.
Além disso, o fracasso dos EUA no treinamento da oposição síria moderada e especialmente a teimosa falta de vontade por parte das autoridades americanas de apoiar o presidente legítimo sírio Bashar Assad resulta em tais iniciativas “extravagantes” como a de David Petraeus.