A visita ocorre um mês e meio antes do início dos I Jogos Mundiais Indígenas em Palmas, que terão lugar entre 23 de outubro e 1 de novembro do ano em curso. Será a primeira edição de um tipo de evento que já teve lugar várias vezes no Brasil.
Organizados por uma equipe liderada por Carlos Terena, o dirigente da ONG Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena, os Jogos tiveram que obter a aprovação dos Ministérios do Turismo e do Meio Ambiente e também da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).
O evento foi oficialmente apresentado em junho em Brasília.
No que toca ao financiamento, o prefeito da cidade-sede e o secretário do evento afirmam não ter gastado verbas públicas, atraindo investimento privado. O local dos jogos será situado na beira do rio Tocantins.
A participação nacional inclui 24 etnias, inclusive Assuriní, Bororo, Guarani Kaiowá, Terena, Xavante e outras. Viverão em uma vila, construída especialmente para o evento. Carlos Amastha promete um “espetáculo fantástico”.
Contudo, “não é fácil” a sua organização, frisa, pelas particularidades das tradições dos povos.
“A gente faz tudo o que todos fazem quando é a primeira vez de fazer algo. A gente faz e aprende ao mesmo tempo”, disse Héctor Franco durante um encontro com jornalistas na residência do embaixador brasileiro em Moscou.
O evento conta com a participação de 22 países que hospedam várias etnias indígenas – a maioria dos países do continente latino-americano e norte-americano, inclusive a Guiana Francesa e os EUA, mas também a Etiópia, Mongólia e Rússia.
Perguntado sobre a possível comparação com os grandes eventos esportivos, o prefeito da cidade-sede dos Jogos comentou que “As Olimpíadas e o Campeonato Mundial de Futebol não começaram com 23 países”.
Continuou dizendo que não descartava que a Rússia poderia sediar uma edição dos Jogos Mundiais Indígenas no futuro.
Segundo Héctor Franco, vários líderes mundiais foram ou serão convidados para assistir aos Jogos Indígenas na cidade de Palmas, inclusive o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e o presidente da Bolívia, Evo Morales.
De acordo com Carlos Amastha, um dos principais objetivos dos Jogos é fomentar a identidade indígena no mundo contemporâneo, onde muitos povos já começam a esquecer as suas tradições, línguas e modos de vida. Mas também irá promover a integração, algo que é importante para o Brasil, país em que existem povos não contatados.
O próprio estado de Tocantins, situado no centro do Brasil, é casa de várias etnias e se esforça para ser um exemplo de integração cultural e social.
"A nossa cidade, a cidade de Palmas, lida tradicionalmente muito bem com a temática indígena, até porque ela está muito integrada. Nós, por exemplo, na Universidade Federal do Tocantins, que tem a sua sede em Palmas, temos o maior contingente de estudantes indígenas do Brasil", sublinhou Franco em uma conversação com a Sputnik.
O Secretário dos Jogos e o prefeito de Palmas asseguraram que os Jogos são pensados para ser uma plataforma de integração e discussão.
Em função da participação de diversas etnias e da ausência de um terreno fixo ou estádio para a competição, e também em função da integração (e amizade), os I Jogos Mundiais Indígenas serão principalmente um encontro cultural e social, com demonstração de tradições e particularidades culturais de vários povos que não esquecem a natureza como seu hábitat.
Modalidades
Haverá medalhas, sim, mas “cada participante levará uma medalha”, dizem os organizadores do evento. E não são de ouro, prata e bronze, senão madeira e capim dourado, riquezas naturais desta região brasileira.
As competições incluirão modalidades esportivas “civilizadas” e gerais, como futebol, cabo de força, corrida de velocidade etc. – e também especialidades étnicas, como lutas corporais de diferentes estilos e outras modalidades que podem ser vistas como um protótipo do esporte em cada um dos povos indígenas presentes.