Entrevista: 'Não existe outro país com mercado tão aberto quanto o da Rússia'

© Sputnik / Ruslan Krivobok / Acessar o banco de imagensCarcaças de carne no frigorífico
Carcaças de carne no frigorífico - Sputnik Brasil
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O empresário russo Viktor Linnik, presidente da Miratorg, a maior produtora de carne suína da Rússia, concedeu uma entrevista à agência Vedomosti, expondo com seu know-how o atual cenário do mercado russo e a linha de pensamento do alto empresariado daquele país.

А empresa pertence aos irmãos Alexander e Viktor Linnik. Segundo a Bolsa de Moscou, em 2014 Miratorg faturou U$1,9 bilhões, obtendo lucro de U$29 milhões. O gigante agrícola russo produziu 50 mil toneladas de carne de aves, 309 mil toneladas de carne suína, 24,4 mil toneladas de carne bovina e 24 mil toneladas de processados somente nos primeiros nove meses de 2015. Miratorg é uma holding de empresas de criação animal, frigoríficos, companhias de logística e distribuidoras de alimentos. Cerca de 12% do mercado de carne suína da Rússia está nas mãos dos irmãos Linnik.

A seguir, trechos desta entrevista.

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Alguns de seus concorrentes dizem que a crise é uma época para fazer aquilo que não se podia fazer antes. Mas enquanto todos esperam por tempos melhores, é possível juntar as forças para dar um passo à frente. Qual é a postura de vocês?

Nós temos uma estratégia projetada para 10-15 anos. Durante este período acontecem crises. Nós podemos alterar a tática, mas não mudamos o posicionamento estratégico. Uma razão para isso são os relativamente longos prazos de realização dos projetos. Por exemplo, temos um projeto para duplicar até 115 bilhões de rublos [6,9 bilhões de reais] o volume das capacidades de produção de uma unidade de suinocultura na região de Kursk. Isso permitirá cobrir as quotas de importação existentes. Mas para isso precisamos de um mínimo de quatro anos.

- Poderia citar algum exemplo recente em que vocês mudaram de tática? Quem sabe em 2014, quando houve a alta dos créditos?

— Ali, a lógica foi simples: o rublo despencou em duas vezes e nós imediatamente lançamos em todas as unidades o programa de substituição de importações. Hoje nós já substituímos 70-80% de tudo aquilo que importávamos. Antes de tudo, trata-se da produção de animais de criação em fazendas próprias, ao invés de sua compra no exterior. Levando em conta os planos de aumentar a quantidade desses animais de 110 mil para 350 mil cabeças, ao fim do projeto-piloto o efeito econômico obtido é muito significativo.

- Fale um pouco mais sobre a estratégia de vocês.

— Nós começamos a segui-la em 2005-2006. Passamos a pensar nisso seriamente assim que começamos a investir em produção na Rússia. Porque aqui os projetos se pagam em cerca de oito anos. Sendo assim, temos que saber o que nos tornaremos até lá.

Em segundo lugar, entendemos que devemos atingir um certo tamanho se quisermos nos tornar competitivos em escala global. Caso contrário, dentro de 15-20 anos nós não conseguiremos competir no mercado mundial. Para isso, de acordo com as nossas estimativas, o volume de negócios da empresas deve ser de 5-7 bilhões de dólares, e o volume de produção de um milhão de toneladas por ano. Isso nos permite usar a economia de escala, aumentar as competências dos funcionários, atrair tecnologias modernas e promover a substituição das importações.

- Existem limites para a expansão do negócio?

— É um processo infinito, um tipo de estilo de vida. Nos últimos 10 anos nós investimos no desenvolvimento da agricultura mais de 150 bilhões de rublos (9 bilhões de reais). Temos dois projetos novos com investimentos avaliados em 160-165 bilhões de rublos (9,6-9,9 bilhões de reais) e que pretendemos realizar até 2020, em apesar quatro anos, pois já temos competência, pessoas e possibilidades de obter financiamentos. Para nós é um certo divisor de águas, mas a empresa continuará a desenvolver após 2020. Talvez não se trate mais de construção de projetos greenfield. Quem sabe absorveremos outras empresas. É só que dar saltos é muito difícil, mas se desenvolver gradualmente é normal. O volume de negócios dos nossos concorrentes é de 15-20 bilhões de dólares, alguns chegam a 80 bilhões. São empresas como JBS, Smithfield, Danish Crown. Nós sabemos quem eles eram 10 anos atrás, quem eles são agora e quais são os seus planos estratégicos de desenvolvimento. Graças a isso fica mais fácil de entender como o mercado mundial de carne irá se desenvolver nos próximos 10-15 anos, onde está o nosso lugar no mundo e qual é o nosso nicho.

- Então diminuir o volume de negócios é inaceitável para vocês?

— Por enquanto, creio que sim. Alcançaremos parâmetros de segurança alimentar para a carne suína dentro de 3-5 anos, e em um máximo de 10 anos para a carne bovina. Nós já estamos ativamente engajados na exportação. É difícil de encontrar um país que tenha esse enorme potencial de produção de produtos alimentares de qualidade, sem uso de antibióticos, aditivos ou hormônios, como a Rússia.

- Você está dizendo que a Miratorg não utiliza nem um grama de antibióticos e aditivos na criação de aves, porcos e gado?

— Nós não usamos hormônios ou promotores de crescimento de massa muscular nos animais. Medicamentos são usados somente por prescrições de médicos veterinários em caso de necessidade imediata – ou seja, de doenças.

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- No final de 2014 a dívida total da empresa era de 68 bilhões de rublos (4 bilhões de reais), EBITDA – 22,3 bilhões de rublos (1,4 bilhões de reais). Com os grandes planos de investimentos que vocês têm, essa dívida irá somente aumentar. Isso intimida vocês?

— A empresa avalia minuciosamente o volume de endividamento, já que o cumprimento de obrigações perante os credores é um ponto crucial para nós. Nós pagamos as nossas dívidas tanto durante a crise de 1998, quanto na crise de 2008, e continuamos pagando nossas obrigações de forma impecável. Nós não comentamos a relação da dívida com EBITDA.

- Ao assumiu o ministério da Agricultura da Rússia Aleksandr Tkatchev promoveu primeiramente uma reunião particular com o senhor, ao invés de realizar uma reunião conjunta com todos os empresários. Essa iniciativa partiu do senhor?

— Sim. Pela minha experiência anterior eu decidi não perder um ano e discutir com o novo ministro as nossas abordagens para a estratégia de desenvolvimento da agricultura. No geral as nossas posições coincidem – é o desenvolvimento da própria produção em todas as áreas, substituição de importações, segurança industrial.

- Passou quase meio ano desde a nomeação de Tkatchev, muitas declarações foram dadas e muitas coisa foi feita. Quais delas foram positivas e quais foram negativas, na sua opinião?

— O resultado positivo foi que o orçamento agrícola para o ano que vem não foi cortado, apesar de todos entenderem que a situação é difícil. 99% do crédito por esse mérito é de Tkatchev, seu carisma, vontade de trabalhar e promover o setor.Ele conseguiu levar às autoridades do país o fato de que no decorrer dos últimos 5-6 anos a agricultura foi o único setor a ter um desenvolvimento ativo, crescendo a cada ano em 10-15%. E se nós continuarmos apoiando a agricultura seremos capazes de fazer mais um salto e até 2020 cumprir todas as metas em termos de seguranças alimentar e substituição de importações. Ele foi apoiado. Creio que esta é uma vitória de todos os produtores agrícolas, não importando o seu tamanho.

- A última entrevista do senhor à mídia russa aconteceu justamente após a Rússia ter aderido à Organização Mundial do Comércio (OMC). Naquela época o senhor deu algumas previsões bastante negativas. Desde então, elas foram revistas pelo senhor?

— Chegou o momento de rever os objetivos traçados durante a adesão à OMC. Nós cedemos o nosso mercado, em alguns casos determinamos condições para um período de cinco anos, enquanto em outros – indefinidamente. Em troca nos foi prometido o desenvolvimento das exportações com valor agregado. Posso dizer com certeza que em três anos nenhum país nos admitiu em seu mercado graças à OMC. Toda e qualquer pergunta sobre acesso ou, por exemplo, retirada de barreiras tarifárias, eramos recebidos com outra pergunta – o que vocês nos darão em troca? Enquanto nós já havíamos dado tudo. A Rússia não tem mais nada a oferecer nesse sentido. A criação pelos EUA e outros 10 países do Acordo de Parceria Econômica Estratégica Trans-Pacífico (TPSEP) e do acordo da UE com os EUA sem a participação da Rússia e da China também levanta a questão do sentido da participação da Rússia na OMC e no cumprimento dos compromissos assumidos nesses sentido.

- Recentemente Miratorg começou a fornecer carne bovina aos Emirados Árabes.

— Cuidamos dos Emirados Árabes pessoalmente: alcançamos a licença de exportação para esse país através de contatos próprios. Nesse caso até o ministério da Agricultura teve um papel secundário.

- A adesão à OMC não se mostrou vantajosa para a nossa agricultura?

— Para qualquer produtor russo, não apenas na agricultura, trata-se de uma organização prejudicial.

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- Mas não é possível entrar e depois sair?

— Só falta a vontade. Antes nós estávamos o tempo todo voltados para os EUA e a Europa, éramos abertos, éramos parceiros. Mas o que foi que esses parceiros fizeram conosco? Introduziram sanções, necessidade de impressões digitais para conseguir visto para a UE e, pelo visto, isto é apenas o começo. Mas nós precisamos defender os interesses econômicos próprios da Rússia. Ainda na época, há três anos, dissemos que a adesão à OMC representava a perda da independência econômica da Rússia. Agora, para fazer qualquer coisa no sentido de proteger o próprio mercado, nós precisamos recorrer a instrumentos técnicos, pelo fato de tudo já estar assinado e acordado. É preciso promover uma revisão e resolver esta questão.

- Mas a OMC é apenas um capítulo. Depois, no início de 2014, teve o veto à importação de carne suína da Europa e dos EUA, seguido de embargo alimentar em agosto de 2014. Isso não chegou a compensar o efeito negativo da adesão à OMC?

— O embargo pode ser levantado a qualquer momento e, do ponto de vista dos negócios, ele não serve de pretexto para a adoção de decisões relativas aos investimentos. Os meus projetos se pagam em oito anos, e eu preciso saber que durante esse tempo as regras do jogo serão claras e precisas. Elas incluem muitas variáveis, incluindo defesa de interesses do país e de produtores nacionais.

Nos últimos três anos a carne bovina encareceu em mais de 70% no mercado mundial. Além disso o rublo desvalorizou em duas vezes. Sim, temos importação, mas quem irá comprá-la? Atualmente nós não estamos ganhando nada com as importações, já que nos deparamos com o poder de compra da população.

Para fazer com que a população consuma produtos de qualidade com preços aceitáveis é preciso desenvolver a produção nacional. Isso já foi dito inúmeras vezes.

- E a relação da Rússia com a China?

— São puros interesses econômicos. É de nosso interesse fornecer carne para a China, mas o mesmo não vale para a criação de projetos conjuntos com os chineses, já que nós mesmos somos capazes de atrair recursos e realizá-los por conta própria.

- Existe a opinião de que os chineses são justamente bons para trabalhar em projetos conjuntos – eles conhecem o próprio mercado e entendem a psicologia do próprio país.

— Uma total mentira. Tudo é absolutamente pragmático: é preciso obter acesso ao mercado chinês para que haja simetria no comércio, já que atualmente, no caso da própria carne suína, existem quatro empresas chinesas fornecendo produtos para o mercado russo, enquanto nós não conseguimos entrar com nenhuma empresa no mercado chinês. Eles exigem que haja certificação, assim como no Japão e nas Filipinas. É aí que precisamos de apoio estatal – do governo, do ministério da Agricultura, do ministério do Desenvolvimento Econômico.

- Explique melhor esta exigência.

— Ele pedem garantias de que os nossos produtos sejam seguros em termos de epizootia. Nós sempre falamos: é preciso por em ordem na Rússia a situação com a Peste Suína Africana (PSA), a febre aftosa, a brucelose, e assim por diante. A nossa pecuária está se desenvolvendo, mas o nosso serviço veterinário, infelizmente, foi repartido por regiões em 86 departamentos – uma grande confusão.

- Então as reivindicações chinesas têm seu fundamento?

— Em parte, sim. Apesar de os chineses terem os mesmos problemas. No entanto, a Rússia abriu o seu mercado para eles.

- E por que a Rússia não pode fechá-lo, para pressionar os chineses?

— Boa pergunta – é o que precisa ser feito, é preciso que haja um comércio mútuo. O Irã teve parte de suas empresas admitidas ao mercado russo. Por que as empresas russas não foram admitidas no mercado iraniano? Antes das sanções, o mercado russo era aberto para uma grande quantidade de empresas europeias. Mas quantas empresas russas tinham acesso à UE? Cinco ou seis, no máximo. Suas taxas são dezenas de vezes maiores, suas quotas menores, e o nosso mercado – aberto. Não existe um outro país com mercado tão aberto quanto o da Rússia.

- E por que a Rússia é aberta para todos, mas tem tanta dificuldade em conseguir mercados para si?

— É uma pergunta para as autoridades. Elas devem entender que tudo o que é importação é ruim, e tudo o que é produção própria é bom. Nos anos 1990 diziam: "Pra que ter produção própria de aves, quando os norte-americanos podem nos alimentar?" – essa é a lógica.

- E alimentaram?

— Alimentaram tanto que destruíram o que havia sobrado da agricultura da União Soviética. Em seguida, de uma hora para outra, descobriu-se que eles podem cortar tudo isso. Mas e o povo, vai comer o que?

- Mas agora a Rússia consegue suprir quase totalmente a própria demanda por carne de aves.

— Porque em 2014 foram introduziram quotas e restrições, foram criados subsídios para projetos nacionais e programas estatais. Tivemos uma série de instrumentos que são usados até hoje. Nos últimos três anos os preços da carne de aves praticamente não subiram, vindo a aumentar em 20-30% somente a partir de 2015. E por que? Porque temos nossa própria produção. E teríamos a mesma situação com a carne suína se tivéssemos 90-95% de produção própria. E o mesmo vale para a carne bovina.

- O veto às importações de carne da Europa e dos EUA trouxe seus benefícios? Ou foi mais prejudicial?

— Como importadores nós certamente perdemos. Nós importávamos carne do Brasil, mas os brasileiros aumentaram instantaneamente seus preços em 40-50%. Mas isso foi coisa do momento. Os preços foram parcialmente baixados, apesar de continuarem altos. No entanto, o Brasil ainda teve o fator da desvalorização do real: se um ano atrás o dólar valia 1,6-1,8 reais, agora ele vale 3,9. Hoje, eles têm a oportunidade de oferecer preços aceitáveis, compensar as perdas dos importadores com a desvalorização.

No entanto, atualmente, nós não ganhamos quase nada com as carnes suína e bovina. O nosso objetivo é de não aumentar a parcela das importações, mas de simplesmente mantê-la. Em 2015 ela deverá representar cerca de 10% do nosso volume total de negócios.

-  A Miratog tem planos para expandir suas instalações? Como decorre a compra de novas terras na Rússia?

— É um trabalho constante. Nos anos 1990 teve início a privatização dos kolkhozes (fazendas coletivas da União Soviética), e a propriedade estatal foi repartida. Àquela altura, para evitar especulações e proteger os interesses dos acionistas, foram criados os chamados acionistas (titulares?) de referência. São justamente eles que cuidam das vendas dos terrenos. O processo leva no mínimo um ano. É um mercado cinza (paralelo), pouco eficiente. No início de setembro nós apresentamos ao ministério da Agricultura uma proposta para alterar esses sistema. É possível que o projeto seja apoiado.

- O que você  pensa sobre a ideia de proibir a posse de terras na Rússia para beneficiários estrangeiros?

— É preciso limitar, porque em geral não se trata de investimentos de longo prazo.

- Existem vários outros exemplos – Black Earth Farming (BEF) e outras empresas.

— A BEF não havia dado um passo sequer para trabalhar ou tratar suas terras, até ser pressionada pelos governadores das regiões onde essas terras haviam sido compradas. Quem mais?

- O maior acionista da empresa Ekoniva é um alemão – Stefan Duerr.

— É a única exceção. Qual é o peso dos investimentos com posse de terra estrangeira? 1-2-3% do volume total? Não digo isso porque a BEF ou alguém mais esteja criando concorrência. É que, pelas estatísticas, os investimentos estrangeiros não passam de simples investimentos em terras, para especular e depois largar. Há exceções, mas estas podem ser contadas nos dedos.

- Talvez seja assim porque eles simplesmente não se arriscam?

— Entenda uma coisa, o objetivo deles é de chegar, comprar e num dado momento vender com lucro. E eles não estão nem aí para que terras sejam estas, se elas serão férteis por 10, 20, 30 ou 40 anos. O mesmo acontece com a ideia de alugar terras aos chineses por períodos de 49 anos. Eu estive na China, eu vi o estado de suas terras. Eles usam quatro vezes mais fertilizantes por hectare do que os russos. Ali, a situação com a ecologia é bem difícil. Você quer ter o mesmo no Extremo Oriente e na parte central da Rússia? Eu não quero.

- Vocês empregam funcionários estrangeiros, no caso, cowboys norte-americanos. Qual a função deles?

— Os cowboys russos não têm competência suficiente. Atualmente nós temos 52 fazendas. Daqui a três anos serão 85. Atualmente só temos 12 cowboys, enquanto os funcionários russos são mais de 1000. É preciso instruí-los. O período de crescimento dos animais é muito longo: são nove meses de gestação, mais 16-18 meses até o abate. Ou seja, mais de dois anos. Portanto, o processo de instrução é igualmente muito demorado e precisamos usar cowbows americanos para isso.

- Estes cowbows possuem alguma educação específica?

— Muitos deles já são cowboys de quarta geração.

- O que eles sabem fazer a mais em relação aos veterinários e técnicos russos?

— Fertilizar de vacas, laçar touros, definir o estado de saúde dos animais, abatê-los e curá-los.

- Como isso era feito antes deles?

— A Rússia sempre teve rebanhos leiteiros, que ficam presos durante o inverno. Já os bovinos de corte passam o ano ao ar livre. Isso tem suas vantagens, mas existem algumas especificidades: é preciso saber como lidar com esse tipo de rebanho. É para isso que empregamos os cowboys. Eu os teria dispensado com maior prazer. Se tivéssemos parado no primeiro projeto, hoje eles seriam 4-5. Todos falam sobre esses cowboys americanos, mas a questão é muito simples. Na suinocultura nós também tínhamos 10 estrangeiros, mas hoje só temos um.

- Quanto vocês pagam por esses cowbows americanos?

— Duas vezes mais do que nos EUA, senão eles não teriam vindo para a Rússia.

- Seus salários são vinculados à taxa de câmbio do dólar?

— Claro.

- Porque vocês começaram a trabalhar com gado leiteiro e quais são os seus planos?

— Nós nunca enxergamos a pecuária leiteira como uma área estratégica. Acontece que nós compramos 12 mil hectares de terras que vieram acompanhados de uma fazenda leiteira. Após seis meses colocamos as coisas em ordem e agora podemos dizer que o negócio leiteiro está sendo rentável. De agora em diante, se nos depararmos com ativos com terras em excesso, iremos comprá-los. E, assim que atingirmos uma massa crítica de produção de leite, estudaremos a questão de seu processamento.

- Qual seria essa massa crítica?

— Se não me engano, cerca de 7000 vacas. Hoje nós temos 1000.

- Uma boa rentabilidade seria de quanto?

— Não estou pronto para responder a isso, mas posso dizer com certeza que o nosso projeto leiteiro não gera prejuízos. Teremos pelo menos 15-20%.

- Isso é mais do que a média dos produtores leiteiros.

— Exatamente. Existem cerca de 9 milhões de vacas na Rússia, dos quais 4,5 milhões são de espécies ruins, pouco produtivas, que rendem anualmente 4 toneladas de leite por vaca. As demais, modernas, produzem 8-9 toneladas por ano, tendo uma relação normal de custo-benefício. Se o processo for organizado direito, sem roubalheira, é possível gerar lucros. Atualmente, o preço do leite na Rússia é de 23-25 rublos (1,38 — 1,50 reais) por litro – mais do que o suficiente.

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