Prefeito grego: UE carece de política comum para lidar com problema dos refugiados

© REUTERS / Dimitris MichalakisRefugiados e migrantes chegam à praia da ilha grega de Lesbos, 9 de setembro de 2015
Refugiados e migrantes chegam à praia da ilha grega de Lesbos, 9 de setembro de 2015 - Sputnik Brasil
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Em entrevista à Sputnik, o prefeito da cidade grega de Lesbos, Spyros Galinos, contou o que a ilha de Lesbos faz para resolver o problema de grande fluxo de refugiados, que medidas oferece à União Europeia (UE), porque a UE tem de cooperar com a Turquia e que relações há entre os habitantes de Lesbos e turistas russos.

Spyros Galinos: Estamos enfrentando este problema já por alguns meses. Passar através das ilhas gregas é uma só oportunidade de entrar no território da União Europeia para refugiados. No âmbito da região temos criado três centros especiais para acolher refugiados. Mas como queremos estar prestes ao novo período difícil (e agora podemos ver que a crise de refugiados não será resolvida até que a UE impede [a sua continuação]). Agora estamos no meio de criação de mais dois centros nos subúrbios da nossa capital para que possamos assegurar melhores condições para os refugiados e ao mesmo tempo evitar o descontentamento da nossa população. 

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SPUTNIK: Que avaliação pode dar à ajuda dos países europeus? Pode dizer que a Europa está ajudando?

SG: A Europa continua usando a mesma lógica à que falta uma linha política unificada para tratar do problema. Ficam discutindo sobre várias coisas, fazem perguntas, mas não vejo que prossigam em uma direção correta. É por isso que eu, como prefeito da cidade de Lesbos, lancei uma proposta que contempla três níveis. O primeiro nível é local, o segundo é nacional, relacionado com o governo grego. Mas o terceiro nível, o nível da UE é o mais importante. Tudo depende de forma de que a União Europeia tratará da situação.

Queria sublinhar que se a UE não coordenar com a Turquia o problema não pode ser tratado por qualquer país da UE. A EU terá decidir que todos os países membros, de acordo com as suas capacidades, terão de aceitar uma parte da carga e se responsabilizar. Isso significa que tem de coordenar as suas ações com o governo turco. Neste caso, depois de os refugiados indicarem o destino que desejam, terão de ser transportados ali diretamente da Turquia, por vários modos, aéreo, ferroviário ou marítimo.

Se fizermos isso teremos sucesso nos assuntos seguintes.

No primeiro lugar, vamos afetar os círculos de contrabandistas que usam os refugiados para ganhar muito dinheiro levando-os à Europa através do mar Egeu. E isso é uma responsabilidade da Europa e da comunidade internacional de fazer parar contrabandistas.

No segundo lugar, fazendo isso salvamos vidas porque, como sabem, há pessoas que se afogaram no mar Egeu. O que está acontecendo no mar Egeu é um verdadeiro crime que somente estamos observando. Se a comunidade internacional não faz nada para interrompê-la isso somos cúmplices do crime.

No terceiro lugar, podemos salvar muitos vizinhos de um enorme incômodo. Os refugiados vêm da Síria, depois cruzam toda a Turquia e através do mar Egeu chegam às nossas ilhas, travessam toda a Grécia, atingem o porto de Pireus e vão a Skopje. Passam praticamente a metade do mundo para atingir o seu destino. 

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No quarto lugar, evitamos excitar movimentos racistas que podem ser fomentados por todo este incómodo e em algumas regiões (tais como a Hungria), podemos ver que a atitude aos refugiados tem com a base racismo. Não devemos nos esquecer de que a Europa já sofreu muito do racismo. Por isso precisamos acabar com este crime e promoção de movimentos correspondentes. Estou contra qualquer ato de racismo realizado contra refugiados que abandonaram as suas casas e nos pedem para ajudar salvar as suas vidas. Pelo contrário, precisamos abraçá-los e ajudá-los e só neste caso teremos direito de dizer que somos a Europa na percepção dos seus fundadores, Europa humana, Europa de criação. 

A minha proposta tem com a base a prática real, o que estou observando aqui todos os dias.

S: Que avaliação pode dar à decisão da Alemanha e outros países da UE de fortalecer o controlo fronteiriço?

SG: A Alemanha se responsabilizou por uma parte de carga que apresenta risco principalmente para a Grécia e a Itália. A primeira decisão de Merkel [de abrir fronteiras] é um passo em uma direção correta. Não sei qual é a razão para fechar as fronteiras. É um caso se fecham fronteiras para ter tempo para distribuir os refugiados entre as cidades alemãs, porque se 800 mil refugiados chegam para Alemanha em um só dia, terão um grande problema. Ou seja, se fechamos fronteiras temporariamente para tratar de alguns assuntos de caráter organizativo, diria que é correto. Mas não tenho nenhuma informação sobre as suas razões para fazer isso.  

S: Os norte-americanos tentam apresentar a Rússia como um dos principais culpados da crise migratória. Em sua opinião, qual é o papel da missão humanitária russa neste assunto?

SG: Há um jogo geopolítico e geoestratégico que está desenrolando hoje em dia. Não queria se envolver neste assunto […] mas queria expressar o meu apoio a qualquer país que prossegue para juntar esforços numa tentativa de resolver este problema.

S: A crise de refugiados podia afetar de qualquer maneira os resultados das eleições na Grécia?

SG: Podia influenciar os resultados das eleições em qualquer país. Eu queria aconselhar aos nossos cidadãos de perceber eleições de maneira calma e tranquila. Precisam lembrar que têm de escolher o melhor para sua Pátria e para o futuro dos nossos filhos.

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Queria expressar o meu amor para pessoas russas e dizer que a ilha de Lesbos quer desenvolver as relações cordiais com a Rússia. Discutimos com Kaliningrado a ideia de assinar o acordo de irmandade entre as nossas cidades (o capital da ilha Lesbos é a cidade homônima). O próximo ano será o ano da amizade russo-grega, e vamos prosseguir com o desenvolvimento da cooperação entre as nossas nações. 

Embora agora estejamos enfrentando a crise de refugiados, não afeta a beleza da nossa ilha. Além disso, agora se tornou mais lindo porque há pessoas humanas que moram aqui, que estão prontos a ajudar pessoas que chegaram aqui na tentativa de fugir da guerra compreendendo que sentem falta mais que nós. É um exemplo de compaixão e piedade. 

S: A crise de refugiados afetou a área de turismo neste ano?

SG: Podia afetar um pouco no início, mas a maneira de que tratamos do problema pan-europeu é uma das razões adicionais que atrai mais turistas. Pessoas vão ver uma atitude humana dos habitantes de Lesbos que, sofrendo muito das dificuldades econômicas, ainda conseguem aguentar e carregar o problema que é na verdade pan-europeu e mostrar o único modo de resolver o problema [que já descrevi antes].

S: Em sua opinião, quando acabará o fluxo de refugiados?

SG: Acabará só quando a guerra se terminar.

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