Casa Rosada explica por que Cristina Kirchner não passa a faixa presidencial a Macri

ENTREVISTA COM JOÃO CLAUDIO PITILLO 2 DE 09-12-15
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O Cerimonial da Casa Rosada e a assessoria da Presidente Cristina Kirchner esclareceram os rumores de que ela teria se recusado a transmitir pessoalmente o cargo e a faixa presidencial para o presidente eleito, Mauricio Macri, nesta quinta-feira, dia 10.
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Segundo um dos assessores mais próximos da presidente, “Cristina cometeria um crime contra a Constituição da Argentina se permanecesse nas funções presidenciais além do que determina a lei maior do país, ainda que o seu objetivo fosse meramente protocolar, ou seja, a transmissão do cargo”.
Assim, a Argentina ficará sem um presidente formal entre as 23h59min da quarta-feira, 9, e as 12 horas da quinta-feira, 10. Isto porque o mandato de Cristina Kirchner termina nesta quarta, precisamente às 23h59min, e Mauricio Macri, tem a posse no cargo marcada para o meio-dia da quinta-feira.

João Cláudio Pitillo, pesquisador do Núcleo das Américas da UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro e especialista em políticas latino-americanas, comenta o fato de que “essa questão da entrega da faixa presidencial, mais do que um enlace burocrático, parece ser uma pretensão do presidente eleito Macri, ou um capricho, porque desde que os Kirchner subiram ao poder, começando com Néstor, existiu o hábito de se passar a faixa no Congresso Nacional. Isto foi um hábito criado por eles”.
João Cláudio Pitillo explica:

“Macri já tinha manifestado seu desejo de receber a faixa na Casa Rosada, e queria que ela fosse entregue pela presidente. Ele até brincou, dizendo que os fotógrafos iriam se acotovelar para ver quem iria fazer aquela foto. Esse deboche mexeu com a Presidente Cristina Kirchner, que, óbvio, não quer passar por esse constrangimento, já que o passar de faixa se transformou em algo a ser tripudiado. Então, ela usou essa questão do hiato de algumas horas como um motivo para não entregar a faixa. Macri, em contrapartida, acionou a Justiça, querendo destituir Cristina do cargo a partir de meio-dia desta quarta-feira, para que a palavra final dela não tivesse valor na decisão de onde seria a posse do novo presidente.”

Sobre esse hiato entre a saída de Cristina Kirchner e a posse de Mauricio Macri, o Professor Pitillo diz que não há nenhum problema:

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“Não há nenhuma ameaça ao país. A Argentina não está em guerra nem sendo ameaçada, e existe o Congresso, que pode facilmente tomar as rédeas do país nesse período. O que me chama a atenção é o deboche de Macri usando uma coisa tão pequena. Não vejo com bons olhos essa postura no momento em que ele se torna presidente da República e passa a ter uma grandeza maior, e esta prática não condiz com o cargo de presidente.”

Finalmente, o Professor Pitillo diz que, “apesar de ter perdido a eleição, a Presidente Cristina Kirchner não é carta fora do baralho na política argentina. É uma pessoa que sai do Governo com uma responsabilidade muito grande, porque se tornou uma liderança não só latino-americana mas mundial. Ela passou a ser respeitada em muitos lugares do mundo pelo seu enfrentamento contra os fundos abutres e, na América Latina, na luta pela democratização dos meios de comunicação. Ela continuará bordeando o processo político argentino. E ela e seu grupo são candidatos à Presidência da Argentina daqui a quatro anos”.
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