Especialista: Só a Justiça da Venezuela poderá dizer quem matou Luis Manuel Díaz

© AFP 2023 / JUAN BARRETO / AFPOposição venezuelana
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A morte do político venezuelano Luis Manuel Díaz, no fim de novembro, repercutiu em todo o mundo e provocou ataques ao Governo de Nicolás Maduro. O especialista M. A. Gandásegui, hijo comentou o assunto afirmando que “são as autoridades do país que têm de determinar, com as provas em mãos, os fatores que desencadearam o incidente”.

Opositor ao Governo de Nicolás Maduro, o político venezuelano Luis Manuel Díaz foi assassinado na noite de quarta-feira, 25 de novembro, ao ser atingido por tiros disparados de um carro em movimento enquanto participava de um ato de campanha na cidade de Altagracia de Orituco, Estado de Guárico. Junto com Díaz estava a esposa do líder opositor Leopoldo López, Lilian Tintori, que acusou o Governo de tentar matá-la.

O crime provocou intensa repercussão em todo o mundo. Enquanto membros da Unasul criticaram a violência, na Europa e nos Estados Unidos as reações foram muito intensas contra o Governo de Nicolás Maduro, já que para eles é inevitável associar o assassinato de Luis Manuel Díaz às eleições legislativas da Venezuela, no domingo, 6 de dezembro.

Nos Estados Unidos, o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby, declarou que os fatos estão vinculados, o que provocou pronta reação do Governo da Venezuela. Enquanto o Presidente Nicolás Maduro dizia que a morte de Díaz era um “acerto de gangues”, a ministra do Exterior, Delcy Rodríguez, considerou as declarações de John Kirby “insolentes, falsas e ingerentes na política interna venezuelana”.

Sobre estes fatos, o jornalista, cientista político e pesquisador da Universidade do Panamá, Marco A. Gandásegui, hijo, afirmou que só a Justiça da Venezuela poderá dizer quem matou Luis Manuel Díaz.

A seguir, a entrevista com o cientista político panamenho.

Sputnik: O assassinato de Luis Manuel Díaz na Venezuela é um fato político ou estritamente criminal?

Marco Antonio Gandásegui, hijo: Não tenho elementos para fazer um juízo sobre esta questão em particular. São as autoridades venezuelanas que têm de determinar – com as provas em mãos – os fatores que desencadearam este incidente. Tudo indica que alguns países – particularmente os Estados Unidos – têm interesse em converter este crime numa ferramenta para a sua campanha de desprestígio e demonização do Governo da Venezuela. Os meios de comunicação no mundo, controlados pelas redes a serviço dos Estados Unidos, só reproduzem a informação divulgada pelos encarregados da propaganda através das agências noticiosas. No caso do Panamá, é uma campanha diária permanente contra o Governo venezuelano.

S: Segundo o Presidente Nicolás Maduro, o assassinato de Díaz é um acerto de gangues, uma vez que a vítima tem histórico de envolvimento em fatos criminais. Qual a sua visão sobre estes argumentos?

MAGh: O Presidente Nicolás Maduro seguramente deixará nas mãos da Justiça venezuelana a investigação sobre este crime. Quando este processo terminar, serão conhecidos os motivos do assassinato de Luis Manuel Díaz e os seus autores. A morte de Díaz pode ser o resultado de uma guerra econômica pelo controle de empresas ou pode ser o resultado de uma vingança política de seus “aliados acidentais” na atual campanha eleitoral venezuelana.

S: O que pensa sobre a reação na Europa e nos Estados Unidos à morte de Luis Manuel Díaz?

MAGh: Os Estados Unidos colocaram em marcha a sua máquina propagandística para responsabilizar a Revolução Bolivariana por um crime do qual ela está inteiramente alheia. Washington utiliza esta tática historicamente. Em casos políticos, a história latino-americana está cheia de notícias pontuadas por agentes secretos dos Estados Unidos. Há 50 anos, aconteceu na República Dominicana com Juan Bosch, e com João Goulart no Brasil; há 40 anos, no Chile, com Salvador Allende; há 25 anos, com Noriega no Panamá; há 10 anos, mais ou menos, com Zelaya em Honduras. Maduro e seus colaboradores precisam se preocupar porque podem ser alvos de magnicídios [assassinatos de pessoas ilustres], táticas comuns que fazem parte do arsenal da política do Governo norte-americano. O século XX foi testemunha do terrorismo seleto dos Estados Unidos com as mortes de Zapata, Sandino, Guevara, Allende e Torrijos.

S: A ministra do Exterior da Venezuela, Delcy Rodríguez, reagiu de forma veemente ao porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby, que viu uma forte vinculação entre a morte do opositor e as eleições legislativas da Venezuela no domingo, 6 de dezembro. Para Delcy Rodríguez, são afirmações falsas, insolentes e ingerentes na política interna venezuelana. O que pensa sobre a reação da ministra?

MAGh: A política interna e externa dos Estados Unidos prenuncia, nestes momentos, uma estratégia global que faz recrudescer as táticas tradicionais daquele país. Barack Obama anunciou há alguns anos uma nova política, por parte dos Estados Unidos, de mudanças de regimes “suaves ou inteligentes”. No caso da Venezuela, a política de Obama para este país tem sido sistematicamente dura e brutal.

S: A esposa do líder opositor Leopoldo López, Lilian Tintori, que participava do ato no qual Luis Manuel Díaz foi morto, disse que o atentado era contra ela e que várias tentativas vêm sendo feitas para assassiná-la, já que ela está em plena campanha mundial pela libertação do marido. O que diz dos argumentos de Lilian Tintori?

MAGh: Não conheço Lilian Tintori nem sei quais são as suas filiações políticas. Já em relação ao seu esposo, a sua filiação política é muito conhecida na Venezuela. Leopoldo López pertence a uma corrente política de extrema direita que não comunga com os sociais-cristãos nem com os democratas-cristãos. López declarou guerra até a morte aos seguidores do chavismo. Durante os protestos realizados há poucos anos por grupos radicais nas ruas de Caracas e de outras cidades venezuelanas, Leopoldo López era encarregado de organizar emboscadas que custaram a vida de dezenas de pessoas inocentes. López é vinculado a organizações pertencentes à extrema direita do Partido Republicano dos Estados Unidos.

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