O Partido Socialista (centro-esquerda), que continua na oposição, alcançou 85 assentos no Parlamento (32%,38) e poderá chegar a alguns acordos com as outras duas forças de esquerda (Bloco de Esquerda, com 10,22% e Partido Comunista Português, com 8,27%) o que irá impedir as forças de direita de tomarem decisões mais gravosas para a população, como têm feito até agora.
Outra surpresa foi a enorme subida do Bloco de Esquerda, o “Siryza português”. Este partido, formado essencialmente por representantes da nova geração de esquerda que não se revê no Partido Comunista, sofreu divisões internas nos últimos anos mas isso não o impediu de dobrar o número de votos obtidos. A razão principal, diz a maioria dos analistas, foi a prestação da sua líder, Catarina Martins. Um seu correligionário, o comentador Francisco Louçã, escreve no jornal Público:
“Catarina Martins ganhou e deslumbrou. Segura politicamente, afectiva na comunicação, preparada tecnicamente. E, sobretudo, portadora da única proposta que importa: soluções para promover o emprego, proteger a segurança social e reduzir a desigualdade. Tiro-lhe o chapéu.”
Francisco Louçã não falou da juventude e beleza da candidata, mas esses fatores ajudaram com certeza.
O Partido Comunista, eurocético, subiu ligeiramente (8,27%), fortalecendo o seu eleitorado fiel.
Perguntámos a alguns eleitores sobre as suas escolhas nestas eleições: João O. confessou que tinha votado no Bloco de Esquerda e explicou os seus motivos:
"O que não me passava pela cabeça era dar um voto à direita. Triste é a taxa de abstenção…43%, que acaba por ajudar a manter o governo atual. Ainda assim, sem a maioria, parece-me que este governo não chega ao fim dos 4 anos".
Manuel Rocha, eleitor e também candidato a deputado pela CDU, escreve no seu Facebook: “Alguém dirá, por ser verdade evidente, terem sido as ‘maiorias claras’ de um só partido as grandes derrotadas deste dia. Que irá fazer este governo com uma base de apoio que diminuiu quase um milhão de votos? Tudo em aberto, portanto, no lugar principal de produção de democracia, numa conjuntura em que o PS poderá, como nunca antes, revelar a esquerdista fera que nele reside.”
Feitas as contas, são muitos os que dizem que os partidos de esquerda (PS, PCP e BE) têm a maioria no Parlamento e, portanto, devem se unir para formar governo.
O PSD, formando um governo minoritário, está disposto a “dialogar” com o PS para este “viabilizar” o programa de governo e o orçamento de Estado. No fundo, está a pressioná-lo para que este não se junte aos partidos de esquerda.
Isto significa que, de qualquer forma, a política da coligação de direita, caso venha a ser governo, terá que ser mais mitigada, e terá que levar em conta as exigências do Partido Socialista.
Ontem (6) à noite, após uma reunião dos socialistas, o seu dirigente, António Costa, declarou:
"O mandato que temos é para falar com o conjunto das forças políticas. Neste quadro parlamentar que é novo e que exige de todos um grande sentido de responsabilidade para o país, vamos avaliar e tentar encontrar boas soluções programáticas para o país", disse ele à rádio TSF.
O líder socialista sublinhou ainda a ideia de que não está disponível para um governo de "bloco central" (ou seja, PS+PSD) visto que este "não favorece a democracia".
Logo na noite das eleições, António Costa afirmou, em declarações transmitidas pelos principais canais de TV:
“A coligação tem de perceber que há um novo quadro e não pode julgar que pode continuar a governar como se nada tivesse acontecido”
Estamos, pois, perante uma situação em que tudo poderá acontecer. Saberemos nos próximos dias se Portugal continuará a seguir uma política de direita liberal ou se, pelo contrário, terá um governo de esquerda que defenda o Estado Social.