Em 2001, a Argentina em meio a uma crise econômica e política, decidiu não realizar o pagamento da sua dívida pública, que era de cerca de US$ 100 bilhões. Com isso, pessoas físicas, empresas e os fundos que tinham títulos da dívida, ou seja, que haviam emprestado dinheiro ao Governo, deixaram de receber seus rendimentos e foram impedidos de resgatá-los
A questão, por fim, foi parar na Justiça dos EUA, onde os fundos foram tentar receber o total dos valores dos títulos, sem descontos ou parcelamentos.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor do Inest – Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense, Fernando Almeida, analisou a declaração de Daniel Scioli como necessária, em razão de novas especulações a respeito da situação da Argentina, sendo evidente que ele não consideraria esse pagamento prioritário, já que o valor da dívida atualmente é de cerca de US$ 15 bilhões.
“Hoje há 47 fundos com essa característica de abutres, sendo que três são muito grandes, e o pagamento a só esses três seria de US$ 1,5 bilhão”, diz o Professor Fernando Almeida. “Isso poderia chegar a uma soma de US$ 15 bilhões, e a Argentina não tem o menor interesse em entrar de novo nessa discussão. É uma declaração [a de Scioli] que se faz necessária, por um caráter de nacionalismo argentino. Afinal, ele é candidato pelo partido peronista Frenta pela Vitória, e é claro que isso não seria prioridade para ele.”
Fernando Almeida também acredita que Scioli deve garantir a vitória como novo presidente da Argentina nas eleições de domingo, sem necessidade de segundo turno, principalmente devido ao apoio de Cristina Kirchner.
Quanto às especulações de que Daniel Scioli não teria o perfil ideal de candidato que a Presidente Cristina Kirchner gostaria de ter em seu sucessor, o professor de Relações Internacionais concorda com os boatos, e acredita que isso ocorra pelo fato de ele ser um personagem novo no peronismo.
“Ele é mais ou menos recém-chegado ao peronismo. Daniel Scioli foi um atleta muito conhecido, oito vezes campeão mundial de motonáutica, tem seu lado empresarial, mas se tornou uma liderança carismática. Foi vice-presidente de Néstor Kirschner, é governador de Buenos Aires. Realmente, ele é um candidato que tem boa aceitação pela população e pode usar o prestígio de Cristina para sair vencedor na eleição de domingo.”