O Ministro Levy disse não querer criar constrangimentos para o Governo, mas afirmou que o ano legislativo está se encerrando e isso abre caminho para muitas alternativas. Ele afirmou ainda que é preciso ter clareza sobre as prioridades em relação às demandas do Governo, sobre a presidente, e que a decisão vai se dar a partir disso.
As especulações sobre a possível saída do ministro da Fazenda se intensificaram após o Governo decidir reduzir a meta de superávit primário, a economia para pagar os juros da dívida, de 2016, para 0,5% do PIB – Produto Interno Bruto. Essa decisão teria contrariado o ministro, pois ele queria manter a meta de 0,7% do PIB para garantir a retomada da confiança no Brasil, e a estabilidade necessária para a retomada do crescimento econômico.
Ao ser questionado se ele se sentia traído por não ter conseguido colocar em prática, ao longo do ano, os projetos pretendidos para o ajuste fiscal, Joaquim Levy disse apenas que se sentia decepcionado pelo fato de que as principais medidas de aumento da justiça tributária, da progressividade do Imposto de Renda, não tenham tido pleno curso.
Levy fez um balanço de algumas derrotas que sofreu e de algumas propostas para a economia que não foram bem sucedidas, mas ressaltou a necessidade de união do Congresso para criar receitas a fim de ajudar o Governo a fechar as contas, diante do Orçamento aprovado.
“O Congresso sinalizou a expectativa da CPMF. Eu incluí essa receita no Orçamento. Além disso, é muito importante que haja uma coerência entre a meta de superávit aprovada pelo Congresso, sem nenhum abatimento, e a disponibilização de receitas, pelo próprio Congresso, para poder se executar este Orçamento. Evidentemente, o Congresso tem que dar os meios para o Executivo cumprir o orçamento aprovado. Eu acho que esse vai ser o trabalho do começo do ano, de se juntar o esforço para proporcionar todos os meios para o Governo poder executar o Orçamento com tranquilidade, com segurança, da maneira que a Presidenta Dilma quer, enquanto se avançam com as reformas, que são necessárias para manter o Brasil avançando.”
Apesar de ter passado por duras críticas ao longo do ano, Joaquim Levy se disse otimista, que acredita na recuperação do Brasil, porque o país é muito maior do que qualquer crise.
“Eu acho que a crise política cobrou um preço ao longo do ano, mas eu tenho a expectativa de que essa crise política diminua, principalmente porque cada vez mais a presidente sinaliza o que ela espera dos próximos três anos, o que o Brasil pode esperar nos próximos três anos. O Brasil é maior do que qualquer crise, a nossa economia está saudável. Obviamente está sob estresse, mas é saudável. A gente tem uma capacidade de resposta muito grande. Eu tenho certeza de que a medidas que já foram tomadas ao longo deste ano vão ter efeito – já estão tendo efeito. E se você fizer as reformas que são necessárias, como a reforma da Previdência, olhar alguns setores, dar mais flexibilidade, permitir que o setor privado tenha mais fôlego, essa resposta vai ser muito boa, até surpreender, porque, diminuídas as incertezas políticas – que eu acho que vão ser diminuídas –, a economia tem tudo para responder. O trabalho que tem sido feito ao longo desse ano vai continuar rendendo frutos por muito tempo, e na verdade será cada vez mais visível.”
Sobre os boatos da saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda quem falou foi o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner. De forma categórica, Wagner afirmou que as pessoas se enganam ao achar que quem banca a política econômica do Brasil é o ministro da Fazenda. Segundo o ministro-chefe da Casa Civil, esse papel é feito pela própria Presidenta Dilma Rousseff.
“Me parece que ele [Joaquim Levy] ontem teria se despedido, eu não sei se brincando ou falando a sério, mas de qualquer forma essa é uma decisão praticamente privada dela [a presidente] com ele. Eu não sei se eles terão algum encontro hoje. Quem banca a política econômica não é o ministro da Fazenda, quem banca a política econômica é a presidente da República, e ela convoca o ministro para cumprir. Evidentemente que discute com ele, mas se ilude quem aponta o fuzil para esse ou aquele ministro. Quem vai bancar a política econômica, quem decide, evidentemente, ouvindo outras pessoas, ouvindo o ministro, é ela. Quem bancou a questão do ajuste fiscal foi a Presidenta Dilma. Se agora ela entender que está na hora de não sair o ajuste, mas de modular o ajuste, aí é uma data pessoal dela.”
Jaques Wagner foi questionado se seria o momento de um ministro mais político para assumir o Ministério da Fazenda, já que Joaquim Levy seria considerado como um perfil mais técnico e que por isso mesmo tem sido criticado por alguns setores do Governo e pelo próprio Partido dos Trabalhadores, pelo fato de adotar medidas impopulares e sem conversar com o Congresso.
“Eu acho que quem tem que escolher o perfil é a presidenta da República”, afirmou Jaques Wagner. “Eu não gosto muito dessa separação político/técnico, porque eu digo sempre: um técnico puro que for um elefante em cristaleira em seis meses cria muito problema para o Governo. E uma seda entre cristais, que não resolva nada, não resolve a vida do Governo.”