No último domingo (20), a Presidenta Dilma Rousseff notificou o governo de Israel sobre seu mal-estar em relação à possível nomeação de Dani Dayan como novo embaixador em Brasília. O designado vive num assentamento judaico na Cisjordânia, território que o Brasil reconhece como palestino, e foi dirigente da principal organização dos colonos israelenses.
Breno Altman, jornalista e diretor do site Opera Mundi, falou com exclusividade à Sputnik sobre o episódio, a posição do governo brasileiro diante da questão palestina e a influência do lobby sionista de Israel na política externa norte-americana.
A seguir, a entrevista na íntegra.
Sputnik: Por que esse mal-estar do governo brasileiro em relação à possível nomeação de Dani Dayan, e qual será o impacto disso nas relações entre Brasil e Israel?
Há também um problema de forma: o governo de Israel, ao invés de fazer tramitar pelos canais diplomáticos a indicação do embaixador, para que então pudesse ser decidida a concessão da carta diplomática pela Presidente Dilma Rousseff, o governo de Israel primeiro plantou a informação, transformou num fato público, sem ter tido sequer o cuidado de indicar formalmente Dani Dayan para a posição de embaixador, ou seja, de indicar através dos canais diplomáticos regulares, conforme determinam as convenções internacionais.
S: Qual é sua perspectiva para a eventual criação de fato do Estado palestino?
BA: Isso é um processo longo, que no fundo tem que vencer a resistência de uma poderosa aliança entre Israel e o lobby sionista nos EUA. Israel, efetivamente, não deseja a criação do Estado palestino e busca prorrogar essa decisão o máximo possível.
Particularmente o governo atual da direita israelense, capitaneado por Benjamin Netanyahu, deseja uma solução política de anexação, ou seja, anexar os territórios ocupados, propondo soluções em relação ao Estado palestino que são falsas, que jamais poderiam ser aceitas pelos palestinos. Ele propõe, no fundo, que se continue o processo de colonização nos territórios ocupados; ele retira cada vez mais terras dos palestinos; ele impede o acesso dos palestinos a redes fluentes de transportes e comunicações; controla parte das importantíssimas fontes de água.
S: Quais são os cenários possíveis para essa situação depois das eleições presidenciais norte-americanas?
BA: O lobby sionista em Israel tem influência sobre os dois grandes partidos – tanto sobre os republicanos quanto sobre os democratas. Vários importantes grupos sionistas vinculados ao Estado de Israel são financiadores importantes das campanhas de ambos os partidos. Agora, efetivamente, haverá ali – na disputa literal, independente de quem sejam os candidatos democratas e republicanos –, um conflito sobre a política do Oriente Médio. Não haverá alterações radicais se vencer um ou outro, mas há, efetivamente, diferenças e graduações.
Sem mudar o papel dos EUA em relação à questão palestina, não vejo como seria possível emergir o Estado palestino. Enquanto os EUA derem apoio ao Estado de Israel, o Estado de Israel terá as condições políticas, econômicas e militares para manter sua política atual – a política do apartheid sionista.