Nos três primeiros anos de vigência do Fundo Amazônia, gerido pelo BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, a Noruega e a Alemanha transferiram para aquele instrumento de preservação cerca de 1 bilhão de dólares.
O Fundo Amazônia foi criado para premiar países que, como o Brasil, evitam emissões de gases de efeito estufa por desmatamento de suas florestas.
A propósito, também nos primeiros dias da COP 21, a Ministra Izabella Teixeira afirmou que “o Brasil cumprirá a meta de redução na emissão de gases do efeito estufa para 2020, mesmo que a produção de CO2 [gás carbônico] volte a crescer e esteja em ascensão naquele ano”.
Sobre estas questões, Sputnik Brasil ouviu o especialista David Zee, professor de Engenharia Ambiental e Oceanografia da UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Ele elogia a preocupação do Brasil com a contenção das emissões de gases do efeito estufa e também pela vigilância das autoridades e setores competentes para que o desmatamento não avance no país.
David Zee: Nos últimos anos, realmente, o Brasil demonstrou uma firme vontade de recuperar ou minimizar as queimadas da Amazônia, o que é uma coisa muito importante. O país, apesar de ter fontes alternativas como a hidrelétrica (80% da nossa produção de energia), ainda está jogando muito carbono na atmosfera, devido às queimadas e ao desflorestamento da Amazônia. Nos últimos anos o Brasil tem demonstrado interesse e um esforço bastante significativo no sentido de minimizar essa devastação da floresta amazônica. Ao mesmo tempo nós percebemos uma firme vontade e uma cooperação de países desenvolvidos que, infelizmente, já não têm as florestas de antes, mas que dependem – o planeta depende – das florestas ainda em pé, resistentes, o que é o caso da Amazônia. É uma parceria extremamente positiva, benéfica para o planeta, a dos recursos que vêm dos países desenvolvidos e o esforço do Brasil em fazer esse não desflorestamento. Daí a importância deste acordo que o Brasil fechou. O simples fato de ter uma prorrogação, uma renovação deste acordo mostra que os países desenvolvidos, que são bons fiscais, percebem e reconhecem este esforço do Brasil – daí a renovação dessa concessão de empréstimo a fundo perdido. E o Brasil está fazendo por onde.
DZ: Na verdade, a população do planeta não para de crescer, e toda pessoa que nasce demanda recurso natural, demanda energia, daí o crescimento desse consumo. Ao mesmo tempo vemos esse esforço e essa significativa mudança de atitude, percebemos hoje que nossos governantes saíram efetivamente do discurso para a prática. Além do discurso, tanto o Brasil quanto os países desenvolvidos como a Alemanha e a Noruega saíram para a prática da boa gestão ambiental. Por um lado, um país rico financiando, uma vez que tem esses recursos mas não tem mais os recursos naturais porque as suas florestas já foram devastadas, e por outro lado um país em desenvolvimento como o Brasil, que precisa de recurso e de esse recurso ser efetivamente aplicado para a não retirada da mata amazônica, que é uma prática real. Saímos do discurso e estamos entrando na prática. Esta é a grande transformação, a grande mudança que percebemos nos últimos 10 anos.
DZ: Nossa expectativa é ter mais avanço, uma vez que nesta reunião foi expressiva e única a frequência de praticamente todos os governantes dos principais países do mundo quanto a esta questão da governança ambiental do planeta. Para que o planeta consiga se salvar, não adianta um ou outro país ter esta postura, mas sim a grande maioria. A simples presença dos principais mandatários desses países nesta COP 21 nos enche da esperança de que iremos mudar de postura. Acredito que nos próximos 30, 40 anos, até 2050, muitos progressos vão acontecer nesse campo e viabilizar o planeta. Na verdade, não é o planeta que precisa ser salvo, nós é que precisamos ser salvos de nós mesmos.