“Essa edição vai ficar na História como o primeiro movimento indígena esportivo, cultural, social e acima de tudo espiritual”, disse Carlos Terena. “Os Jogos Indígenas são um laboratório. Nós estamos estudando o evento. Estamos mostrando para o mundo, e até para os parentes, como é que nós vamos trabalhar verdadeiramente esses Jogos.”
“Não são só os Jogos em si”, diz o coordenador do Comitê Tribal. “Aqui nós temos um fórum que está discutindo diversas situações relacionadas ao meio ambiente. Nós temos a primeira feira mundial de artesanato indígena, que traz a prática da compra da troca, através de técnicos que sabem fazer esse tipo de trabalho.”
De acordo com Carlos Terena, a realização dos Jogos é uma forma de fortalecer e resgatar a cultura dos povos indígenas e repassar os ensinamentos indígenas de preservação da natureza para o mundo.
“Nós estamos plantando uma semente para o mundo, não só com relação aos Jogos em si, mas também com relação ao meio ambiente, porque assim como nós derrubamos 20 árvores para fazer uma canoa, nós vamos replantar 200 árvores para repor o que nós tiramos. A gente também quer mostrar para o mundo que nós indígenas não somos teóricos, nem estudiosos na questão do meio ambiente. Nós somos práticos. Temos que ensinar ao mundo como se cuida de uma criança, como se cuida da água, como cuidamos da mata, dos nossos animais, sem ferir a natureza.”
Sobre a vontade do Ministério do Esporte em tornar o Brasil sede oficial dos Jogos Mundiais Indígenas, Carlos Terena gosta da ideia, mas alerta que primeiro é preciso investir em organização e mais infraestrutura para os próximos Jogos.
“A gente tem que buscar futuramente uma situação mais organizacional. Temos que buscar no Brasil parceiros com mais comprometimento e mais envolvidos com as questões indígenas. Nem tudo que nós pedimos aqui aconteceu, na infraestrutura, nas questões da logística. Houve muitas falhas gritantes, mas, mesmo assim, superamos, e estamos tentando fazer os Jogos um sucesso para o mundo.”
“A cabeça de muitos jovens atletas indígenas já está muito ocidentalizada. Eles querem tentar resgatar a cultura deles, mas não conseguem encontrar o caminho de volta. Muitos vieram falar comigo admirados de como conseguimos fazer os Jogos. Em relação à Rússia, eu fiquei pensando como é que esse irmão saiu lá do gelo para vir para cá num calor deste. O que esse irmão está querendo ou pensando, esse atrativo com relação aos Jogos eu ainda não consegui entender. Eu ainda não acordei para dimensionar o tamanho do que nós inventamos.”
A primeira edição dos Jogos Mundiais Indígenas vai até domingo, 1 de novembro. A competição reúne cerca de 2 mil atletas indígenas, de 1.100 etnias brasileiras e 700 etnias internacionais, de 23 países.